Rock In Rio 35 anos: Ozzy, a quase decepção

Depois de muitos anos, perguntado sobre do que mais se lembrava do show no festival, Ozzy respondeu sem pensar muito: “-Do terrível cheiro de urina que subia na boca do palco.”

O eterno cantor do Black Sabbath vinha de uma temporada na clinica Beth Ford, mas mesmo assim, ao desembarcar no Rio de Janeiro estava doidão. Para ser simpático.
Com o rosto afundado nas costas da esposa Sharon, Ozzy Osbourne declarou meio balbuciante que havia encomendado algumas dezenas de pintinhos para serem “usados” durante o show.
Segundo amigos, Ozzy tem pavor de qualquer tipo de transporte que voe, logo, para cruzar o oceano e vir tocar no Rio, tomou tudo que estava à disposição no avião, o que com certeza ajudou a deixar Sharon muito, mas muito brava a ponto de sequer dar alguma declaração quando perguntada.

Ozzy veio com a turnê de Bark At The Moon (1983) que apresentava uma cenografia monstruosa com um castelo com anões enforcados nas janelas e durante a apresentação Ozzy se transformava no lobisomem da capa.
Nada disso aconteceu no palco e o cantor disse que foi porque os organizadores não quiseram pagar os custos do transporte.
Se frustrou quem esperava um show afiado.
Fora de forma, apareceu em cena com uma capa vermelha brilhante e uma camiseta do Flamengo.
É bem verdade que enfileirou seus hits da época e cantou "Iron Man" que junto com "Paranoid", já no bis, foram as únicas de sua antiga banda.
Também se frustrou esperava que ele mordesse morcegos, galinhas ou coisas do gênero.
Ozzy se preocupou mais em entornar alguns baldes de água sobre a própria cabeça e bater palmas do que em cantar propriamente dito.
“-Não mordi nenhum morcego porque não jogaram nenhum no palco.” – disse. Na verdade, estava proibido por contrato de fazer algo parecido. A organização do evento realmente acreditava que era comum nos shows que ele fizesse isso.

Mas a plateia, louca para ver o que a imprensa rotulou como “a lenda viva do rock”, gastando a expressão que cunharam em quase todos os textos que se lia sobre o assunto, achou tudo muito bom chegando a acender velas vermelhas e criando um clima sinistro.

Ozzy foi embora um tanto frustrado dizendo que esperava ver uma “garota de Ipanema” em cada esquina, em alusão à canção de Antônio Carlos Jobim, mas que só vira muita pobreza com crianças e ratos pelas ruas.
Difícil saber, por estas palavras, onde andou Ozzy enquanto esteve no Rio.
Depois do show no festival, Ozzy emendou períodos menos doidões com recaídas monstruosas.
Musicalmente, gravou alguns discos bem esquecíveis (com honrosa exceção ao Randy Rhoads Tribute de 1987) até se redimir com o petardo No More Tears, de 1991.
Desde então, enfileirou discos bem dignos com várias coletâneas e álbuns ao vivo.
Também foi e voltou com o Black Sabbath, com quem gravou um último disco de inéditas chamado 13 (2013), fez uma turnê de despedida encerrada com um show antológico na cidade natal da banda e registrado no maravilhoso ao vivo The End Live in Birmingham de 2017.

Para 2020, após ter passado por poucas e boas com sua saúde no ano anterior, Ozzy já lançou dois singles ("Under the Gravyard" e "Straight To Hell") com dois bons clipes, apesar da aparência quase caricata do Mad Men.
Também já avisou que o disco completo Ordinary Man, vem ai e adiantou que há diversas colaborações como Slash e até mesmo Elton John (!).


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