Há cinquenta anos, Paul McCartney colocava um fim aos Beatles... Mesmo?

Há exatos cinquenta anos Paul McCartney concedia uma entrevista e nela divulgava seu primeiro disco solo que estaria nas lojas em poucos dias.
Mas, a fala mais importante daquela entrevista não tinha nada a ver com o disco, ou com o fato de Paul ter tocado sozinho todos os instrumentos e ainda assinado a produção, mas sim a bomba de que ele afirmava não haver mais nenhum plano de outro álbum do Fab Four ou mesmo que ele escrevesse mais canções com John Lennon.
Em resumo: Paul estava decretando ali o fim dos Beatles.
Já havia boatos que circulavam desde a pré produção de Abbey Road, porém a banda era tão gigante, de tanto sucesso que parecia improvável que, mesmo com seus integrantes arriscando um ou outro disco sozinhos, alguém tivesse a ousadia de matar a galinha dos ovos de ouro.
De forma ambígua, com meias palavras, Paul o fez.

Ou tentou...
De certa forma sim, houve a separação física da banda, mas na verdade nunca acabou.
Os números não mentem e a importância também não.
O interesse e a adoração pelo grupo não diminuíram nem quando Lennon foi morto a tiros em Nova York ou George Harrison perdeu a luta contra o câncer, pelo contrário.
Mesmo sem a menor chance de uma reunião as marcas não pararam de crescer e impressionar.
Assim como os de Elvis Presley, os números alcançados pelos Beatles ainda servem de parâmetro e régua para medir a popularidade de novos artistas em ascensão.
Vira e mexe veículos especializados em música (e alguns em moda) alardeiam com muitos pontos de exclamação que esse ou aquele artista pop alcançou ou ultrapassou algo estabelecidos pelos quatro de Liverpool.
O último foi a armação coreana em forma de boyband BTS.

Mas os quão grandes e expressivos são estes números?
São 13 álbuns originais de estúdio, 5 discos ao vivo (alguns inaudíveis, diga-se), 53 coletâneas, 21 EPs, 63 compactos (simples e duplos) e 15 boxes. Isso sem contar as reedições remasterizadas, comemorativas etc...
Estima-se que ao todo, o nome Beatles tenha vendido ao redor do planeta mais de um bilhão e seiscentos milhões de cópias.

Há pouco, quando se fez o levantamento dos discos mais vendidos no tão propagado ressurgimento do vinil em 2017, os álbuns mais vendidos eram deles.
Primeira e segunda posição cabendo respectivamente à Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967 (72.000) e Abbey Road, lançado em 1969 (66.000).
É bom lembrar que eram discos que tinham completado ou estava há pouco de completar cinquenta anos.
Isso sem contar a quantidade de quinquilharia (memorabilia, vá lá que seja) criada e comercializada oficialmente durante a beatlemania.
De perucas e ternos iguais aos que usavam até chaveiros e brinquedos (infantis ou não...) se vendeu de tudo que levasse o nome The Beatles na embalagem.

E a importância do grupo vai para além destes números.
A banda enfileirava hits nas paradas de sucesso chegando a ter os cinco primeiros postos da Bilboard em determinada época.
Some-se isso à influência que o quarteto teve (e tem) sobre os músicos em geral.
De Bob Dylan (que tanto foi influenciado quanto influenciou os quatro) passando por Byrds, The Who (veja a letra de “The Seeker”) , os Monkees (que foram criados para surfar na onda da beatlemania que varria os EUA), os Beach Boys e outro sem número de bandas e artistas que citam em entrevista o quanto os Beatles foram importantes e decisivos para a tomada de decisão de serem músicos.
Outro sintoma da importância e do tamanho dos caras é a quantidade de bandas cover (e não, o Oasis, embora pareça, não é uma delas) especificas estão na ativa ainda hoje.

E não são poucos os artistas – dos mais variados gêneros -que regravaram suas canções.
Gente da importância de Elvis Presley, Steve Wonder, Al Green, The Black Keys, Jimi Hendrix, Frank Sinatra, Deep Purple e muitos outros já regravaram em estúdio ou registraram em shows ao vivo suas versões para canções de Lennon, McCartney, Harrison e Ringo.
Consta que “Yesterday” é a música mais coverizada da história, com mais de quinhentas versões em todo o mundo.
Para dar um último exemplo do quanto ainda são importantes, é aguardada com ansiedade, cinquenta anos após o fim, o lançamento de um novo filme dirigido por Peter Jackson (Lord of Rings) onde se revisitará os últimos tempos da banda no estúdio.
The Beatles: Get Back deverá estrear nos EUA (se tudo correr bem) em 4 de setembro deste ano.

Então, pode-se dizer que mesmo tendo se separado há cinquenta anos, quando Paul deu a tal entrevista ou quando Lennon disse que o sonho havia acabado, os Beatles seguiram firmes e fortes dando as cartas no rock e na cultura pop de uma forma geral.
Pouco tempo após a entrevista de Paul ainda chegou às lojas o derradeiro registro dos quatro juntos: Let It Be (1970) que havia sido gravado antes de Abbey Road, o verdadeiro canto do cisne da banda, mas isso pouco importava. O disco vendeu horrores, entrou na lista de clássicos da banda ajudou a manter a chama acesa.
O yeah yeah yeah ainda ecoa...

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