Ao Redor do Precipício (2020) - Frejat, após 12 anos, mostrando que é para frente que se anda

Dos lançamentos de artistas consagrados dentro do rock brasileiro nos anos 80, talvez este novo disco do Roberto Frejat seja o que mostre maior frescor, renovação e relevância não só à sua obra com e pós Barão Vermelho, mas a própria à música brasileira.
Primeiro álbum solo após sua saída oficial do Barão, Frejat não quis e nem precisou enfiar um monte de guitarras distorcidas a lá Carnaval (disco do Barão de 1988), a guitarra até está lá, mas de forma orgânica, elegante e tingindo as canções com timbres, texturas e sonoridades originais apenas nas porções necessárias. Não há exageros.
As letras são poéticas com críticas bem direcionadas e muito amor, como tem sido desde que se aventurou a gravar de forma solo.

Ao Redor do Precipício é, sem exagero, uma das mais belas coleções de canções postas lado a lado nos últimos anos e tem uma capa das mais bonitas também, mas infelizmente, Frejat disse em entrevista ao canal Alta Fidelidade que não pretende lançar o disco em formato físico. Nem CD e nem vinil.
Para nossa esperança não morrer, ele disse também que algum tempo atrás não pensava sequer em gravar um álbum, que não via sentido e nem um público que estivesse interessado formato.
Que bom que ele mudou de ideia...

Com uma roupagem moderna, mas sem soar pretencioso ou estar dentro de um modismo qualquer, tudo trabalha em prol das canções.
A produção, que foi distribuída entre músicos que também tocam no disco - o genial Kassin, Humberto Barros, Mauricio Negão e o próprio Frejat - dá unidade ao disco, diferente do que se poderia pensar quando há tantas cabeças diferentes juntas.

Logo após a vinheta que dá nome ao disco e faz as vezes de abertura com uma linha de baixo que lembra vagamente o tema de Missão Impossível, um naipe de metais introduz “Te Amei Alí”, canção escrita com Zeca Baleiro e que aqui ganha uma versão totalmente divorciada daquela gravada no disco O Amor no Caos Vol I do maranhense. Nem melhor e nem pior, mas diferente e tão linda quanto com suas inflexões de soul music e r&b.
No total, são 43 minutos com bons rocks, blues - que Frejat sempre gostou -, baladas honestas e até flertes com a disco music na empolgante “Tudo Que Eu Consegui” e com o baião na fantástica “E Você Diz”, parceria com o monstruoso Jards Macalé e letra do gigante Luiz Melodia.
Tem até uma brincadeira com funk 150bpm e guitarras pesadas em “Batidão Mix” que acaba funcionando como um respiro divertido dentro da intensidade toda do disco.
“Todo mundo sofre” tem um dos solos mais bonitos de todo o disco e a pungente balada “Por Mais Que Eu Saiba” traz os versos que dão nome ao disco (...Por mais que eu saiba desde o início, ando ao redor do precipício...) e tem alguns ecos beatle que conferem à música uma estranha e confortável sensação de familiaridade.
Em “A Sua Dor é Minha”, a voz principal é de Alice Caymmi e isso dá à faixa uma aura sedutora e épica com um coro e arranjo de cordas do parceiro Arthur Verocai.
Por falar em parceria, também estão presentes nas composições Dulce Quental, Leoni, Ritchie.
Serginho Trombone também participou com arranjos e tocando no disco e isso acaba funcionando como uma homenagem músico falecido em abril deste ano.
A gente só espera não ter que esperar mais doze anos para ter um novo álbum de Frejat.

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