O New Wave of British Heavy Metal cativava os
headbangers lá no finzinho da década de 1970. A questão
era que, o Heavy Metal tradicional ainda era recente, e a "antiga leva" do
metal britânico ainda não tinha se dissolvido para que se trouxesse o rótulo de "nova onda".
Mas vamos lá, musicalmente, o
NWOBHM dividia a música pesada dos anos 70, inspiradas no lema do punk ("Faça
você mesmo") e canalizava muita energia no som proporcionado pelas guitarras.
Estes eram as primeiras apostas de bandas como Iron Maiden e Dioamond Head. No
primeiro ano da década de 80, o movimento já havia se estabelecido, e os LP’s
de Motörhead, Saxon, Iron Maiden e Judas Priest faziam a cabeça dos fãs de música
pesada e não se limitava apenas os arredores do Reino Unido.
No livro "Heavy Metal: A História
Completa", o autor Ian Christe conta que ganhavam força as chamadas fanzines de
metal; revistas independentes (algumas, norte americanas) corriam soltas também no início da década de
1980. Promovendo textos informativos, as revistas falavam tudo a respeito das
bandas, e ajudavam (e muito) na divulgação de novos materiais dos selos
independentes.
Numa destas, a Metal Massacre,
revelou uma banda, ainda "verdinha", chamada Metallica. Eles estavam inclusive a ponto de fazerem
o primeiro EP, com o título, além de chamativo, petulante: o Metal Up Your Ass.
A demo, No Life 'til Leather teve
enorme repercussão e o seu conteúdo estava consolidando reputação ao grupo ainda
sem um disco para chamar de seu.
Entre negociações para o primeiro LP com selos independentes, haviam os detalhes que promoveram as mudanças no
lineup da banda – primeiro ocorreu a expulsão do baixista Ron McGovney para
terem Cliff Burton no posto. Rapidamente, houve outra expulsão, só que dessa vez mais cruel
e também, abrupta: o guitarrista Dave Mustaine era um tipo insubordinado. Sendo
um rebelde que bebia muito, não foi alertado que incomodava os outros três
membros – Cliff, James Hetfield e Lars Ulrich. Colocado para fora, sem mais
explicações (o que estabeleceu uma rivalidade com a futura banda do Mustaine, o Megadeath), trouxeram do Exodus o guitarrista Kirk Hammett, e com ele, em
1983, o Metallica gravava e lançava o Kill 'em All.
O primeiro álbum do dos caras era totalmente
calcado nas novas tradições metálicas, melhorava e ampliava o gênero de modo bem
seguro e quase maduro. Cheio de peso, muitos riffs e distorções, o disco arrebatou a cena: o
Metallica trazia com seu debut formal, um metal rápido que nenhuma outra banda
fazia na época (exceto talvez, o Motörhead, cuja influência era bem clara, no
Kill 'em All).
Sei o que estão pensando... O que
tudo isso sobre o Metallica tem a ver com o título da matéria? Pois bem... Para
serem vistas de modo diferente na cena Heavy Metal, bandas iniciantes como o
Metallica começaram a chamar a música que faziam de Power Metal, pois usavam em abundância o "power chord" dava um som bem pesado e potente às guitarras. Somadas ao
ritmo veloz, tom épico e vocais mais desenvolvidos que o normal, deu à essa
leva de grupos o rótulo em questão.
As novas bandas no começo dos
anos 80 duplicavam os atributos do Heavy Metal, acrescentando mais elementos
explosivos, criando assim, o sub-gênero. O termo Power Metal é assim mesmo, amplo:
descreve bandas como Exciter e até os gritos sombrios proporcionados pelo
dinamarquês King Diamond (foto ao lado) e o seu grupo, o Mercyful Fate. O álbum debut, Mellissa é
descrito no livro de Christe da seguinte forma: uma "junção de Heavy Metal
clássico, Power Metal e o furtivo movimento Black Metal".
Assim, as bandas iam fazendo seu
som cada vez mais rápido e duas vezes mais "triturador" que o Metal tradicional
e foi o Kill ‘em All que teria proporcionado essa alavancada no estilo.
Na onda do sucesso do álbum, o
selo Megaforce pegou, de uma só vez, bandas como Manowar, Exciter, Anthrax e
Raven para produzir discos. Cada um lançou um álbum importante na ocasião e não
havia nada de homogêneo no som destas bandas – o primeiro, criadores de grandes
hinos como guerreiros do metal, mudava a imagem de uma banda comum de Metal:
guerreiros que usavam pele e couro de animais de verdade. A atmosfera medieval
deles era a faísca necessária para aqueles que quisessem unir letras
fantasiosas à guitarras rápidas para formarem a base de sua música.
As "regras" impostas pelo Iron Maiden
e Judas Priest foram, neste subgênero, dobradas.
Não é de se espantar que tudo
isso soe esquisito. Tínhamos em mente que os caras do Metallica foram um dos
primeiros nomes que descreveriam a semente do Thrash Metal. Já o Power Metal
sempre se ligou à bandas de um outro país que não os EUA. Accept e Warlock são
duas das bandas alemãs que mais podem definir perfeitamente como soaria o
subgênero: eles levavam duplas de guitarra solo, vocais quase histéricos e
baterias retumbantes à formulação de seu som.
No caso de Warlock, a vocalista
Doro Pesch trazia para o estilo, a necessidade dos vocais rasgados ao mesmo
tempo em que fossem sofisticados.
Isso tem uma explicação que faz
sentido.
Enquanto, de fato, o Metallica
(com o Ride The Lightning - 1984), o Anthrax (com Spreading the Disease – 1985)
estavam fazendo nascer outro subgênero – enfim, o Thrash Metal, da qual não só
eles, mas Death Angel, Exodus, Megadeth, Voivod entre outros, ficariam
conhecidos - o Power Metal seria aquele estilo que ficou no interstício entre o
HM e o Thrash, como uma fase de transição que, de alguma forma, não ficou
esquecida no tempo. As bandas – americanas, em suma – não se acomodaram e
passaram a apostar muito mais no peso, mantendo ainda, a agilidade dos riffs.
Do continente europeu, o hard
rock alemão tinha a cara na MTV graças ao Scorpions. Accept tinha um pouco mais
daquele apelo pouco comercial do metal que quebrou os padrões do NWOBHM com os
discos Breaker (1981) e Balls to the Wall (1983). Como um seguimento do Power Metal
na Alemanha, podemos destacar ainda Running Wild, Grave Digger e a já
mencionada Warlock. Lembraram do Helloween? Pois vocês não estão longe de
estarem errados. A banda liderada por Kai Hansen surgiria em 1984 e
influenciaria diversas bandas ao redor do mundo.
Kai e sua turma ficaram
conhecidos por terem "criado" o Power Metal tal como conhecemos e identificamos, por isso, a gente sempre que pensa nesse som, exemplifica com o Helloween. Quando Kai deixou a banda em 1989, iniciou outro projeto de mesma base sonora: o Gamma Ray. As bandas alemãs também influenciariam a evolução sonora com o
glorioso Speed Metal.
Como o nome diz, o Speed Metal
apostava na velocidade numa imbricada forma de misturar Iron Maiden e
Metallica, enfatizando a dupla de guitarras rítmicas do primeiro e os truques
ágeis do segundo. Os mandantes desse sub-gênero seriam o Destruction, o Sodom e
o Kreator. O visual deles se assemelhava com aquele que o Metallica já mostrava
na América: calças e jaquetas de couro, cintos de bala de revolver e
munhequeiras com tachinhas.
O som ainda era levemente limpo e
mais melódico, mas que tinha o compasso forte e peso do embrião do Thrash, como
mostraria bem, o Sodom.
Assim houve uma explosão de
bandas de Speed Metal na Alemanha indo de Celtic Frost (suíço-alemães),
passando pelo Destruction, Sodom e Kreator, e chegando incluir na lista até o Helloween.
Os anos 1990 traziam outras
coisas que surgiam nos EUA: o Metal alternativo, com Faith No More e Ministry, o
Grunge com Pearl Jam e Nirvana e ainda uma boa leva do Glam Rock iniciado nos
anos 1980 surtia considerável espaço, especialmente por conta do acesso e apelo comercial.
Neste último caso, o Pantera copiava a pose do laquê e
cachecóis coloridos para seu início de carreira com o disco Power Metal em 1983, mas em 1990 eles emplacaram em definitivo com o cultuado por muitos, Cowboys From Hell que tinha os dois
pés fincados no Thrash. Na Europa, já estava correndo solto o Black Metal como outra ramificação.
Na Alemanha, as bandas de Speed
empolgavam os headbangers: o Helloween continuava muito bem, obrigado. Com
Michael Kiske nos vocais e não mais Kai Hansen (que ficou até 1989 só na
guitarra), eles haviam arrebentado (no bom sentido) com o Keeper of The Seven
Keys – part.1 em 1987 e seguiam bem, antes da substituição de Kiske, em meados de 1992.
Considerada por muitos (apesar do
livro de Christie dizer o contrário) como a criadora efetiva do Power Metal, o
Helloween foi a principal influência de outras bandas do gênero. A
sensibilidade melódica e épica que o Iron Maiden já tinha exaltado muitos anos
antes, somado ao jeito de abordar temas místicos ou heróicos (do Manowar,
talvez) nas letras. Isso fez nascer os bardos do Blind Guardian.
No mesmo ano que surgiu o
Helloween, eles davam início aos trabalhos, sendo conhecidos mais pelas letras
baseadas em literatura fantástica do que por um visual "estrambótico". Era o tipo
power metal alemão "com escudos e espadas" que se entendia consolidado e
poderoso no anos 90 e adiante.
O Helloween foi a principal
influência de outras bandas: os conterrâneos Edguy e Avantasia são dois bons
exemplos. Nos EUA, temos o Kamelot. Da Itália
vieram o Rhapsody of Fire com forte influência clássica. Da Suécia, o Hammerfall, e da Finlândia -
apesar do Black Metal norueguês e o metal escandinavo serem "populares" no país - o Power Metal também
estendeu um fio com Stratovarius, o Sonata Arctica, bem como o Nightwish,
totalmente Power Metal Melódico no início da carreira.
Para citar algumas outras, o Angra e o Shaman completariam
essa influência do Helloween, aqui no Brasil.
Todas essas, ou acrescentavam um
teclado como um elemento que se tornou chave e muito importante à sonoridade
final, ou adição de habituais coros épicos. Também possuem grande destreza técnica nas guitarras
(com solos que são, em suma, espetaculares) e na bateria (com grande velocidade
no bumbo duplo). Letras que abordam a fantasia e, ocasionalmente, sons de
orquestra completam aspectos de algumas dessas bandas e são fatores genéricos que ajudam a entender o poderio do Power Metal na história do Metal.
Abraços afáveis e Musique-se!
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