Aldir Blanc (1946/2020) - Não se reduz um gigante

A morte de Aldir Blanc expõe uma faceta cruel de boa parte do público brasileiro: a falta de memória e lembranças seletivas.
Aldir estava um pouco esquecido do grande público consumidor de música e poesia há algum tempo e foi necessário uma pandemia causar seu adoecimento e  morte para que o “brazil” voltasse a falar nele.

Um dos letristas mais geniais da MPB, Aldir foi gravado por todo mundo que importa: Elis, Chico, Caetano, Milton... Mas foi com João Bosco que descobrimos de verdade sua arte e poesia.
Enquanto pipocam aqui e ali citações de “O Bêbado e a Equilibrista” como atestado de qualidade de sua obra, esconde-se pérolas como “Incompatibilidade de Gênios”, “A Nível De”, “Latin Lover”, “Miss Suéter”, “Gol Anulado”, “De Frente pro Crime” e tantas outras que mostram que Aldir era também um exímio cronista de gente. De tipos humanos.
Das classes mais baixas até classe média/alta e suas idiossincrasias.
Do conquistador barato à loira que já viveu seus melhores dias, passando pelo estereótipo do marido dominado e a busca de novas experiências para quebrar a rotina.

Claro que o aspecto político em sua obra foi (e é) importante para explicar e compreender uma época tão cascuda e cinza como o período em que surgiu para o país enquanto compositor, mas não é tudo.
Para cada “Jardins de Infância” denunciando torturas, havia um “Dois pra lá, dois pra cá”.
Para cada “Rancho da Goiabada”, um “Kid Cavaquinho” redentor...  E assim vai.
Não há como não politizar Aldir e sua obra, ainda mais nestes tempos esquisitos que estamos vivendo, mas é bom lembrar que não era só isso.
Ao mesmo tempo que não vamos fechar nossa janela de frente para o crime, vamos lembrar que o médico do compadre Anescar liberou tudo, até cerveja e cachaça, menos os frutos do mar.

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