Rock in Rio 35 anos - James Taylor e Alceu Valença: opostos vitoriosos

O primeiro Rock In Rio também teve seus personagens improváveis do ponto de vista de seus estilos musicais e até do ponto em que estavam suas carreiras.

O primeiro deles, sem dúvida, foi o cantor e compositor James Taylor.
Sua música era uma mistura de country, folk e gospel, que ok, podia ser confundida por rock por ouvidos menos acostumados e, naquele ponto de sua carreira, Taylor já se considerava carta fora do baralho da indústria musical.
Como ele mesmo disse, já estava aposentado morando em sua fazenda após o divórcio da cantora Carly Simon.
Seu último disco tinha sido editado em 1981 (Dad Loves His Work) e não tinha tido lá muita repercussão.
Ainda assim, veio ao Rio por insistência de Roberto Medina para se apresentar no Festival.
Simpático, chegou a trocar palavras com Elba Ramalho antes do show perguntando a ela se estava nervosa, porque – segundo ele – “Eu estou muito!”
O show foi otimamente recebido pela plateia que emocionou James ao entoar com ele, de ponta a ponta, a balada “You´ve Got a Friend”.
Após o festival ainda em 1985, sua carreira deu uma retomada de fôlego com o lançamento da canção “Only a Dream in Rio” do disco That´s Why I`m Here.
James se apresentou também na terceira edição do festival e chegou a mandar um bilhete emocionado para Roberto Medina agradecendo o convite e dizendo que aquela apresentação em 85 o trouxe de volta a vida por ter cantado e encantado cem mil almas.
Ganhou o Grammy por Hourglass, seu disco bem sucedido de 1997 e hoje em dia parece ter voltado ao estado de quase aposentadoria em que se encontrava em 1985, lançando alguns discos com covers e coletâneas.
Também canta, regularmente, o hino nacional americano na partida final do campeonato de baseball.


Já o cantor, compositor, poeta, ator, diretor de cinema, escritor Alceu Valença, chegou ao Rock in Rio disposto e apto a fazer do palco do festival um carnaval nordestino.
Divulgando seu disco Estação da Luz (1985), subiu ao palco mandando muito frevo, forró, baião e maracatu misturado com guitarras pesadas e uma percussão que mudou de lugar os órgãos internos de quem estava mais perto do palco, Alceu ganhou o respeito e a empolgação da plateia e não tenho dúvida em dizer que alí estava plantada a semente do futuro Manguebit.
Obviamente que foi em dias diferentes, mas onde Erasmo foi vaiado, Alceu triunfou.
Nenhuma novidade para quem, anos antes, tinha visto seus shows no Festival de Águas Claras, na cidade paulista de Iacanga.
“-Palco para mim é o lugar mais seguro do mundo! Nunca tive medo. Fiz no Rock In Rio o mesmo show que fazia. Com a mesma banda. (...) Palco é palco: Carnegie Hall, circo fodido, teatro sofisticado. Tudo Igual! – disse.
O público chegou a pedir bis e- coisa rara naquele festival – Alceu voltou e mandou uma versão de “Anunciação” com a banda saindo do palco aos poucos sobrando apenas Alceu e o coro de vozes da plateia.
Em 2002 criou a Tropicana Produções para controlar os direitos de produção e divulgação de seus discos.
Escreveu, roteirizou e dirigiu, além de fazer a trilha sonora, o filme A Luneta Do Tempo
Lançou o livro de poesias O Poeta da Madrugada e ganhou uma exposição organizada pelo Instituto Itaú Cultural chamada Ocupação Alceu Valença que está em cartaz até fevereiro de 2020.
Alceu ainda participou das edições de 1991 e 2019 do Festival, mas traz vivo na lembrança quando Al Jarreu e George Benson vieram imediatamente após o show, ainda no backstage, cumprimentar de forma efusiva o cantor pelo terremoto que acabava de provocar.
“-Eles desceram do pedestal para vir falar com Macunaíma.”  -  Decretou.

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