Editorial Musique-se: Cultura, consumo e direitos nas mãos de gente que não entende de nada disso

A imagem que circula desde ontem na internet e traz artistas ligados à cena sertaneja (mais especificamente ao nefasto rótulo “universitário”) e mais Dedé Santana, apropriadamente um trapalhão nesta questão, em visita ao presidente da vez para tentar conseguir que seja revista a lei da meia entrada em eventos culturais no país não chega a chocar.
Como diria Falcão: Ô Povo Fei....

Não é a primeira vez que este povo em especial recorre à um presidente da república contra o beneficio destinado à estudantes, idosos, profissionais da educação (desde que comprovando) e pessoas com deficiências.
Segundo eles, a lei é “absurda” e atrapalha demais a montagem, execução e manutenção de espetáculos no país derrubando a arrecadação.
Não é verdade e nem nunca foi.
O custo dos ingressos no país é algo realmente fora do eixo chegando, em alguns espetáculos, a coisa de mais de meio salário mínimo. O que provavelmente, sem a meia entrada, tornaria inviável para muita gente.
Gente, aliás, que é publico predominante nas apresentações deste grupo.

Porém, o que está pegando para as esquerdas, novamente de forma errada, é o fato deste grupo demonstrar publicamente apoio ao governo do cidadão que porta a faixa desta feita.
O grupo de artistas ligados a este seguimento tem um histórico longo de apoio às direitas no país.
Desde Don & Ravel que acabaram como porta vozes dos governos de exceção durante a ditatura militar (quem não se lembra de “Eu Te Amo Meu Brasil” ou “Obrigado ao Homem do Campo”?), passando pelos que se apresentavam regularmente na Casa da Dinda durante o governo Fernando Collor.
O que, em principio fundamentalmente democrático, é direito deles.
Por pior que seja e está sendo bem ruim (principalmente no que tange a cultura e educação, diga-se) este bando foi eleito democraticamente, então, mais do que normal que tenha gente que os apoie e defenda.
Nós que não defendemos e nem apoiamos, vamos dando nossas pedradas para desestabilizar, mas é sempre bom ter em mente que isso faz parte do jogo democrático e que não deve dividir com fissuras tão profundas o país.
Eles passam, a gente vai ficando.

O que pega, de verdade, é o alinhamento deles contra algo que, fundamentalmente, visa viabilizar e democratizar o acesso à cultura e lazer no país.
Cultura que, oficialmente, é o que dizem eles estar promovendo.
Como disse lá em cima, é por conta da lei da meia entrada que ainda há público para muitos eventos, não só dos sertanejos aliás.
Só não digo que estão em busca do machado para cortar fora a cabeça da galinha dos ovos de ouro (porque ninguém vive de venda de discos ou dvds, é nos shows que está o dinheiro) por que como sabe-se, são em sua maioria bancados (ou alaranjados) pelas grandes industrias do agronegócio.
Quando não são os proprietários do agronegócio...

Agora, o que realmente espanta é a monumental passada de pano para essa gente que os próprios consumidores estão dando.
Por menos que isso já tentaram minar carreiras e cancelar biografias gigantescas como Chico Buarque, Caetano, Lobão e de gente do esporte, por exemplo.
Quanto a estes, nem um pio, nem uma manifestação pública de rede social (que no fundo não adiante e nem vale grande coisa), nada... Os caras estão publicamente indo acabar com um direito e ninguém se manifesta.

Ao passo que basta uma matéria sobre a força das mulheres na cena rock/metal atual com citação a grupos como o Nervosa, por exemplo, que alia seu som agressivo com fortes criticas sociais e políticas para que tipos dos mais variados (roqueiros homens ou não) apareçam rangendo os dentes e babando de ódio machista travestido de defensor sabe-se lá do que...
Nervosa: potência, técnica, peso, política e alvo de gente tonta.

O que nos tornamos? O que ainda nos tornaremos?
E quanto tempo vai demorar para por tudo nos trilhos quando estes tempos bicudos passarem?

Comentários