35 anos de Low Life, o supra sumo do New Order - por Expedito Paz

Em 13 de maio de 1985, há 35 anos, o New Order lançava Low-Life, terceiro álbum da banda. Gravado ao longo do ano anterior nos estúdios Jam e Britannia Row e mais uma vez produzido pela própria banda, os britânicos estavam num período altamente criativo, compondo, ensaiando e fazendo shows constantemente.

O álbum anterior, Power, Corruption and Lies, lançado em 1983, já havia marcado um distanciamento em relação ao som do disco de estreia, Movement, de 1981, que ainda carregava muito do peso do Joy Division, banda anterior de três dos quatro integrantes do New Order, e que acabou abruptamente em maio de 1980 com o suicídio de seu líder e vocalista, Ian Curtis.
Os remanescentes recrutaram a então namorada do baterista Stephen Morris, Gillian Gilbert, para tocar guitarras e teclados, e assim estava formado o New Order.

"Power..." acrescentava ao som da banda mais elementos eletrônicos mas sem abandonar o rock no estilo pós-punk, tanto que esse período gerou clássicos como "Age of Consent", "Your Silent Face" e, embora tenha sido lançada como single e não como parte original do álbum, "Blue Monday", que tornou-se o maior single de 12 polegadas da história em vendagens.
Voltando ao álbum Low-Life, este consolidou a mistura de rock com eletrônica que sempre caracterizou o som do New Order.

Na abertura, "Love Vigilantes", uma bateria marcial, uma massa de baixo e guitarras e, bem, um som de escaleta bem característico logo na introdução. É uma das canções preferidas deste que vos escreve, e digo sem medo que chorei quando eles a tocaram na primeira vez que assisti ao New Order ao vivo, em novembro de 2006, no Rio de Janeiro.
O álbum segue com o New Order quebrando uma tradição dos álbuns anteriores, que era de não incluir os singles nos álbuns. Porém, por pressões da gravadora americana Qwest Records, que havia comprado os direitos de distribuição do catálogo da banda por lá, "The Perfect Kiss" entrou no disco. Porém, em uma versão propositalmente editada, para forçar os fãs a comprarem também o single que saiu no mesmo dia do álbum.
"The Perfect Kiss" é até hoje um dos maiores sucessos do New Order, com seu crescendo entre efeitos eletrônicos diversos e uma linha de baixo espetacular de Peter Hook.
Para aumentar ainda mais a aura de clássico, o clipe, dirigido por Jonathan Demme (diretor que ficaria famoso nos anos seguintes com filmes como "O Silêncio dos Inocentes") mostra a banda executando a canção ao vivo num estúdio, com a câmera captando as tensões e emoções dos membros da banda executando seu trabalho. São dez minutos de pura arte.
O álbum segue com "This Time of Night", canção que começa com uma batida mais cadenciada, mas que aos poucos acelera e fica bastante tensa ao fim com os instrumentos e a voz de Bernard Sumner dividindo igualmente os espaços em diversas camadas.
O lado A fecha com "Sunrise", provavelmente a faixa mais "roqueira" que a banda fez em toda a carreira. Uma linha de baixo firme e um mar de guitarras, com Bernard praticamente gritando a letra.

O lado B começa com "Elegia", uma delicada canção eletrônica instrumental que se tornou favorita de muitos fãs, e que entrou até em trilha de filme (no caso, "A Garota de Rosa Shocking, um cult dos anos 80 escrito por John Hughes).
Na sequência temos "Sonner Than You Think", uma canção mais leve, com a bateria se encaixando bem com linhas de baixo e guitarra bem melódicas, e com uma letra que toca até em política, com Bernard cantando que algum outro país é maravilhoso, e que colocou sua Inglaterra "em desgraça". Lembrando que eram os anos Thatcher de liberalismo selvagem lá na terra da rainha...
O álbum prossegue com "Sub-Culture", que viria a ser o segundo single extraído do álbum, e que é uma canção eletrônica, "alegre", mas ao mesmo tempo com um toque meio deprê. Pode ser pelo jeito que Bernard quase recita os versos, mas a vontade de dançar é maior que a de ficar pra baixo.
Finalizando o álbum, há "Face Up", que para mim é A música que representa perfeitamente a mistura de rock com eletrônica do New Order. Ela começa com uma linha de sintetizador puro, vai crescendo com outros efeitos até explodir com todos os instrumentos juntos em harmonia.

As letras do New Order raramente fazem muito sentido. O baterista Stephen Morris, em recente audição coletiva do disco no Twitter, disse que nem o próprio Bernard deve saber o que queria dizer com certos versos...
Neste "Low-Life", pela primeira vez os rostos dos integrantes da banda apareceram nas capa, contracapa e encarte do álbum. As primeiras edições, inclusive, vinham com uma espécie de sobrecapa com o nome da banda para você usar seu membro preferido na frente. Coisas do design fora da curva de Peter Saville. Por padrão, a capa é com Stephen Morris.
A banda, no embalo desse álbum, fez shows pela primeira vez no Japão, o que rendeu o vídeo "Pumped Full of Drugs". É interessante ver a banda dando tudo de si para uma plateia respeitosa até demais...
No ano seguinte, o New Order lançaria o álbum Brotherhood, que tinha algumas sobras desse período com outras canções novas. Incluindo uma certa "Bizarre Love Triangle", que fez a banda explodir de vez em sucesso mundo afora.
Low-Life entrou em várias listas de "grandes álbuns", incluindo a da revista Q de "maiores álbuns de artistas ingleses" e, junto com Technique, de 1989, está no livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer.




Nas fotos, várias imagens da banda e de seus instrumentos na época das gravações do álbum, extraídas do Twitter de Stephen Morris.

Expedito Paz é jornalista, apaixonado pelos anos 80, um parceiro fantástico e não bastasse, ainda é santista.

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