Discos para ajudar na quarentena (8) - Paranoid, do Black Sabbath

Em determinada parte de seu livro “Grandes sertões: Veredas”, Guimarães Rosa faz uma lista dos vários nomes do “coisa ruim”.
Além dos protocolares “satanás”, “capeta” e “inimigo” ele ainda cita mais alguns extremamente originais como: “rincha-mãe”; “sangue-d’outro”; o “muitos-beiços”; o “rasga-em-baixo”; “faca-fria”; o “fancho-bode”; “treciziano”; “azinhavre”; o “Hermógenes”...
O Black Sabbath - que provavelmente nunca leu João Guimarães Rosa e a recíproca é mais que verdadeira – deu mais alguns nomes para o “tinhoso” ao escrever talvez sua melhor página: Paranoid, o álbum.
São eles: “o raivoso” e  “o frustrado”

A banda já havia chamado a atenção do mundo com seu disco de estréia onde o blues é levado as ultimas consequências de amplificação e que junto com os dois primeiros discos do Led Zeppelin pode ser responsabilizado pela criação do heavy metal enquanto estilo musical.
Porém, sem o verniz de cultura celta e nórdica apresentado pelo zepelim de chumbo o que sobrou aos tabacudos de Birminghan foi a “burrice” de tratar de assuntos obscuros e/ou satanistas.
E os nomes do capetoso?
Ouça o disco pela ótica de quem vivia a época de seu lançamento e descubra sobre o que o disco realmente é, e sem se ater a bobagens como definir conceito para o trabalho.
Uma coleção de canções aparentemente sem ligação entre si, mas que dão o panorama dos sentimentos de toda uma geração pós flower power, quando o sonho do “paz e amor” foi trocado por violência, cinismo e hedonismo.
Mais precisamente pós Altamont.

E é com raiva que o disco é aberto junto com a frustração de todos os jovens do planeta em ver a campanha sangrenta dos EUA no Vietnã. “War pigs” explode nos auto falantes adiantando tudo que faria parte do universo do Sabbath até os dias de hoje: riff poderoso, bateria truculenta, gritos assombrosos e clima sombrio de filme de terror.
A introdução lenta e arrastada é como um monstro que vai devorando tudo em seu caminho.

A seqüência com “Paranoid” é matadora.
Talvez o maior hit do Sabbath, é uma canção sobre efeitos de heroína, outro nome para o “pé de bode” como também é “Hand of doon”.
Ambas ajudaram a sedimentar a reputação de banda mais sinistra dos anos 70.
O disco ainda tem a balada sombria “Planet caravan” e a fantástica “Iron man”, um petardo ultra sônico com a introdução mais impressionante do rock: uma virada de bateria tão simples quanto magnífica.
Para mim muito mais significativa que a de “Rock´n´roll” do Led Zeppelin, por exemplo.
O fato é que após este disco, tudo que veio ao mundo como heavy metal trouxe elementos dele.
Raivoso, frustrado e claro, fundamental.

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