Rough and Rowdy Ways e Homegrown: Entre Bob e Neil, fique com os dois

O fim de semana foi marcado pela audição dos lançamentos - no último dia 19 - dos discos de dois gigantes de música mundial.
Bob Dylan e seu primeiro disco de inéditas em 8 anos e Neil Young, lançando um disco que foi engavetado em 1975.

Dylan, excelente observador e um escritor melhor ainda, reflete sobre a humanidade, sobre a finitude em um disco denso com letras inundadas de citações à história, cultura pop...
A capa, apresenta um salão com pessoas dançando, mas, com as faixas do disco, a última coisa possível de se fazer é dançar.
Ok, não se espera isso de um disco de Bob Dylan mesmo... Não é?
O problema é quando, por ser quem é, qualquer coisa que lance ganhe o status de “obra prima”, de melhor coisa de todos os tempos, quando na verdade, o disco chega em alguns pontos a ser um tantinho monótono.
Talvez tudo ficasse muito mais apropriado sendo um livro, mas Bob Dylan é antes de tudo um músico, então...
Mas há pontos altíssimos em Rough and Rowdy Ways: “False Prophet”, “Goodbye Jimmy Reed”, homenagem ao bluesman morto em 1976, “Crossing the Rubicon”... Todas calcadas profundamente no blues e que são maravilhosas. O primeiro single,"Murder Most Foul", com seus épicos 17 minutos e sua letra fantástica também é um ponto alto. Mas para quem não saca inglês...
A voz de Dylan, que com o passar dos anos ganhou em beleza e profundidade tem durante toda a obra um tom narrativo. Para as letras é ótimo mas, para o ouvinte pode chatear um pouco.

Não entendam mal, não estou dizendo que disco é ruim, mas não vou dizer nunca que é a melhor obra de Dylan com vem sendo pintada.
Ao menos na parte musical, ainda que impecavelmente escrito, arranjado, executado e de um bom gosto gigantesco, parece faltar algo que cative quem não é convertido ao bobdylanismo.
Já na parte lírica não se espera nada menos que genial vindo de Bob quando o assunto são letras, e aqui, ele mais uma vez, arrasou, mas mais uma vez... Sem o domínio do inglês, um certo verniz de cultura e algum conhecimento de história, complica.
Mas é sempre bom ter Dylan na ativa, lúcido e escrevendo como nunca, fazendo jus ao Nobel que lhe foi conferido.
Só não precisa demorar tanto para lançar coisas novas.

Já o disco de Neil Young, apesar de inédito e com o frescor que isso lhe confere, é um disco escrito no ano de 1975.
Algumas das canções apareceram em outros discos, mas o conjunto traçado por Homegrown dão novo sentido, nova proporção e tamanho.
As letras contam sobre o lado triste do amor e segundo o próprio Young, foi engavetado por ser “emotivo demais”.
A inspiração teria sido o seu relacionamento com a atriz Carrie Snodgress, com quem viveu um romance complicado.
As letras são embaladas por instrumentais delicadamente lindos tocados por gente talentosa como Levon Helm, Ben Keith, Karl T. Himmel, Tim Drummond, Stan Szelest e Robbie Robertson, e uma pequena participação de Emmylou Harris.
E até quando pesam a mão, como em “Vacancy”, o resultado é bonito.
Neil tinha razão: o disco é mesmo muito emotivo, mas também é emocionante. Digno de constar em qualquer lista de clássicos do canadense.

Em resumo, são dois discos de dois gênios lançados no mesmo dia, mas separados por 45 anos.
Enquanto o de Dylan irá agradar os fãs em cheio, o de Neil Young vai agradar a todo mundo que ouvir.
Na dúvida, fique com os dois.

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