Filme + Trilha: O papel da trilha sonora em uma película

Está lá na definição: trilha sonora é uma música que compõe ou alimenta um outro objeto ou ambiente artístico com o intuito de sublinhar, fortalecer ou afirmar sensações humanas.
Esse outro objeto pode ser uma dança, um filme, um desenho animado. A dramaticidade é colocada concomitantemente com algum som, extrapolando os limites da emoção.

Produzir uma película sempre exigiu, desde o começo do cinema, um som. Aqueles primeiros longas eram mudos e contava com um importante elemento para fazer funcionar com o telespectador: um músico na sala de cinema tocando algo que dando ritmo musical às aventuras projetadas na grande tela. 
Eu sei que todos agora pensaram nos sons dos filmes do grande Charles Chaplin e nas orquestras que acompanhavam as suas cenas.


Filmes grandiosos tinham atores e atrizes que soubessem cantar e dançar, especialmente nas décadas de 20 à 50. É o caso de "O Mágico de Oz"(1939), "Dançando na Chuva"(1952), e as animações da Disney. Quem nunca cantarolou "Over the Rainbow" na infância ou quando choveu, simulou a dança de Gene Kelly com um guarda chuva? Os filmes da Disney sempre tiveram princesas e personagens  cantantes. Música e cinema são um casal feliz à décadas. 

Há um livro intitulado "Almanaque da Música Pop no Cinema" de Rodrigo Rodrigues que, conta histórias e curiosidades das trilhas que marcaram gerações. Nele, há as trilhas mais conhecidas e presentes na cultura pop. Obviamente - como toda lista - pode ser que tenha escapado algum longa não citado ou não é possível encontrar nenhuma crítica específica dos filmes lançados após 2012 - data da publicação do almanaque. 

Na apresentação do almanaque, o autor já saca a justificativa: "não consigo conceber um filme sem trilha (...) É como o Gordo sem o Magro, Dean Martin sem Jerry Lewis, os Monty Python sem o humor infame."
E está errado?
O arrebatamento de assistir à um filme cuja experiência visual é deslumbrante com músicas alegres ou uma história emocionante regada à uma tocante canção... Cantarolar com um ator em cena e até se emocionar é colocar a música certa no momento certo, potencializando e muito a sua experiência cinematográfica. 

Filmes de super-heróis estão explorando cada vez mais uma trilha sonora apurada com grandes nomes e seus grandes sucessos da indústria fonográfica. É um bom jeito de ambientar a nova geração ao conhecimento destes sons que, se dependesse deles mesmos procurarem por si, poderia nem acontecer. Um dos exemplos mais interessantes e encaixados foi o primeiro filme de "O Guardiões da Galáxia"(2014), cuja referência aos anos 60 e 70 em termos de música está ainda na foto de uma fita k7 amarelada num toca fitas bem antigo (referente também ao presente que o personagem principal recebe da sua falecida mãe).



Para os nostálgicos, mas músicas foram lançadas em fita cassete mesmo, conforme diz essa matéria do Adoro Cinema. A lista das músicas para ouvir pode ser conferido neste link
Em alguns ou outros casos, os jovens músicos tem sacado versões de sucessos clássicos e aparecem nos filmes populares entre a garotada mais verdinha: pode ser o caso de citar o "Esquadrão Suicida" (2016) como exemplo. Lá podemos encontrar "Bohemian Rhapsody" do Queen cantada pelo Panic! At The Disco e "I Started a Joke" de Bee Gees interpretada ali por ConfidentialMX (feat. Becky Hanson). Está certo que não é lá um primor de reproduções, mas vocês entenderam meu ponto. Novas bandas ou cantores aproximam a geração atual daquilo que precisam conhecer. 

Já que mencionamos o Queen e a canção "Bohemian Rhapsody", temos aqui uma das toadas da indústria cinematográfica recente: filmes sobre bandas, suas próprias histórias em recortes específicos ou sendo usadas como pano de fundo para uma narrativa, e ainda longas sobre músicos icônicos, famosos que tem muito para contar. As produtoras conseguiram resgatar a fórmula de contar histórias de músicos/bandas. Era o melhor jeito de dar sentido à uma imagem com a própria música daquela história. Não era novidade (afinal, tínhamos filme sobre o The Doors, Ray Charles e etc...) mas poderia voltar a ser prioridade.

Ano passado esse próprio filme do Freddie Mercury/Queen esteve nas principais categorias de premiações, entre elas Globo de Ouro e  Oscar. Rami Malek, famoso pelo seriado "Mr. Robot", encarnou Freddie Mercury e levou os dois prêmios de Melhor Ator para casa. 
Naquele mesmo ano, a banda Mötley Crüe lançou pela Netflix, o filme biografia baseado no livro de memórias dos músicos e foi até mais bem sucedidos em termos de conteúdo. "The Dirt: Confissões do Mötley Crüe" foi colocado por boa parte dos críticos como clichê demais mas, pelo menos, contém pouquíssimas inconsistências cronológicas como o filme do Queen. Além disso, a banda foi esperta: para potencializar o laçamento, fizeram uma canção inédita - "The Dirt" - que tem a participação do também músico (e que encarna o Tommy Lee no filme), Machine Gun Kelly. 

Lançado no ano passado, "Rocketman" veio para contar a trajetória musical e pessoal de Elton John. Como um musical quase tradicional o filme é consistente muito por ter a supervisão do próprio músico. O projeto de fazer um filme seu estava procurando sair do papel fazia um bom tempo. Já havia passado à Disney Studios e à Focus Features, com envolvimentos do ator Tom Hardy e o também cantor, Justin Timberlake. Com a Focus, o início da produção deveria acontecer em 2014, mas as divergências criativas tardou a produção e fez com que Elton levasse o projeto para a Paramount Pictures. Assim, com Taron Egerton no papel principal, o filme se desenvolveu el 2018 e chegou ao circuito dos cinemas em maio do ano passado.

Obviamente a ajudinha nesse projeto pode ter sido dada devido o sucesso de "Bohemian Rhapsody" que fez com que saísse do papel e fosse efetivamente produzido até o fim. 
Na onda também das premiações, Taron Egerton (que, diferentemente do Mercury de Rami Malek, usou a própria voz em boa parte das cenas cantadas na pele de Elton John) levou o Globo de Ouro 2020 no último domingo (dia 4) como "Melhor Ator de Comédia ou Musical. "Rocketman" saiu na frente de "Bohemian Rhapsody"em outro quesito: Elton Jonh e Bernie Taupin levaram o prêmio de Melhor Canção Original para a criação especial para a trilha do filme - "(I'm Gonna) Love Me Again".

A fórmula "música pronta com história a ser contada" ainda pode render frutos. Ontem foi divulgado que o ator do longa "Me Chame Pelo Seu Nome", Timothée Chalamet - ídolo jovem e que arranca suspiros de meninas (e meninos também, desde que o supracitado longa trouxe maior visibilidade ao jovem) - encarnará Bob Dylan num filme dirigido por James Mangold. 
A posta pode ser das boas: Timothée concorreu a Oscar de Melhor Ator por "Me Chame Pelo Seu Nome" em 2019 e não tem brincado na hora de fazer o seu trabalho, apesar de ter apenas 24 anos. Mangold é nome sábio para o projeto: ele foi o diretor de "Johnny & June" (2005), filme biográfico onde o recém vencedor do Globo de Ouro 2020 de Melhor Ator de Drama, Joaquim Phoenix, encarnou o lendário Johnny Cash. Ele não levou o Oscar (merecidamente, diga-se) na ocasião do filme,em 2006, mas Reese Whiterspoon venceu pelo seu papel da companheira do músico, June e o filme venceu o Globo de Ouro de Melhor Musical.

Existe uma mina de ouro aí nas mãos dos produtores de Hollywood. E tudo que precisam é aproveitar essa boa oportunidade. Acreditem. 
Farei mais postagens mencionando essa extraordinária parceria - filme + trilha. Mas antes, vamos interagir! Nos digam aí: quais músicos ou bandas gostariam de ver suas histórias contadas na tela grande? 

Abraços afáveis e Musique-se!

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