Caixas comemorativas e edições especiais: quando o investimento vale cada centavo

Nestes tempos de streaming, o disco físico virou produto para um nicho específico de compradores: os colecionadores.
E as vezes ainda mais específicos, que são os colecionadores completistas, aqueles gastam dinheiro em diversas edições do mesmo álbum apenas por uma pequena diferença no track list (bônus e coisas assim) ou da arte gráfica.
Há também os que compram por conta de remasterizações que no fundo nem se nota quando o disco está tocando.
E os artistas, em geral do primeiro time, já se tocaram desta situação há algum tempo e começaram a investir em edições comemorativas de datas redondas para relançar alguns títulos de olho na carteira deste pessoal especial.
Então, temos obras que por vezes trazem mimos como posters e reproduções fidedignas de material de divulgação da época do lançamento, registros ao vivo das turnês originais, gravações de ensaios, outtakes e diversos outros badulaques.
A intenção é que, em uma visão geral se pague por coisas que não precisaria ter, mas como você é completista, compra.
E paga caro. Muito caro...

Um dos últimos lançamentos nesse sentido já foi comentado aqui mesmo no Musique-se e se trata da caixa comemorativa de quarenta anos de lançamento do filme Flash Gordon do diretor Mike Hodges e que teve trilha sonora escrita e interpretada pelo Queen.
A associação entre a banda e o filme foi tão grande que o disco foi lançado como parte da discografia do Queen e assim, quando se comemora o aniversário redondo do filme a caixa assume ares de lançamento oficial. Ainda que não seja.

A caixa luxuosa caixa traz além do filme, claro, em dvd e blueray, quadrinhos, pôsteres, cartões, entrevistas com Brian May e o disco original de 1980.
O produto tem como público alvo três grupos específicos: fãs de cinema, de ficção cientifica e fãs do Queen, o que garante que a edição limitada esgotará e levará o preço para perto do planeta Mongo.
A pergunta é:  se você não faz parte dos grupos citados, realmente vale o investimento?
Flash Gordon talvez não, mas resolvemos listar alguns destes lançamentos especiais luxuosos que custam um rim, mas que realmente valem o investimento do suado dinheirinho do fã.

Os Rolling Stones lançam ultimamente um monte de discos bacanas com registros de shows de suas diversas turnês, mas na hora de fazer caixas comemorativas dos álbuns de estúdio a coisa fica meio esquisita.

Let It Bleed (1969) por exemplo ganhou um 50th Anniversary dos mais fraquinhos contendo apenas edição original remasterizada e um disco extra com a versão mono.
Há algumas fotos bacanas no conteúdo, mas no fundo.... Nhé.
Mais bacana são as edições comemorativas de Sticky Fingers (1971) que foi lançado em 2015 que, além de um trabalho gráfico bonito, ainda traz um disco com versões alternativas das músicas em que até Eric Clapton aparece solando e outro contendo um show na universidade de Leeds no ano de 1971.
 Mais simples, mas também relevantes são os “De Luxe” de Exile on Main Street (1972) e Some Girls (1978) lançadas em 2010 e 2011 respectivamente que trazem discos extras com canções que ficaram de fora dos discos originais.

Outro gigante que lança belíssimas edições comemorativas são os Beatles.
Sgt Pepper Lonely Hearts Club Band (1967), The Beatles (White Album) de 1968 e Abbey Road (1969) tem edições de cinquenta anos quase imperdíveis.
Seja pela remasterização do som feita pelo filho de George Martin, Giles, seja pelo caprichado trabalho gráfico contido nas caixas ou pelo material sonoro “inédito” agregado a produto.
Enquanto “Pepper” e Abbey Road trazem um monte de outtakes das faixas que dão um novo entendimento ao trabalho que foi fazer os discos originais, o álbum branco entrega - em qualidade de som profissional - as Esher Demos, que são que a banda tocando juntos na casa de George Harrison as versões inicias e despojadas das músicas que entrariam na edição final do álbum original.
Além de versões para canções que ficaram de fora e só foram reaproveitadas em discos solo dos integrantes após o fim da banda.

Já o Pink Floyd trabalha não com edições comemorativas, mas caixas temáticas focadas nas fases da banda.
Assim, temos The Early Years 1965 - 1972, um exagero de nada mais, nada menos que trinta e três discos entre cd´s, dvd´s e bluray´s cobrindo o período que vai do primeiro disco, The Piper of the Gates of Dawn (1967) até Obscured by Clouds (1972).
O conteúdo é um deleite: gravações ao vivo em programas de rádio ainda com Syd Barret, o lendário show em Pompéia e vai até logo antes do arrasa quarteirão de 1973 que modificou todo o som e forma de trabalhar da banda.
Em uma pesquisa recente de preços, a edição completa da caixa não saia por menos de R$4,500,00 reais.
Recentemente, a banda soltou também a caixa Later Years 1987 – 2019 que além de todo o projeto gráfico lindo criado por Storm Thorgerson, tem cinco cd´s, cinco dvd´s, seis blueray´s, dois vinis e um livro de luxo.

Os grandes atrativos aqui são as remasterizações (ótimas) de A Momentary Lapse of Reason (1987) e da versão definitiva do ao vivo A Delicated Sound of Thunder (1988), além claro, da primeira aparição em disco do show de Knebworth em 1990 e um disco de remasterizações esporádicas de músicas do período.
Nos dvd´s e blueray´s há o lendário show da banda em Veneza, o show Delicated Sound of Thunder e o Pulse.
Preço? Por volta de três mil...
A boa notícia é que tanto o Early quanto o Later também são vendidos em pedaços...
A fase da banda que vai de 1973 (The Dark Side of the Moon) até 1983 (The Final Cut) não ganhou sua caixa própria, e provavelmente não ganhará tão cedo por conta das brigas constantes entre Roger Waters e David Gilmour, o que é uma pena.
Mas o fã não fica sem nada deste período já que discos essenciais como Dark Side, Wish You Were Here, Animals e The Wall ganharam em 2011 e 2012 boxsets chamados Immerse Experience Editions com muito material e discos com shows da época.
Infelizmente, já esgotados.

O Queen tem se especializado em lançar caixas com toda a discografia da banda remasterizada (Crown Jewells, 40 Years) e shows específicos de suas turnês como Live Montreal 1981 (The Game), On fire 1982 (Hot Space), Live at Raimbow 1974 (Queen II e Sheer Heart Atack) e A Night at Odeon 1975 em que a banda toca pela primeira vez o clássico “Bohemian Rhapsody”.
Mas caixa comemorativa, de fato, só a excelente News of the World 40th Anniversary de 2017.
A caixa vem com o disco original em vinil e cd e traz também discos extra com as Raw Sessions, que são as versões guia de cada música na ordem original do disco. Assim, temos “All Dead All Dead” com a voz de Freddie no lugar da de Brian, Roger gravando tudo em “Fight From the Inside”, a versão original do solo de “Spread Your Wings” e assim vai.

O projeto gráfico inclui cartas da banda para o público e para a gravadora, reprodução das fichas de gravação, cartazes e fotos da divulgação original em um estojo super luxo.
Hoje está difícil de achar, mas tem preço mínimo de R$1.200,00.
Ah, e só importando.

Do Deep Purple destaca-se a caixa do ao vivo Made In Japan lançada em 2014 e que traz a integra dos três shows japoneses que deram origem ao disco original e mais um cd apenas com os “bis”.
Mais legal ainda é a edição comemorativa de quarenta anos do Machine Head (1972) lançada em 2012 que além de uma masterização do disco original, tem também um show gravado durante a turnê de lançamento. Mas o supra sumo desta edição é uma nova remasterização feita por Roger Glover que deixa o disco mais orgânico, mais vivo, como se fosse um ensaio sendo gravado ao vivo no estúdio.

Já o Led Zeppelin optou por lançar toda a discografia em edições “de luxe” em que remasterizam o disco original e trazem discos com mesclas de faixas ao vivo com versões chamadas “rough mix”, ligeiramente diferentes das originais.

Outra que vale muito a pena uma bela procurada e gastar a grana é o boxset de Rumours (1977), disco fundamental do Fleetwood Mac que foi lançada em 2013.
Além da remasterização que jogou os instrumentos na cara do ouvinte de uma forma brilhante, também tem um show ao vivo da turnê de lançamento.

Menos acessível e não tão interessante para o grande público, a caixa comemorativa do primeiro disco do Velvet Underground também é algo bem caprichado.
Praticamente ignorado no lançamento, o disco Velvet Underground and Nico se tornou cult com o passar dos anos e seu especial edition traz singles e faixas que ficaram de fora, bem como alguns compactos da Nico cantando solo (mas com a banda fornecendo o som).
A banana da capa original, na caixa, pode realmente ser descascada.

No Brasil não tem tradição em discos comemorativos.
Os Titãs lançaram uma edição remasterizada (e outra ao vivo já sem a formação original) do Cabeça Dinossauro (1986) e a Legião Urbana, envolta em disputas judiciais entre os membros da banda e o herdeiro do espólio de Renato Russo comemorou apenas o lançamento do primeiro disco de 1985 com uma edição especial.
A ideia original era relançar o disco original acrescido com músicas que ficaram de fora do lançamento, faixas ao vivo gravadas durantes os shows e outtakes.
Devido a briga toda, apenas os outtakes sobreviveram para ver a luz do dia na edição dupla que chegou às lojas.

Discos essenciais como Dois (1986) que prometia uma edição comemorativa sensacional já que originalmente seria um disco duplo com faixas hoje lendárias como “O Grande Inverno da Rússia”, “Juízo Final” e a versão elétrica de “A canção do Senhor da Guerra” e As Quatro Estações (1989) acabaram ficando sem seus comemorativos.

Se alguém perguntar sobre as caixas lançadas por Paul McCartney de sua obra solo, fica a dica: Muito material gráfico e pouca música relevante nos extras, mas se é fã, vai com fé.

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