O Legado da Série Friends

Singles. Aqui no Brasil: Vida de Solteiro. Este é um filme lançado em 1992 dirigido por Cameron Crowe. Estrelado por Bridget Fonda e Matt Dillon, o longa é dividido em capítulos, o foco é a vida amorosa de um grupo de amigos na faixa dos 20 anos de idade e eles vivem em um bloco de apartamentos. O pano de fundo é Seattle e o movimento grunge durante o começo dos anos 1990. Não surpreendente, há as participações dos cantores Chris Cornell (ex Soundgarden, Temple of the Dog, e Audioslave) e Eddie Vedder (Pearl Jam).

O filme pode não ter alcançado tanto sucesso quanto foi Diga o Que Quiserem (1989) com John Cusack ou o posterior, Jerry Maguire (1996) com Tom Cruise. Porém, no mesmo clima do primeiro e Vida de Solteiro, surgiram, na chamada Geração X (aquela que veio depois do chamado “babyboom” após 2ª Guerra Mundial) algumas inspirações na cultura midiática. 
Citam-se como “imitadores” do Vida de Solteiro, outros filmes cujo mote inicial acaba se ligando à premissa das paixões jovens e latentes: Caindo na Real dirigido e estrelado por Ben Stiller, contando também com Ethan Hawke e Winona Ryder,  Três Formas de Amar com Lara Flynn Boyle, Stephen Baldwin e Josh Charles, dirigido por Andrew Fleeming – ambos de 1994.

Também se comenta que a Warner Bros. Television tentou transformar Vida de Solteiro em uma série de televisão. Crowe teria sido contra o projeto. Mesmo assim a produtora engajou um novo time de roteiristas e diretores, mudou alguns elementos para o que viria a ser FRIENDS.
Como um filme que ganhou notoriedade muito mais por sua trilha sonora do que pela sua temática, tenha sido a faísca necessária para lançar uma série de comédia de grande sucesso, é algo ainda nebuloso. O filme em si, terminou a sua produção em 1991 e não estreou até o ano seguinte. Os executivos não sabiam como lançá-lo e a Warner só liberou o lançamento quando a cena grunge explodiu efetivamente, em meados de 1992.

Friends (para quem não sabe!?!) é uma sitcom americana criada por David Crane e Marta Kauffman, que foi ao ar com o primeiro episódio no dia 22 de setembro de 1994, apresentada pela rede de televisão NBC. Ela terminou 10 anos depois, com um total de 236 episódios, sendo o último transmitido no dia 6 de maio de 2004. O conceito chave da história girava em torno de um grupo de amigos que vivia no bairro de Greenwich Village, na ilha de Manhattan, na cidade de Nova York. A série foi produzida pela Bright/Kauffman/Crane Productions em associação com a Warner Bros Television.
Kauffman e Crane começaram a desenvolver a ideia do seriado sob o título de Insomnia Cafe em novembro de 1993. Eram amigos que se encontravam todos os dias, numa cafeteria de seu bairro. Sendo vizinhos de apartamento ou colegas de quarto, é difícil saber até que ponto a série tem de ressonância com o filme de Crowe, mas até aqui, parece apenas semelhante.

Difícil também é determinar, com certeza, quais são as personagens centrais da série. Destarte, o primeiro episódio deixa no ar os personagens que acabam sendo - digamos - os principais: o casal, Ross Geller e Rachel Green – embora a profundidade dos mesmos se sustente com auxílio bem harmônico com os demais.
A primeira cena é um grupo de amigos conversando numa cafeteria – o Central Perk – com ares rústicos e um aconchegante sofá como se fosse de uma sala de estar. Esse será local padrão onde eles se encontrarão pelo resto das temporadas. Então sim, o cenário da cafeteria é o personagem principal, sem dúvidas. Mesmo no meio de um horário de trabalho, é lá que eles estão e isso faz pleno sentido.
Joey Tribbianni, Chandler Bing e Phoebe Buffay querem saber sobre o novo “date” de Monica Geller. É nele que percebemos os primeiros elementos das personalidades das personagens. Na tomada seguinte, Chandler conta um sonho que teve e em seguida corta para a introdução de Ross, o aparentemente depressivo irmão de Monica que foi deixado recentemente pela esposa, que se “descobriu” lésbica. Obcecado por casamento, ele deseja retomar a vida de casado, quando somos apresentados à Rachel Green, que entra no estabelecimento, vestida de noiva. Rachel era uma das melhores amigas de Monica no “high school”. 
O resto, já sabem.

Tudo isso se encaixa perfeitamente no primeiro episódio que soava despretensioso, mas que alavancou a série a quatro dezenas de indicações ao Emmy, um prestígio máximo com 52,5 milhões de espectadores em seu último capítulo, em 2004, e entrou para a história e para a cultura urbana de boa parte do mundo. Ainda que faça 16 anos do seu fim, recentemente foi anunciado um episódio especial com todo o elenco como uma das boas sacadas de marketing para promover a estréia do canal de streaming HBO Max.
Os próprios atores anunciaramo "evento" em suas redes sociais e depois de muito tempo de especulação, irá realmente acontecer a tal reunião tão desejada. Esse especial será gravado no palco 24 em Burbank, Los Angeles, onde a série foi gravada.

A notícia pegou os espectadores da época de jeito, a ponto de deixar todos muito entusiasmados. Os novos espectadores já são figuras um pouco complicadas de definir. Dividida em dois grupos – os que assistiram a série já sendo de outra geração e por isso, encontraram algo na narrativa que não condiz com a vivência que tiveram – ou são espectadores de séries cheias de plot twists e spin offs e vão exigir que o especial não seja único e se transforme uma temporada inteira. Não duvide que haverá petições logo que o especial for ao ar e produtores não escrevam mais coisas para agradar os (novo) público.
O primeiro grupo é o mais difícil e alguns deles estão dentro do segundo também. Se fizerem uma pesquisa rápida encontrarão páginas apontando inventados "defeitos" na sitcom. A nova geração pinça em qualquer seguimento cultural – até mesmo, como implicância simplesmente – o que tiver para denegrir a obra. Em Friends, não foi diferente e esse pessoal doente, vasculhou e se doeu por piadas que acharam ser de teor sexista, reclamaram da forma como tratavam a obesidade da Monica na adolescência, indicaram que Ross tinha um relacionamento abusivo/obsessivo com a Rachel, e não aceitaram as piadas com relação à sexualidade de Chandler, entre outras pataquadas "nonsenses".

Para quem tem paciência para essas idéias de "cancelar" as coisas que não são do padrão representativo das minorias, que fiquem a vontade. Nós aqui, não temos.
Amamos a série. Entendemos que são piadas e situações cômicas, que agradam por sua leveza. Compreendemos que humor só ofende se você permite. Como diz o historiador Leandro Karnal, “ofensa é um fracasso pessoal”, ou como bem pontua o filósofo Luiz Felipe Pondé, “vivemos numa era de ofendidinhos”. Frutos de um contexto ferramental, são um grupo pertinente. Quanto mais gente entra em contato com um conteúdo, mais reações existem. Uma questão cabal para mim é que hoje, todo mundo é entendido de tudo, e alardeou o campo em que qualquer um queira simplesmente "encher o saco".

Querendo ser normal no meio de tantos chatos, acho a série fantástica. Personagens cativantes que imprimiram na cultura pop algo muito estimado. Faz um tempo que uso a série como "fonte de terapia". Um dia ruim é melhorado com uma seqüência de episódios. Eu simplesmente abro o armário e pego um DVD (oooh, sim, existe e nunca sai do catálogo!) de uma temporada e assisto na TV do quarto. Neste ano, comecei a rever desde o primeiro capítulo. Faz muito bem, inclusive, mesmo que tenha feito isso já umas 10 vezes.

Guardamos com alegria, as músicas da aluada Phoebe (Lisa Kudrow), os maneirismos nerds de Ross (David Schwimmer), rimos de chorar da pior piada sarcástica do Chandler (Matthew Perry).  Bancamos a Monica (Courteney Cox) numa obsessão de limpeza ou de organização, e quantas vezes não desejamos ter os cortes de cabelo ou usar as mesmas roupas da Rachel? (Jennifer Aniston por sinal, logo virou a “namoradinha da América” por um relacionamento com Brad Pitt. Esse relacionamento não foi longe graças a uma traição. Não houve "cancelamentos" em relação a  pivô da separação e Jennifer perdeu o "título").
Juramos que a melhor coisa seria usar bordão-cantada do sexy Joey (Matt LeBlanc) para alguém que gostamos: "How you doing?" é uma das várias de expressões que, mesmo em inglês, se "materializam" na nossa mente. "We were on a breack"", "Smelly Cat", "I know!", e até a frase inesquecível da namorada "vai e volta" de Chandler, Janice (interpretada pela atriz Maggie Wheeler) "Oh. My. God.":



Esses personagens influenciaram hábitos não apenas enquanto a série esteve no ar, mas ainda hoje o fazem.
Estamos ansiosos pelo especial. Vai ser muito legal revistar os FRIENDS.

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