Agosto: "Mês do descosto"

Considerado o mês do cachorro louco ou mês do desgosto por muitos, Agosto é marcado por muitas perdas importantes e impactantes. Duas delas, que ajudaram a corroborar essa tola crendice, foram as de dois grandes ícones do cinema, de duas das mulheres mais belas que o mundo já viu: a nossa "pequena notável" Carmem Miranda e a eterna diva Marilyn Monroe. Coincidentemente, no mesmo dia: 5 de Agosto. 


Embora Marilyn tenha sido encontrada morta no fim da noite do dia anterior, por questões burocráticas e contratuais, a comunicação às autoridades só ocorreu na madrugada seguinte e isso determinou a "hora e data" oficiais.
Enfim, "coincidência" que só aumentou a crendice popular. 
Anos depois, quando Elvis também partiu nesse mesmo mês, mais um acréscimo tenebroso à conta do pobre do Agosto...

(Eduardo de Campos é um bom fã da Marylin. Nas horas vagas, ele assiste F1, filmes e é um apaixonado por bandas dos anos 1980, como Duran Duran e RPM.)

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Tomando o pequeno texto de Eduardo, celebramos hoje com a lembrança dessas duas figuras importantíssimas no meio artístico e no imaginário popular: Carmem Miranda e Marilyn Monroe.

Nascida Maria do Carmo Miranda da Cunha, em 1909, a cantora e atriz luso-brasileira é um ícone conhecidíssimo. 
Chamada de "A Pequena Notável" (devido a sua altura: 1,52m) e "Brazilian Bombshell", Carmem encantava a todos com seu jeito irreverente e "visual tropical", se tornando a primeira mulher a assinar um contrato com uma rádio no Brasil - a Radio Mayrink Veiga. 

Nascida portuguesa, mas brasileira de criação, ela conquistou fama internacional, fixou residência nos Estados Unidos (sempre levando o nome de nosso país para lá), chegou a ser a mulher mais bem paga de Hollywood e foi a primeira sul-americana a ter seu nome na calçada da fama.
Sua carreira musical deslanchou em 1930, e logo seu disco foi lançado, e o seu sucesso veio com a marcha-canção Pra Você Gostar de Mim, mais conhecida como Taí, escrita por Joubert de Carvalho. 


Em 1936, Carmen estreou no cinema! O filme Alô, Alô, Carnaval,  proporcionou à cantora um dueto com sua irmã, Aurora Miranda, na conhecida cena da música Cantoras do Rádio


A imagem amplamente ligada à Carmen Miranda é a sua fantasia de baiana, cheia de adereços e usualmente contendo um chapéu de frutas tropicais. Esse visual foi adotado por ela um pouco mais tarde dos eventos já citados, em 1939, quando participou do filme Banana da Terra. Nesse longa, Carmen fez uma de suas principais interpretações musicais com O que é que a baiana tem, de autoria de Dorival Caymmi. 


A fantasia sofreu variações ao longo de sua carreira, mas alguns detalhes específicos eram bem populares, inclusive para as festas de Carnaval da época: brincos grandes (geralmente argolas) e um turbante repleto de frutas e flores, sapatos e sandálias com plataforma (altíssimas) e roupas com babados. 
O comediante, Jerry Lewis (que também faleceu no mês de Agosto - em 2017) tem uma icônica cena imitando a cantora, no filme Scared Stiff (aqui no Brasil, sob o título de Morrendo de Medo) de 1953, e que nos dá uma ideia maior sobre a ampla referência que era Carmen, no exterior:


Contextualizando também, esse período é muito importante na História, afinal, na década de 1930, os Estados Unidos buscaram aproximação com os países da América Latina como forma de evitar que os tais se aliassem às tropas alemãs na guerra. Com o Brasil, o governo norte-americano utilizou a arte e financiamentos industriais para ganhar a simpatia do povo brasileiro e as autoridades locais. 
A Disney até ajudou nessa, com a criação do Zé Carioca, um papagaio que tem ginga e malandragem, e se torna amigo do Pato Donald quando o personagem "visita" a América do Sul.


Em ascensão nos EUA, Carmen Miranda viu sua fama crescer nesse período e tornou-se o elo de aproximação cultural do Brasil com os Estados Unidos, representando a música brasileira no território norte-americano. Assim, ela fez parte da chamada "Política da Boa Vizinhança", e na época, isso gerou desconfiança em grande parte da população e permanece em discussão, ainda hoje - sobretudo no meio acadêmico - que questiona fortemente a sua influência na "americanização" do nosso país e responsabiliza a cantora por ajudar a difundir o estereótipo da "república das bananas".

Carmen Miranda casou-se com o norte-americano David Sebastian, em 1947. David trabalhava em uma produtora de cinema e tornou-se empresário de Carmen após o casamento. No entanto, o enlace não era muito feliz. Biógrafos apontam David como influência negativa na vida da artista, principalmente em relação ao consumo de álcool. Ela teria começado a beber em excesso durante o casamento conturbado com seu marido que era alcoólatra. 
Além disso, a sua rotina de compromissos profissionais deixava Carmem exausta e ansiosa, por isso, ela passou a fazer uso de barbitúricos (remédios para insônia). Esse tipo de assunto a gente sabe qual seria o resultado, não é mesmo?

Viciada  em álcool e remédios, Carmen voltou ao Brasil para um processo de desintoxicação, em 1954. No ano seguinte, ela voltou aos Estados Unidos quase recuperada; mas ainda estava lutando com a dependência da medicação.
Em 4 de agosto de 1955, Carmen Miranda fez sua última aparição pública: uma gravação do The Jimmy Durante Show, logo depois de uma festa em sua casa.

A Pequena Notável acabou morrendo na madrugada de 5 de agosto de 1955, aos 46 anos, vítima de um ataque cardíaco, em sua casa em Beverlly Hills, na cidade de Los Angeles. A cantora foi velada na Califórnia e, depois transportada para o Rio de Janeiro para as despedidas dos fãs, amigos e familiares, sendo enterrada no Cemitério de São João Batista.


Já Marylin Monroe teve um fim tão trágico quanto. Um dos maiores símbolos sexuais do século XX, nasceu Norma Jeane Mortenson em 1 de junho de 1926. 
Filha de Gladys Baker (que trabalhava nos estúdios RKO como editora de filmes) ela não teve uma infância e adolescência das mais normais. Por conta das internações de sua mãe (que tinha problemas psicológicos), Norma passou grande parte de sua infância em casas de família e orfanatos até que, em 1937, ela se mudou para a casa de Grace Mckee Goddard, uma amiga da família. 

Se casou cedo, aos 16 anos com James Dougherty de 21. Dois anos depois James, na Marinha, foi transferido para o Pacífico Sul.
Foi operária de uma fábrica de armamentos no período da Segunda Guerra Mundial, quando o fotógrafo Davis Conover a viu, enquanto esse tirava fotos de mulheres que estavam ajudando durante a guerra, para a revista Yank. Assim, ela iniciou uma notória carreira como modelo pin-up. 


Nessa mesma época, separou-se do primeiro marido, Jimmy Daugherty. Começou então a trabalhar como modelo fotográfica, adotou o nome "Marilyn Monroe", tingiu as madeixas de loiro e teve seu primeiro contrato com a Twentieth Century Fox em agosto de 1946.  
Em 1949, sem dinheiro, concordou em posar nua para um calendário (foto, abaixo). O sucesso foi tão grande que ela acabou ilustrando a primeira capa da revista Playboy em 1953. 
Suas medidas era invejadas (pelas mulheres da época) e desejadas pelos marmanjos: tinha 1,66 metro de altura, 94 centímetros de busto, 61 de cintura e 89 de quadril.


Sua grande oportunidade profissional surgiu com um papel secundário em O Segredo das Jóias de 1950. Atraiu olhares e com sucesso, foi convidada a protagonizar o filme Os Homens Preferem as Loiras (1953), com o qual atingiu o estrelato total. Uma das cenas famosas do filme, Monroe interpreta a canção Diamonsd Are a Girl Best Friend:


A cena inclusive, foi a inspiração para o videoclip Material Girl da Madonna - uma das faixas do segundo álbum de estúdio da diva pop, Like a Virgin de 1984, uma das provas do alcance popular que Monroe atingiu algum tempo depois de seu falecimento.

No ano seguinte, em 1954, Marilyn casou-se com o então jogador de baseball Joe DiMaggio. Não durou muito: nove meses após o enlace, veio o divórcio. Ciumento, Joe não aguentava a exposição da esposa e o "desejo" que os homens tinham por ela. 
Já em 1956, Marilyn contraiu matrimônio com o dramaturgo Arthur Miller, porém também esse relacionamento durou pouco: em 1961, o terceiro casamento chegava ao fim, depois que Marilyn perdeu um bebê. No mesmo ano, ela estrelou o que seria o seu último filme, Os Desajustados. Em 1962, durante as filmagens de Something's Got to Give, Marilyn foi demitida devido aos constantes atrasos no set. Houve um problema danado com a produção e o filme acabou ficando inconcluso. 

Não se sabe realmente como Marilyn alcançou o status de sex simbol, mas que foi um fenômeno, foi.  O jeito de parecer vulnerável, mas muito sedutora, era uma fórmula que - ainda que fosse fingimento - jamais teve outra que alcançou semelhante feito.
Uma das mais célebres performances de Marilyn foi ter cantado Happy Birthday To You, de maneira sensualíssima para o presidente norte-americano John F. Kennedy, no Madison Square Garden, no dia 19 de maio de 1962. A encenação reforçou os rumores da época de que ambos eram amantes. Logo, seria umas das últimas coisas que ela faria publicamente.

Quatro meses depois do episódio, Marilyn foi encontrada morta, segurando o telefone, ao lado de um vidro de barbitúricos - da qual era viciada. O anúncio de falecimento se deu pela manhã, no dia 5 de agosto de 1962.
A hipótese de seu envolvimento amoroso com o presidente Kennedy (e também com o irmão Robert) era algo intrigante, e rendeu um episódio em que a casa da atriz foi vasculhada - supostamente por agentes do FBI -, antes da chegada da polícia, no dia de sua morte. 

A estrela, que deixou o mundo aos 36 anos, personificou o glamour hollywoodiano dos anos 50. Seu rosto nunca saiu da mídia, a sua imagem no filme O Pecado Mora ao Lado, é emblemática na cultura pop: o vestido branco esvoaçando e a roupa de baixo à mostra, foi copiado, caricaturado e explorado de todo jeito, por fãs reais e também tendenciosos. Até hoje, mais de 50 anos depois, a cena (abaixo), ainda é uma das mais famosas dos cinema.

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