Amar e mudar as coisas: 5 anos sem Belchior

A obra de Belchior é recheada de versos  inquietantes, mas uma em especial me chama a atenção há muitos anos:
“…Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do norte e vai morar na rua.”
O verso está incluso da letra de “Fotografia 3x4”, de seu disco Alucinação (1976) e conta dos perrengues que passou ao vir para o sudeste tentar a vida como artista fazendo alusão e dando uma resposta direta à canção do Caetano Veloso “Alegria, Alegria” (no verso: “...ela nem sabe eu até pensei em cantar na televisão, o sol é tão bonito...”) que denota uma certa vida mansa de Caetano ao fazer a mesma coisa anos antes.
Não diminui a obra do baiano, mas de certa forma - ao meu ver - engrandece a do cearense apaixonado e violento.
Curiosamente, depois que se foi, esperava-se que sua obra fosse revista e revalorizada tornando-se maior do que quando estava vivo.
Não teria sido ruim... Mas poderia ter sido feito enquanto estava vivo.
Nem em um tempo, nem em outro...

Aliás, enquanto vivo, ao menos nos últimos anos, Belchior só era lembrado em matérias que davam conta muito mais de seu sumiço, de suas dívidas do que por seu talento.
Obviamente, o artista deu motivos já que não movimentava sua obra com coisas inéditas há tempos, também não fazia shows e aparecia muito pouco em programas – tanto bons quanto ruins – de TV.
Mas foi reverenciado por bandas do quilate de Engenheiros do Hawaii (“Alucinação”, no disco Minuano (1997), Los Hermanos que sempre que podiam tocavam “A Palo Seco” e com os quais fez show conjunto onde ficou claro que era uma das influências dos cariocas barbudos.

A novíssima geração do rock brasileiro também prestou seu tributo.
The Baggios que regravou “Todo Sujo de Batom” para um disco organizado pelo jornalista Jorge Wagner chamado: Ainda Somos os Mesmos (2014) junto com outros nomes da cena indie nacional.

E até por Chico Anysio, que em apresentação no programa Senhor Brasil, de Rolando Boldrin na TV Cultura declamou “Galos Noites e Quintais” sob os olhos marejados e emocionados do próprio.
Mas que recuperem sua obra, que relancem seus discos para que não se esqueçam da qualidade monstruosa de seu trabalho.
Viva Belchior.


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