Rock in Rio 35 anos - O pós festival

O primeiro Rock in Rio terminou em 20/01/1985 oficialmente, mas aquele festival, na verdade, nunca acabou...
Sua influência na cena musical do país e na mudança da visão dos artistas internacionais em relação ao Brasil como ponto de passagem de suas turnês é discutido até hoje.
Por conta do festival, revistas como a Bizz, por exemplo, ganharam razão para existir.

Bandas de rock e pop começaram a se tornar febre por todo o território.
Legião, Titãs, Camisa de Vênus, Engenheiros do Hawaii, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e diversas outras ganharam status, venderam milhares de discos, fizeram outro tanto de shows e influenciaram outras gerações na esteira do festival. Mesmo as que não tocaram nele.
Rádios especializadas em rock pipocaram no dial: 89FM, Brasil 2000, Fluminense FM... Várias outras menores e tão importantes quanto.

Alguns números que ficamos conhecendo algum tempo depois do fim das atividades na cidade do rock são impressionantes!
Foram cinquenta e quatro shows em dez dias com noventa horas de música.
Estimasse que estiveram na cidade do rock cerca de 1,235 milhão de pessoas nos dez dias e que estes  consumiram novecentos mil sanduiches, 500mil pedaços de pizza e 1,6 milhão de litros de bebidas. Incluindo aí a mais asquerosa versão de cerveja já feita no país, a infame Malt 90 que muita gente chamava de “malt nojenta”.

O palco media 5,6mil metros quadrados e tinha mais de vinte metros de altura.
Havia 12 estacas que atravessavam o lençol freático da região com quinze metros de profundidade.
A boca de cena contava com três tablados que corriam sobre trilhos e permitiam que enquanto uma banda se apresentava, o palco para a próxima atração fosse sendo preparado.
Isso permitiu que, por exemplo, Lulu Santos fosse retirado do palco ainda tocando por conta de esticar demais seu primeiro show. Foi legal? Não... Mas hoje é engraçado.
O terceiro tablado ficava a disposição apenas da maior atração da noite.

Era o maior palco já construído no Brasil até então e estava muito, mas muito, mas muito além de qualquer sonho delirante de qualquer artista brasileiro. Fosse ele consagrado ou iniciante.

Alguns artistas tiveram sérios problemas com a realidade pós festival.
Era como ter jogado a final da copa do mundo naqueles campos europeus, um tapete... E depois voltar a realidade dos campeonatos estaduais em campinhos de terra.
A realidade aqui era de shows em circos, palcos improvisados e claudicantes, tábuas em traseira de caminhões.
Havia pouco espaço, poucas casas dispostas a dar espaço aos “roqueiros” e muitos oportunistas.

E por falar em oportunistas, Leonel Brizola, então governador do Rio, mandou demolir a cidade do rock algum tempo depois do fim do festival por temer que tudo aquilo pudesse render eleitoralmente a seus organizadores.
Para azar do populista, as imagens nas mentes e corações de quem viveu tudo aquilo não poderiam ser apagadas e vivem lá até hoje.

As informações desta série de textos vem da  memória afetiva,  das memorabilias colecionadas através dos anos, de matérias retiradas de revistas como a Bizz e outras publicações da época ou comemorativas,  da internet e do excelente livro do jornalista Luiz Felipe Carneiro: Rock In Rio, a história do maior festival de música do mundo (2011, editora Globo) que hoje está fora de catálogo, mas que vale todo e qualquer centavo cobrado caso seja encontrado em alguma loja.

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