Musique-se recomenda - Extracampo: na ótica do cárcere de Angelo Canuto, por Marcos Lauro.

Livros escritos de dentro do cárcere não são novidade. De Dostoevsky a Graciliano Ramos, muitos já usaram o período de inatividade para escrever e, assim, manter a sanidade. Mas por conta de uma cultura totalmente diferente da nossa (no caso do autor russo) ou de um tempo totalmente diferente do nosso (no caso de Graciliano), essas escritas parecem distantes, surreais e a identificação fica mais difícil. No caso de “Extracampo – Na Ótica do Cárcere”, de Angelo Canuto, a identificação é imediata.

É um livro de hoje, dos nossos tempos, da nossa realidade, da realidade de quem nasceu pobre e, totalmente sem perspectivas, via no futebol uma chance de ascender socialmente e resolver os problemas da sua família. No caso de Angelo, o crime chegou primeiro como solução.

O livro pode ser dividido em duas partes: a primeira é uma coleção de pensatas, impressões sobre a vida e, por que não, lições. A segunda é mais focada no cárcere e nas dificuldades de se manter são, mental e fisicamente, naquele ambiente.

Hoje, Angelo é empresário de jogadores de futebol, tem um escritório de gerenciamento de carreiras. Graduado e pós-graduado, usa suas experiências da rua e acadêmicas para unir os dois mundos: a cada “causo” do cárcere, um do futebol. Tudo para mostrar o quão perigosos podem ser os dois mundos e como as soluções estão mais à mão para quem tem boa vontade, caráter e ética. Nas quebradas, usamos muito a palavra “proceder” para falar sobre o comportamento que se deve ter para não arranjar problemas. “Fulano tem ‘proceder’”, se diz, positivamente. Dá pra dizer que “Extracampo – Na Ótica do Cárcere” é um manual de instruções de “proceder”

Marcos Lauro é fundador do Orfeu Digital

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