Corey Taylor, escritor: "Sete Pecados Capitais"


Para quem não conhece, apresento: Corey Taylor é o vocalista mascarado da banda Slipknot, e de cara limpa, ele é o líder de outro grupo, o Stone Sour.
A primeira, compõe o hall do Nu Metal, subgênero muito controverso e pouco aceito pelos tradicionais headbangers. Ainda que seja – pelo menos para mim – um tanto mal encaixado, confesso que, se eles fazem mesmo um som Nu Metal, o Slipknot pode ser uma das poucas do subgênero que eu dou atenção extra quando lançam trabalhos novos. E isso, senhores e senhoras, é raro em se tratando de bandas que carregam esse rótulo.
Já a Stone Sour é uma banda boa; tem um pé no Hard Rock e outro no Heavy Metal que atenderia melhor as expectativas caso você seja do tipo que ignora qualquer coisa muito moderna groovada, ou bandas com DJ, sintetizadores, percussão em excesso.
Porém o assunto aqui não é vender o peixe das bandas do vocalista Corey Taylor, mas propagandear o seu talento "recluso": o exercício de autor de livros.

Lembrada dos seus dotes com as palavras, na semana passada, uma notícia foi divulgada:
Corey estaria a postos de colocar mais um livro para o público, só que dessa vez ele faria uma seleção de frases do seu colega de Slipknot que atende pela alcunha de "Clown".
Em uma entrevista recente no Mosh Talk With Beez, no site do Knotfest, Taylor revelou que há 20 anos ele vem anotando frases que Clown – Shawn Crahan - diz e que o resto da banda acaba usando. "O mundo vai realmente sentir o gosto do Clown não filtrado, o que é ótimo, eu adoro – porque isso que as pessoas vão entender quando eu lançar o livro, será incrível."
De acordo com Corey, o parceiro de banda é daqueles que filosofa com base em ditados, em expressões populares e os resultados são extraordinários. O projeto, segundo ele, é montar um livro de mesa de centro, só com as frases recortadas do amigo, para que todos conheçam “o Clown”.

Essa obra será, com certeza, uma exaltação sobre a mente criativa de um dos líderes do Slipknot, o palhaço mais esquisito do meio musical. Enquanto ela não chega, me digam: vocês conhecem esse lado escritor – filósofo contemporâneo – de Corey Fucking Taylor? Não? Pois deviam. E é sobre isso que vamos falar hoje!

Tudo deve ter começado lá pelos idos de 2001 quando iniciou suas escritas com colunas mensais para a publicação britânica Rock Sound. Por ali, ele sentiu que tinha um jeitão para escrever mais vezes. Em 2010 então, lançou Seven Deadly Sins: Settling the Argument Between Born Bad and Damaged Good – aqui no Brasil, Sete Pecados Capitais foi publicado pela editora BestSeller em 2013.


Em qualquer lugar que você procurar sobre o livro, uma simples sinopse, dirá que este é o primeiro livro de Corey Taylor. Até aí beleza. O erro acontece, ao colocar já na cara - ou seja, na capa - que trata-se de uma autobiografia. De fato, Taylor conta detalhes de sua vida, mas não é uma autobiografia convencional. Ali, as histórias fazem um sentido quase de dissertação.
Corey escreve extraordinariamente bem. Ele é também o letrista das bandas supracitadas, então isso não seria de surpreender. Pelas letras de músicas (algumas são bem raivosas e até engraçadas) dá para sentir isso.
Usando e abusando bem da retórica, a parte mais densa do livro não são suas aventuras, dramas ou erros. Se espremer o livro, o que sairá é pura filosofia. Não é exagero meu, embora, vocês não lerão em nenhuma resenha por aí, essa definição.
No livro, Corey debate os nossos sete pecados capitais e ao contrário do que os editores pensaram que se tratava o livro, as histórias pessoais do músico são pretextos para falar de coisas que (todos) nós, volta e meia, cometemos. Alguns dados como pecados, ele afirma que cometeu todos, e a maioria das pessoas, também cometem.

Naquelas páginas então, a biografia diferente, apesar de bem humorada, possui capítulos muito sérios, absortos em reflexão, autocrítica e um modo de ver o mundo que, apesar de não identificarmos (ou sim, sabe-se lá!?) entendemos tão bem que somos levados a uma concordância quase que imediata. Corey mostra que, rockstars são complexos, mas humanos, sobretudo. Na contracapa do livro, um insight do conteúdo: "O dom da vida era uma bosta; eu queria tudo, e rápido."

Dividido em 11 capítulos, os títulos aguçam a curiosidade e a leitura flui tão bem que é interessante perceber como Corey tem o dom do diálogo. Nesse primeiro livro publicado, ele parece estar realmente conversando com o leitor.
A introdução é divertida – ela conta como aprendeu a amar um ventilador de teto - diretamente com uma história mais que absurda da qual ele passou para começar a dizer qual é a intenção do livro. Logo em seguida, os pecados: A Ira do condenado, Doença da Luxúria, Fogueira das Vaidades, Bicho-Preguiça, Estou com Inveja, Porquinhos Gananciosos e Gula de Punição. Para cada pecado, ele tem uma experiência para contar que ele ilustra com sentimentos e reflexão. Essas são apenas indícios para que filosofe pra valer. E ele fala, muitas verdades sobre mídia e costumes americanos. E se perde em assuntos com coisas muito engraçadas, do jeito Corey de ser, que não compromete o raciocínio.

A tese de Taylor é provar que esses pecados são totalmente inúteis. Na visão dele, esses pecados são uma arma religiosa para moldar o ser humano, e que seriam a pior coisa, uma vez que, cometidos, leva a pessoa a negar-se ou sentir-se culpada por algo que refletiria sua condição humana.  Por isso pauto o livro como filosófico: Como falar de condição humana e não pensar em filosofia?
Sua marca é um livro de vivência. E como vivência, ele ressalta sobre a "inutilidade" dos sete pecados capitais - que nada que parece bom é pecado, desde que você o faz sem prejudicar a si ou alguém. Exemplo: É bom comer? Sim, mas é ruim para sua saúde se você comer mais do que precisa.
Nas partes de crítica às religiões que tem os pecados como barreiras que demonstram má conduta, podem apresentar ideias espinhosas. Ainda mais para jovens fãs, cabeças de vento que podem mal interpretar o que ali está posto.  Bem sabemos: hoje a intolerância é massiva, e os “cancelamentos”, estão aí e não nos deixa mentir. Para Corey, os pecados não podem ser pensados como atos de eternos remorsos. A sua argumentação é simples: são erros que, aprendidos os seus malefícios, devem ser deixados para trás.

Minha Waterloo é o capítulo mais biográfico de todo o volume. É lá que ele se "desnuda" diante do leitor, contando a sua infância e adolescência, digamos... problemática.
Na conclusão do livro, ele trás as faíscas do seu pensamento inquieto que não tem medo de criticar a sociedade em que vive: o American Way of Life que a gente, todos os dias e sem perceber, copia e cola no nosso dia-a-dia.
Por fim, Taylor, coloca mais 7 pecados, os "Novos Magníficos", como chama.
Todos os novos "pecados" são reais, e seis deles fortemente doloridos e se encaixam muito mais na nossa sociedade. Spoiler? São eles: assassinato, abuso infantil, estupro, tortura, roubo, mentira, e o sétimo... Música ruim. Todos, com argumentos plausíveis. Até mesmo, o último, que convenhamos: Errado, Corey não está...!

Algo que restava após a leitura de Sete Pecados Capitais, era que Corey além de ser um grande interprete musical é uma das figuras do mundo do Heavy Metal, que não é um tipo artista pseudointelectual. Inteligentíssimo, ele nem tem a intenção de se mostrar um sábio, mas consegue falar das coisas de forma tão clara, que diz mais do que um pomposo artista pop que todo mundo gosta, porque, mesmo na brutalidade, ou apenas na brincadeira, escancara certas verdades.

Por sorte ele não parou só nesse livro. Quando saiu Sete Pecados Capitais aqui no Brasil, ele lançava outro, nos Estado Unidos – A Funny Thing Happened On The Way To Heaven (Or How I Made Peace With The Paranormal And Stigmatized Zealots & Cynics In The Process) – que infelizmente, por aqui, nenhuma editora empreendeu o projeto de tradução.
A sinopse sugere um livro sobre experiências sobrenaturais e inacreditáveis:

Desde que cresceu em Iowa, sua própria curiosidade o levou a situações que teriam feito a maioria das pessoas gritarem assustadas e saírem correndo para as colinas. Ele é corajoso o suficiente para ir para a escuridão e lidar com as conseqüências. Como resultado, ele viu fantasmas de perto e pessoalmente, seja enquanto vasculhava uma casa abandonada em sua terra natal, Iowa, quando criança, ou gravava um álbum na lendária mansão Houdini Hollywood Hills. Ele também tem as memórias (e cicatrizes) para provar isso. Por alguma razão, ele não consegue abalar essas histórias espectrais, e isso nos leva a este pequeno livro bem aqui ...
Uma coisa engraçada aconteceu no caminho para o céu compila os momentos mais íntimos, incríveis e insanos de Taylor com o sobrenatural. Suas memórias são tão vívidas quanto cruéis. Ao recontar essas histórias, ele questiona a validade dos sistemas de crenças religiosas e do dogma de dois mil anos de idade. Como sempre, sua escrita rápida, senso de humor nítido, honestidade desenfreada e anedotas aconchegantes são o argumento certo. Você pode acabar acreditando nele ou não. Isso é contigo. De qualquer maneira, você está em um passeio infernal.  

Ainda não entendi porque não temos um exemplar em português para  os preguiçosos (eu inclusa) leitores de um idioma estrangeiro...  
Seu terceiro livro publicado, You're Making Me Hate You: A Cantankerous Look at the Common Misconception That Humans Have Any Common Sense Left, lançado em 2015, e aqui no Brasil, com o singelo título de Eu te odeio!, pelo menos teve interesse das editoras nacionais para nosso deleite.
Maaaaaaaaas, esse é o assunto no nosso próximo post! Até!

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