Escória: O baile do Baleiro soltando faísca e dando porrada

Já está disponível nas plataformas de streaming um EP de marchas carnavalescas compostas e gravadas por Zeca Baleiro.
Até aí, você pode pensar: “-Zeca é artista multifacetado, não tem nada de mais que ele grave marchinhas de carnaval...”
É... não tem.
Porém, este disquinho de exatos 8 minutos e 58 segundos intitulado muito apropriadamente de Escória (Saravá Discos/One RPM) é um petardo!

Sozinho, faz mais critica ao atual momento político do país do que todos os jornais e partidos de oposição juntos.
Sem papas na língua e sem meias palavras: Na lata!
Zeca, que já se posicionava contra o atual governo desde o período da campanha, bate pesado em letras explicitas que, acredite, não precisam citar nomes para que a gente saiba exatamente de quem ele fala.
Então tome porrada nos atuais responsáveis pela cultura no país, passando pelos hipócritas travestidos de religiosos que usam sua suposta fé como escudo para disseminar os mais odiosos preconceitos, apoiadores do atual presidente e, claro, o próprio.

A faixa título é a maior porrada e é desferida logo de cara e na cara: “Escória/Escória, nem fudendo vocês vão conseguir entrar pra história”
O ritmo carnavalesco empolgante tem sopros que remetem ao frevo pernambucano e vaticina: “Não vai crescer nem capim sobre vossa sepultura.”
Assim esperamos.

Em “Você não quer dividir o avião” que dá um tapa sem luva de pelica nos preconceituosos novos ricos “evangélicos”:
“Porque fala em Cristo se age como um fariseu?” diz a letra.

O rojão “Babaca Mané” que fecha o EP defende com unhas e dentes Martinho da Vila e Fernanda Montenegro que foram, em um momento ou outro ofendidos pelos imbecis que infestam as redes sociais todos valentes atrás de seus anonimatos.
De quebra ainda cita Cazuza e Frejat parafraseando o “Blues da Piedade”: “Como pedir piedade para essa gente careta e covarde?”

Ainda sobra espaço para homenagear os Titãs com “Bichos Escrotos II”, uma sequência digna para a canção do disco Cabeça Dinossauro, só que ao invés de citar os bichinhos fofinhos, sobram palavrões e xingamentos ao povo invejoso e preconceituoso que saiu pela tampa aberta de algum esgoto liderados pelo rei porco que está nu chafurdando na lama.
E manda: “e tome pau no cu dessa canalha”, avisando que nossa vingança vai ser de doer, porque ainda vamos dançar, cantar e amar e ser felizes como eles nunca vão poder ser.

Há muito tempo o dedo de um compositor não apontava para a cara dos problemas com tanto vigor, com tanta eloquência e energia.
Zeca trouxe, tudo em ritmo de festa, aquilo que a gente tem muita vontade de gritar, mas não sabe muito bem como dizer.
Agora ele corajosamente nos mostrou o caminho, vamos lá?

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