Música e esporte - Paralelas que se cruzam (Lado A), por Márcio Kohara

Música e esporte são dois assuntos que por muitos motivos caminham juntos.
Seja por conta do estímulo que a música pode proporcionar, seja pela trilha sonora... Ou pelo fato de atletas, de uma forma geral, acabarem tendo o mesmo apelo junto ao público quanto os músicos.
E isso se confunde muitas vezes com atletas entando o caminho da música e músicos sendo atletas.

Muitos podem não considerar esporte, mas o automobilismo, por exemplo, já teve um piloto Bee Gee... E em contrapartida, George Harrison amava F1.
Então pedimos ao jornalista Márcio Kohara que falasse um pouco sobre essa promiscuidade bacana entre esporte e música...
E ele mandou bala.
Hoje, dividido em dois lados, como em um vinil, vem a primeira parte desse delicioso texto unindo duas coisas que a gente gosta muito.
Na sexta vem o Lado B. 
Aproveitem!

O Pelé na música ou o Pelé da música?
Há uma grande diferença entre dizer que alguém é o Pelé da música e dizer que alguém lembra o Pelé na música. 
É obvio que o primeiro é um elogio, uma analogia ao que o sujeito que imortalizou a camisa dez fez em campo. 
Mesmo depois de mais de quatro décadas em que o deixou os gramados, Pelé ainda é sinônimo de altíssima qualidade no campo de atuação a que nos referimos, no caso, a música. 
Por outro lado, fazer a analogia falando que o mesmo fulano se parece o Pelé na música… Bom, aí se trata de uma crítica ao cantor. Mas o melhor jogador de futebol da história foi um desastre absoluto no ramo musical?  Não necessariamente. 
A verdade é que Pelé gostava de cantar e se defendia bem no violão, mas o dom natural dele no campo da música era limitado -algo que nós, mortais, não esperávamos de um sujeito de tamanha habilidade em campo. 
De toda a forma, vale a pena lembrar que ele chegou a lançar um disco e estrelou comerciais (como o anúncio do ministério da educação no governo de Fernando Henrique Cardoso), mas nunca foi uma unanimidade enquanto musico.

O fato é que a habilidade esportiva e a musical não são grandezas proporcionais ou mesmo excludentes, então o excesso de qualidade no campo desportivo não significa que o mesmo sujeito não tenha nenhum talento na música. 
Ou vice e versa. 
Ou mesmo que não tenham talento nos dois campos, como nos mesmos podemos comprovar.
Da mesma forma, Pelé não foi o único esportista a se aventurar no ramo musical e se expor aos tomates lançados pelo público. Pelo contrário. 
Outros nomes ligam o campo dos esportes com o ramo da música. 
Temos exemplos que conseguiram se destacar no campo musical e no esporte.

Lesões.
Englobando um roteiro básico de como a trajetória se desenrolou, temos o cantor que teve algum destaque inicial praticando algum esporte, mas achou melhor abandonar o campo esportivo -seja por algum problema físico ou qualquer outro motivo- e tentar a carreira no campo musical. 
Um exemplo que se destaca até hoje na música é o de Simone. 
Jogando como pivô, defendeu a seleção brasileira de basquete adulta e chegou a participar da preparação para um campeonato mundial (1971). 

Outro destaque é Julio Iglesias, que chegou ser a goleiro do segundo time do Real Madrid, o Castilla, mais ou menos na mesma época e era cotado como uma jovem promessa. 
Mais tarde, Jack Johnson chegou a ser o mais jovem surfista a disputar uma etapa do campeonato mundial. 
E eles não precisariam, necessariamente, ter um destaque tão grande. 
Filho do também cantor João Nogueira, o carioca Diogo Nogueira teve passagem pelo pequeno Cruzeiro de Porto Alegre, onde quase se profissionalizou. 
Porém, para eles, a carreira esportiva foi atrapalhada por lesões, e consequentemente foi abreviada. Simone e Diogo Nogueira tiveram lesões nos tornozelos e joelhos (respectivamente), entanto Iglesias e Johnson sofreram acidentes que encerraram as suas carreiras esportivas. Nos casos deles, porém, o talento no campo musical garantiu a continuação da vida profissional com destaque.
Sucesso fora de campo

Claro que não são apenas as lesões que podem abreviar a carreira de um esportista, mas também a falta de habilidade ou de que as circunstâncias não permitem uma carreira no campo esportivo. 
E, assim, gente como os cantores Rod Stewart e Steve Harris, baixista e líder do Iron Maiden, ou o baixista Serge Pizzorno, guitarrista do Kassabian, estiveram em categorias de base de clubes profissionais.
Stewart tentou a sorte na categoria de base do Brentford, Harris esteve na base do seu amado West Ham e Pizzorno atuou pelas categorias inferiores do Nottingham Forest, apesar de ser um apaixonado pelo rival Leicester. Porém, para a sorte deles e da música, todos resolveram apostar no ramo em que poderiam alcançar mais sucesso.

Olímpicos
Colega de banda de Steve Harris, Bruce Dickinson é outro que teve uma carreira esportiva destacada antes de ganhar o mundo com a música. 
Dickinson foi esgrimista, ajudou seu clube a ser campeão nacional e chegou a estar na sétima colocação no ranking nacional da Grã Bretanha, sendo cotado para a seleção nacional olímpica. Porém, a fama internacional do Iron Maiden acabou ocupando todo o tempo do vocalista e o fez abandonar as espadas.

Quem chegou a disputar uma olimpíada depois de ter a carreira de música consolidada foi a violinista Vanessa Mae. 
Mae competiu no slalom gigante nas Olimpíadas de Sochi, em 2014, se tornando a terceira atleta a defender a Tailândia. Posteriormente foi acusada de ter falsificado resultados para participar daqueles jogos, mas acabou sendo inocentada e recebendo um pedido de desculpas da federação internacional de esqui. 
Mais tarde, ainda competindo esporadicamente, sofreu uma queda durante uma tentativa de se classificar para os Jogos de Pyongchean, na Coreia, em 2018, machucando o ombro e não conseguindo se classificar para o evento sul coreano.

Oscar de La Hoya foi nomeado a um Grammy de Música Latina no ano de 2000, com o álbum 2000, de músicas românticas. 
Porém, o norte americano filho de mexicanos, apelidado de “Golden Boy” (garoto de ouro) por sua medalha de ouro nos Jogos de Barcelona de 1992, ficou mais conhecido por ter sido campeão mundial de boxe. 
Hoje de La Hoya está ligado ao mundo do boxe, atuando como promotor e empresário.  
Outro que teve carreira musical depois de deixar as quadras foi Wayman Tisdale, que foi medalha de ouro na Olimpíada de Los Angeles em 1984 e foi escolha dos Indiana Pacers na primeira rodada de draft da NBA de 1985. Tisdale teve uma longa carreira no basquete e depois se tornou baixista de jazz, tendo oito discos gravados.

Márcio Kohara, jornalista.

Já escreveu sobre futebol de Grécia e Turquia. Hoje tem gostos mais comuns.

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