O terceiro livro escrito por Corey Taylor, o
vocalista do Slipknot e Stone Sour, lançou em 2015 o You're Making Me Hate You:
A Cantankerous Look at the Common Misconception That Humans Have Any Common
Sense Left. Felizmente, aqui no Brasil, a editora Planeta lançou a obra,
traduzida um ano depois, em 2016. Esquisitamente sintetizaram o
título: Eu te odeio!
Aquilo que ficou só no "esboço" com Sete Pecados Capitais – o suposto livro autobiográfico de Taylor (que resenhamos esse semana aqui no Musique-se) – nesta
obra não veio "comendo pelas beiradas". Corey faz uma crítica sem meias
palavras, direto no meio das principais feridas da sociedade americana, que de
algum modo ou de outro, ressoa também na sociedade mundial.
Eu te odeio! foi um livro que ri
tanto da "falta de educação" e a falta de compromisso com aquilo que o filósofo Luís
Felipe Pondé chama de "a Praga do Politicamente Correto" que foi uma "lavada de
alma".
Antes de tudo, ele invoca uma
espécie de "alter ego": o Pescoço. É como esse "nome" ele não está nem aí para
falar os problemas do que mais irrita, até nas pequenas coisas.
Sem papas na língua Corey, critica o tratamento da mídia e dos norte-americanos com o pós atentado ao World
Trade Center, fala do quanto as pessoas ando colocando no mundo e criando filhos chatos e irritantes e
sobretudo, desce a lenha no vício em tecnologia, em futilidades e não poupa nem a música pop, que merecidamente, é destroçada pelo cantor - ou melhor - pelo Pescoço.
Taylor xinga mesmo, sem dó todas
as coisas que ele odeia, e (felizmente?) me identifiquei com a maioria delas: a
babaquice dos Reality shows, o quão ruim está a música pop, critica as baladas,
as pessoas lerdas (e no caso, ele cita as mesmas andando devagar no aeroporto),
crianças pentelhas que são muitas e não são regradas pelos seus pais bananas.
Acabou? Não. Ele xinga os péssimos motoristas, os shopping centers, as escolas
e principalmente, a imbecilidade do ser humano. Sim, ele odeia muita coisa. E
eu descobri que eu também. Principalmente quando ele fala sobre os adultos
imbecis, que vocês sabem, eu sei, são a maioria ao nosso redor.
A questão da crítica dele com
crianças foi a que mais me identifiquei. Desculpem pela falta de senso maternal, mas é que passei por uma fase de contado com
crianças, filhos de pais "avoados" que me fez questionar o tipo de pais que aquelas
pessoas que conheci durante a minha vida, se tornaram e que tipo de geração eles estão formando com uma criação totalmente duvidosa.
Num destes
eventos com crianças, Corey cita um amiguinho de seu filho, mimado e chato, mas
que rendeu uma situação que, ele contando, se tornou hilária.
Um outro evento, merece destaque: Falando de aeroportos e
reclamando da demora por conta da falta de noção das pessoas, ele aguarda um embarque observando um garoto de dois anos, solto pelo local. A criança em um carrinho
de malas, gritava "PA!" a cada dois segundos e jogava um objeto no chão
para fazer seus pais pegarem e devolverem para ele, que em seguida, arremessava
no chão de novo.
Num dado momento, ele jogou o
objeto no chão, um dos pais não devolveu e segurou o objeto. O erro, desencadeou o caos: Se iniciou um grande berreiro até
que um dos pais devolveu o objeto e o ciclo recomeçou.
Numa fração de segundos,
o pai, depois do "joga-pega-devolve", perde a paciência e tira o menino do
carrinho e o deixa correndo solto pelo aeroporto, gritando "PA!" para todos
ouvirem. Imaginem que saco...
Começou outro jogo, no meio do
tráfego o pai parava o que fazia no balcão para buscar o berrante ser que
andava descontrolado pelo aeroporto. O pai, buscava o garoto, e colocava ele perto de novo, para logo em seguida sair em disparada outra
vez.
Observando isso, Corey via que as
pessoas estavam com pressa, para seu espanto, e por várias vezes, ele viu que a
criança ia ser atropelada por um transeunte apressado e disse, em voz alta, na fila: -
Alguém vai atropelar essa criança e eu vou rir.
E assim, ele comenta o quanto
estamos vendo pais decepcionantes que não sabem impor limites nas crianças.
Isso explica, fatalmente, porque a nova geração de adolescentes, são
insubordinados, imediatistas e, porque não dizer, patéticos, tem tirado a gente do sério.
Na ocasião que li o livro, eu dei
risada, pois eu faço coisas semelhantes ao Corey Taylor (como falr alto "acidentes" que podem acontecer com crianças desgovernadas e pais desatentos) mas hoje, revisando
essa passagem, e pensando bem, não tem nada de engraçado. O futuro com esses
jovens de agora, quando adultos, é um pesadelo próximo da realidade...
São tantos bons detalhes do livro
que simplesmente, é impossível não questionar se realmente Darwin estava certo
em dizer que somos os seres mais evoluídos.
Citando uma outra passagem do livro, Corey
está num aguardando o sinal abrir, ele observa um moço que andava a pé com a cara no
seu celular. Quando o cara tropeça e cai, Taylor conta que soltou uma sonora
risada. É aí que ele contempla as idiotices das pessoas: a sociedade atual está "emburrecendo", dependentes de seus smartphones, com problemas nos músculos e
colunas por vivem encurvadas com seus laptops, se perdendo e bebendo da fonte
das futilidades fornecidas pela internet.
A gente gosta de ser idiota. Ele
mesmo conta momentos em que foi um verdadeiro babaca. E ele critica o quanto as
pessoas são medíocres por se darem ao disparate de fazer qualquer coisa por
prazer como, se embriagar e usar muitas drogas (como ele mesmo, já confessou
ter passado por essa fase). Refletindo o quanto somos realmente, gente sem
noção, ele coloca boas doses de ironias, piadas, e assunto sério, numa conversa
que faz todo sentido e ainda tem, sem medo de mais nada, uma pitada de "eu
também faço isso e é ridículo", quase um "mea culpa" no final do livro.
Existe mais uma de Corey
Taylor disponível, lançado em 2017, mas que, não atraiu editoras brasileiras talvez pelo
seu tema especificamente voltado para norte-americanos. America 51: A Probe into the
Realities That Are Hiding Inside "The Greatest Country in the World,
é um livro em que Taylor deve ter soltado os cachorros falando sobre a política
e cultura norte americana. America 51 conta com uma reflexão sobre o que sua
juventude e a sua viagem pelo mundo com as bandas Slipknot e Stone Sour
ensinaram a ele o que significa ser americano em um mundo cada vez mais
instável. Ele examina a maneira como a América se vê, especificamente no que
diz respeito à propaganda em torno das origens da América, enquanto também
celebra as peculiaridades e o comportamento que tornam um americano de verdade.
Taylor também dá uma olhada em
como o mundo os vê, e suas descobertas não devem surpreender ninguém. Mas por
trás do discurso e do delírio de Taylor há uma consideração inteligente e
ponderada, e até uma tristeza, do que a América é comparada com o que poderia e
deveria ser.
Equilibrando habilmente humor, indignação
e descrença, mais uma vez, Corey Taylor examina o núcleo apodrecido da América,
avaliando tudo, desde política e relações raciais até a dinâmica familiar
moderna, a geração do milênio e os "man-buns" – os caras que tem os
cabelos longos presos com um coque feminino (alguns com a nuca raspada). Nenhum
elemento do que constitui a América está a salvo de seus olhos hábeis e
ferozes. Continuando a onda de indignação moral iniciada em Eu te odeio!,
Taylor espelha perfeitamente a América contemporânea em seu próprio estilo de
assinatura.
Deve ser uma crítica ótima, mas
pelo visto, precisamos de um crowdfounding para tocar um projeto de publicação
em português. Alguém se habilita?
Abraços afáveis e Musique-se!
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