“Faça o que tu queres”
Uma frase dessas, comum, pode ser
repetida (e praticada) sem que tenhamos conhecimento de sua origem.
Pois ela é um lema, idealizado por
Aleister Crowley. Esse “distinto” homem viveu entre os anos de 1875 a 1947, e
durante esses 72 anos “causou” bastante, se tornando conhecido por ter
transformado a prática de magia em um estilo de vida.
Considerado pela imprensa como um dos
homens mais “perversos” (e porque não, pervertido?) do mundo, ele foi um
explorador de ocultismo, satanismo e mentor da filosofia/seita chamada Thelema.
A dita cuja não teve muitos adeptos, mas
uma turma (amalucada?) andou se inspirando em seus escritos e imortalizando a
sua figura. Mas vamos conhecer esse cara um pouco melhor?
Edward Alexander Crowley nasceu na
Inglaterra, em uma família cristã de posses. Seu pai, um cervejeiro rico,
faleceu quando ele tinha apenas 11 anos. A relação do garoto com a mãe não era
das melhores. Para se ter uma ideia, ele chamava a mãe de “A Besta”.
Assim como alguns exemplos notórios da
história, Crowley seria mais um do muitos abastados excêntricos que aprontaram algo para marcarem seu nome na história. Mas talvez ele
tenha levado a excentricidade a níveis muito mais elevados do que se poderia
imaginar.
Na juventude, mudou o nome para Aleister
e entrou na faculdade de Filosofia em Cambridge. Foi nesse período em que
começou pesquisas sobre esoterismo e, viajando muito, levantou suspeitas das autoridades a respeito do que
realmente fazia nos locais que visitava, sempre envolto de mistério.
No auge de sua juventude, aos 20 e
poucos anos, Crowley nutria hobbies normais - como jogar xadrez e escalar
montanhas - e outros bem peculiares - misticismo, escritas de poemas eróticos. Além destes, sempre freqüentava
prostíbulos, praticava sadomasoquismo e ménage à trois, sem pudor. Usava drogas
para “alcançar os planos espirituais”... Isto é, a prática de sexo e o uso de substâncias
alucinógenas eram para “fins religiosos”.
Fez parte de uma organização clandestina
hermetística – “The Hermetic Order of the Golden Dawn”. Hermetismo é o estudo e
prática da filosofia oculta e da magia associados a escritos atribuídos a
Hermes Trismegisto - uma deidade sincrética que combina aspectos do deus grego
Hermes e do deus egípcio Thoth. Esse estudo ganhou notoriedade no período
Renascentista.
Com a revolução de ideias - que inspirou
mudanças nas artes, na ciência, na filosofia e até mesmo na economia (as
Grandes Navegações é um acontecimento histórico impulsionado por essas “novas
ideias”) - era evidente que, aquele jeito engessado de controlar as coisas no Cristianismo, também seria afetado e logo surgiria alguém que contestaria seus paradigmas. Apareceram então, muitas outras formas de “sentir” e compreender o mundo – também
no âmbito espiritual.
Os escritos mais importantes atribuídos
a Hermes são a “Tábua de Esmeralda” e os textos do “Corpus Hermeticum”. Estas
crenças tiveram influência na sabedoria oculta europeia, quando foram
reavivadas por figuras como o filósofo e teólogo italiano, Giordano Bruno. A
magia hermética passou por um renascimento no século XIX na Europa Ocidental,
onde foi praticada por nomes envolvidos na “Ordem Hermética do Amanhecer
Dourado”.
Aleister acabou saindo dessa ordem, mas havia
absorvido o suficiente de suas viagens e experiências para tornar-se em definitivo um místico e formular a sua própria
“religião”com seus próprios preceitos.
Em 1904, casou-se com Rose Edith Kelly.
O casal passou a lua de mel no Egito (hum, coincidência?!) e olhem só: foi lá
que Aleister entrou em contato com um espírito chamado Aiwass – uma emissária
do deus (preparem-se para um nome difícil) Hoo-paar-kraat (!!!), detentor dos
segredos místicos e do silêncio. Esse ser “transcendental” teria ditado a ele o
Livro da Lei. É nessa obra que se encontra o lema mais famoso do mago, “Faça
o que tu queres”, e é a base da religião Thelema. Fácil, não?
Segundo o que "prega" a Thelema, o mundo
teria passado por fases espirituais, chamado de “aeons”; fases de
transformação, que consistia em tranposição do abismo - uma espécie de passagem para a vida eterna, ou algo semelhante a isso... Resumo: é uma “viajação na maionese” que requer muita mente aberta.
Para estar ligado aos planos espirituais, por exemplo, era necessário práticas “simples”, quase uma rotina de terça-feira normal: magia
negra, participação em orgias, ficar doidão com cocaína e heroína...
Apesar do que se contou na mídia em sua
época, Crowley não fazia sacrifícios humanos. A sua religião era de muita libertinagem,
travestida de culto/ritual. O lance dele era invocar espíritos, deuses e afins
através de magia negra, longas atividades sexuais e uso de drogas.
Lembrem-se: “Faca o que tu queres”
estava sendo colocado em ação e isso (é claro!) atraiu alguns “fiéis” nem que
fosse por curiosidade, afinal, o barulho estava a todo vapor graças a imprensa.
Crowley acreditava também que desejos se
concretizavam quando “pedidos” durante o orgasmo. Assim, quem participava de
suas “reuniões” estava liberado de tentar quantas vezes pudesse a chegar ao
clímax para obter o que queria.
Mas nada indicava, obviamente, que tudo isso tinha eficácia.
Há várias histórias envolvendo a Thelema e o própio Aleister que deixaria a gente de cabelo em pé. “Crowley” é semelhante à palavra
“crawl” em inglês, que significa “rastejar”. Assim, a conjugação “crawler” é
“rastejante”, “aquele ou aquilo que rasteja”. Uma das figuras rastejantes
associadas ao demônio são as serpentes – e tudo por conta do imaginário bíblico
do animal ter oferecido à Eva o fruto proibido. Sim, parece até conspiratório, mas tem um ponto de verdade.
Não há certeza se ele era um ateu, um
pagão politeísta ou um satanista. Seguramente, não era normal (risos). Mas, de
todo, se sabe que escreveu muito sobre magia negra, satanismo e é isso que fez a sua fama. Ele se
autodenominava de “Besta 666” e uma de suas filhas (que morreu com 2 anos)
tinha 6 nomes de demônios: Nuit Ma Ahathoor Hecate Sappho Jezebel Lilith
Crowley...
Imaginem uma professora lidando com essa
garota no seu primeiro dia na escola?!?
Brincadeiras à parte, apesar da fama,
ele nunca teve muitos seguidores. Eles até bancavam suas viagens, mas Aleister
acabou torrando todo o dinheiro da família nessa “festa” (quase particular)
ocultista. Morreu em 1947, mas logo foi imortalizado na década de 1960 e 1970 sendo
um dos autores lidos e seguidos pelo pessoal do movimento hippie.
Convenhamos, qual outro período da nossa história, uma pessoa "transgressora" como Crowley
faria "sucesso"? Na contracultura, é claro!! Suas ideias (pouco convencionais)
teriam uma ressignificação no movimento, que extraiu da base da Thelema, a
liberdade sexual e uso de drogas como uma forma, não religiosa – na verdade
totalmente anticristã – como uma busca incessante de aproximação do Homem com
a Natureza.
Nisso, Crowley ajudou a aumentar a
corrente neo pagã de 1960 em diante e deixou marcas na cultura popular -
presente até hoje. A Thelema ainda existe, embora tenha poucos adeptos. Diferentes
gurus se dizem discípulos diretos do fundador, incluindo Amado Crowley, um
suposto filho "não oficial", e o brasileiro Marcelo Ramos Motta, falecido em 1987, divulgador da Thelema no Brasil. Este útimo teve como discípulos, Paulo Coelho e Raul "Maluco Beleza" Seixas.
Diz-se que até mesmo o
fundador da Cientologia, outro que faltava parafusos na cachola, L. Ron
Hubbard, afirmou ter sido influenciado por um suposto contato com o mago.
Um dos fatos bizarros sobre Crowley para
iniciarmos essa série? Pois bem! Em sua residência na Escócia, a Casa
Boleskine, Crowley tentou entrar em contato com o anjo da guarda através de um
ritual (de novo!) “super simples”: ele teria que invocar 12 demônios e
neutralizar um a um, por seis meses em abstinência. Acontece que o ritual foi
interrompido no meio porque ele precisou viajar a Paris. Desde então, a casa
ficou meio “amaldiçoada” depois de ser vendida, em 1913. O major Edward Grant,
dono do imóvel nos anos 1960, cometeu suicídio deitado na cama onde Crowley
dormia. Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, adquiriu o imóvel, mas admitiu
ter medo de dormir no local. Em 2015, o lugar teria pegado fogo.
E é com Page que a gente marca o tema do
próximo post sobre o bruxo “influencer” de satanistas na cena do rock.
Preparados?
Abraços afáveis!
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