Discos para ajudar na quarentena (5) Boa Sorte, de Teago Oliveira

O rock brasileiro pós Los Hermanos não vive sua melhor fase midiática e não traz consigo mais aquele público apaixonado e consumidor ávido. E não é culpa dos cariocas...
O rock nacional passou a ser, sem honrosas exceções, coisa de nicho. E mesmo medalhões como Titãs ou Barão Vermelho, tem muito menos espaço nas rádios e emissoras de televisão do que costumava ter. Passaram a ser mais cult que populares.
Os nomes que ainda se mantém com alguma popularidade mais visível como Nando Reis, por exemplo, não querem mais estar ligados ao rock.
Agora, com certa razão até, são MPB, no sentido mais separatista da sigla. Apesar do passado...

Neste contexto temos no baiano Teago Oliveira uma das caras novas do rock brasileiro.
Nova?
Sim e não.
Não por conta de sua banda, a Maglore, onde canta, compõe e toca guitarra.
O grupo já comemorou dez anos de atividades que incluem quatro discos de estúdio e um ao vivo, mas pelos motivos lá do primeiro parágrafo, pouca gente pode dizer que conhece.
E se você não conhece, sim, Maglore faz rock ainda que alinhado com tudo que o movimento indie prega – barulho, mas não muito, letras sensíveis e preocupadas com problemas sociais individuais e coletivos – mas ainda assim rock.
E como disse uma vez – orgulhoso – o cantor, com os dois pés fincados na estrada da MPB, sem o “apesar do passado”.
E tanto é verdade que seu talento para composição foi reconhecido, louvado e gravado gente graúda da MPB como Gal Costa (“Motor”) e Erasmo Carlos (“Não Existe Saudade no Cosmo”).
E sim, cara nova por conta de sua estreia solo.
Por tudo isso era de se esperar que quando fizesse o seu – inevitável – disco sem a banda, Teago escancarasse suas influências e que, sem surpresa, fossem todas da MPB.
E eis que então Boa Sorte (2019, Deck Disck) viu a luz do dia graças ao projeto Natura Musical.

Quem topar com o disco em algum shuffle dos aplicativos de streaming ou se dispuser a ouvir sem conhecer Teago ou a Maglore, vai achar que é um disco dos anos 70.
Um bom paralelo para comparação seriam os discos do Caetano Veloso com a Outra Banda da Terra, mas, obviamente (pela tecnologia hoje mais avançada) melhor produzido e gravado.
Outro paralelo, mas este um tanto preguiçoso, seria dizer que, até pelas elegantes orquestrações, é um disco tropicalista. É mais que isso...
O álbum traz onze canções compostas por Teago sozinho ou em parceria com Marcelo de Castilhos, com quem ja havia composto e gravado no segundo disco da banda.
As canções, com temas atuais tratados com serenidade, mas de forma incisiva (sem ser panfletário, posso ouvir um amém?) passeiam pelo samba-rock (“Bora”), belas baladas sentimentais (“Oh! Meu Bem”, “Sombras no Verão” que trata de separação de uma forma tranquila, apesar da angustia da letra), e arranjos épicos (“Superstição”, a dramática “Movimento das Horas”) rocks arejados e cheios de saudades (“Longe da Bahia”, “Azul, Amarelo”) entre outras faces da música brasileira.
A canção homenagem à Belchior, “Corações em Fúria (meu querido Belchior)” cita e atualiza algumas das frases mais emblemáticas do cantor e compositor cearense e ainda há espaço para citar outro parceiro, Hélio Flanders, do Vanguart quando diz que: "um cantor amigo meu disse que se tiver que ser na bala, vai" entregando assim uma das melhores músicas de 2019.

Outro destaque fica por conta da faixa final “Ultimas Notícias” em que cita Pelé e Gilberto Gil ao musicar poetizando notas de jornal.

Acompanhado por Leonardo Marques na execução e produção, Teago disse ter gravado muitas das faixas sem uma pré-produção tradicional.
“-Léo apertava o rec. e as coisas iam acontecendo naturalmente.”
Pode-se dizer que é um dos melhores discos originais da MBP em 2019 com frescor e novidade suficiente para, mesmo olhando para o passado, dar alento e esperança à tão maltratada música brasileira refém de caipiras universitários e funkeiros.
Pena que as rádios e as Tevês vão passar ao largo empurrando tudo para os nichos onde,  infelizmente, são inofensivos.

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