Discos para ajudar na quarentena (11): : O amadurecimento d´O Terno

O disco <Atrás/Além> d`O Terno é bom.  Ponto.
A frase deveria ser o suficiente para não ser preciso dar esclarecimentos maiores sobre um disco em que, iniciado a partir do zero, a banda se reinventou dentro de um espectro de maturidade que só a idade pode trazer.
Muito bem tocado, maravilhosamente gravado e com uma produção de primeiro mundo, o disco tem letras inspiradas e que alguns entenderam remeter ao primeiro disco solo de Tim Bernardes (Recomeçar, 2018) e à primeira ouvida, pode parecer ter uma leve cor melancólica...
Não tem e não remete.
Semelhanças apenas por ser o mesmo compositor e cantor.
Os dois discos tem a assinatura artística de um compositor que encontrou sua voz.

Logo na abertura do disco a canção "Tudo que eu não fiz" Tim canta que quer envelhecer. Se surpreendeu? Não devia... Você logo entende a visão do autor quando ele diz que “Não quero ficar preso à um final feliz”. 
Essa inquietação criativa é o que fez com que gente bacana como Jards Macalé, Paulo Miklos e Gal Costa prestassem atenção a esse jovem que nem chegou aos 30 anos de idade.

Além do baixo, bateria, violão e guitarra, a gravação também conta com belas orquestrações que deixam o disco com ares sérios, as vezes pesado, mas nunca depressivo.
Gabriel “Biel” Basile e Guilherme D´Almeida tocam com a segurança de veteranos mesmo entre arranjos mais complexos de cordas ou sopros. Os dois estão longe de serem coadjuvantes de Tim Bernardes e assumem o protagonismo em belas passagens instrumentais como em “Passado/Futuro” (que tem uma letra lúcida sobre a atual situação do país), “Pegando Leve” e no minimalismo adorável de “Eu Vou”.
Já o samba rock “Bielzinho/Bielzinho", que eleva a bola do baterista da banda, é a mais animada e descontraída de todo o disco e deixa um sorriso largo na cara do ouvinte logo na primeira audição.
"Toca simples / Toca tranquilo / É bateria arte, meu amigo / É rock n roll, é baião / Pop, erudito / Ah! Como ele toca bonito!" – diz a letra e ouvindo o disco, é impossível discordar.

<Atrás/Além> é um disco diferente dos anteriores. Ainda bem... Quem se repete demais fica caricato.
E não que isso comprometa, mas particularmente, senti falta um rockinrolzinho...
Enfim, <Atrás/Além> é um disco de autoafirmação, da descoberta das dores e delicias de se ser amadurecer e é, sem dúvida, um disco pra ser ouvido várias e várias vezes.
E acredite, você vai sempre descobrir algo novo, uma outra nuance, um novo trecho surpreendente e apaixonante.
Provavelmente, a cada audição sua faixa preferida vai mudar.
Ouça de coração aberto.

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