Estratosférica ao vivo: viva Gal

Gal Costa é um patrimônio da música brasileira.
Só esta frase já bastaria para definir a carreira desta baiana contemporânea de Caetano, Gil e Chico, mas é pouco.
Patrimônios costumam ser intocáveis e imutáveis, Gal se recusa a ficar estática.
E que bom!
Bom ainda termos Gal na ativa e lançando disco e fazendo shows e lançando discos destes shows.
Aqui não se trata do seu último de estúdio, o genial A Pele do Futuro, de 2018 que veio ao mundo pelas mãos do selo brasileiro que melhor cuida de seus produtos no país, a Biscoito Fino.
Também não se trata do registro ao vivo da turnê deste disco, A Pele do Futuro Ao vivo, que foi lançado este ano.
Mas de um disco de 2017 que trouxe a cantora de volta às gravações ao vivo de uma forma muito, mas muito corajosa e bonita: Estratosférica Ao Vivo.
Registro da turnê do disco de mesmo nome lançado em 2015.

O registro flagra  Gal Costa comemorando 70 (!) anos de idade e cinquenta de carreira, mas com a mesma vitalidade daquela cantora que registrou o antológico Fa-Tal – Gal a todo Vapor, de 1971.
E onde está a tal coragem?
Bem... O disco poderia ser feito com músicos de clássicos de MPB, que a despeito de todo talento que tem, reproduzem nota por nota as canções clássicas do repertório, mas não...
Produzido por Pupilo, da Nação Zumbi, que também comanda a bateria e tem ao seu lado Guilherme Monteiro na guitarra e violão, Fábio Sá no baixo e os teclados de Mauricio Fleury tem a pegada de uma banda de rock. Gal se nega a ser um medalhão acomodado e faz um show de rock!
Mas com a elegância, garbo, distinção que só a MPB tem.

E é rock mesmo que soa nas caixas de som quando a primeira faixa começa: “Sem medo nem esperança” tem um riff de guitarra lindo e uma levada quase hard rock que emoldura a voz cristalina e poderosa de Gal.
O clima segue com blues, baladas mpb, alguns sambas, mas tudo com a pegada e assinatura da banda que é reconhecível de longe.
Entre as faixas se encontra, claro, canções de Caetano Veloso, Wally Salomão, Antônio Cicero, Tom Zé na deliciosamente leve e descontraída “Namorinho de portão”, João Donato, Milton Nascimento em parceria com Criolo em “Dez anjos”, Roberto Carlos e Jorge Ben, entre outros.
A única inédita do disco é “Por um fio”, samba de autoria de Marcelo Camelo que, gostem ou não de Los Hermanos, é necessário aceitar que é um bom compositor.

O disco vem em uma embalagem digipack muito bem cuidada e bonita e conta com um livreto de doze páginas em papel nobre de muito bom gosto e qualidade. Coisa que só a Biscoito Fino tem feito por artistas brasileiros nos últimos tempos.

Se encontrar, tire o escorpião do bolso, o preconceito do coração e se emocione com pérolas do quilate de “Acauã”, a homenagem sincera à Luiz Melodia (de quem Gal era madrinha musical) em “Pérola negra”.
Pra quem confiar em mim eu digo: não vai se arrepender.

Comentários