Jerry Lewis: A falta que faz o meu eterno palhaço - por Michelle G. Gomes

Quando fui convidada para fazer um texto sobre Jerry Lewis, fiquei relutante, pois pensei: como escrever sobre seu ídolo sem ser tão passional?

Para quem não conhece, Jerry Lewis nasceu em New Jersey, Estados Unidos, em 1926. Era ator, comediante, diretor, produtor, roteirista, cantor, dançarino e filantropo. Enfim, fazia tudo de forma majestosa!

Não sou da época de suas produções, mas fui de uma geração que sempre gostou de filmes, desde muito cedo. E não foi diferente com relação aos longas protagonizados por Jerry. Desde minha infância (bem, bem cedo mesmo!) eu já adorava seus filmes. Não há como destacar o(s) motivo(s) que me impulsionava(m) ao hipnotismo de frente da TV na famosa ‘sessão da tarde’, da rede Globo!

Jerry sabia fazer ri e chorar. Sim! Há filmes que me emociona muito (quem conhece seus trabalhos saberá do que estou falando), seja por que a menina não queria rir do palhaço ou por que ele não ficava com a garota dos sonhos dele. Ele "brincava" com nossos sentimentos, com a nossa curiosidade, e abordava temas como (in)justiça, hierarquia, destacava a inocência, a valentia e o poder. Pode ser que para mim o que me atraía era um conjunto na forma de atuação: uma comédia tipo pastelão, meio infantil, simples e ingênua. Mas também poderia ser pelas situações inusitadas (e engraçadas) que mexem com a percepção cerebral? Ou o excesso de acidentes, tropeções e gritos? 

No entanto, fosse sozinha, na companhia de minha irmã mais velha ou de minha prima (tomando leite na mamadeira, e sentadinhas, juntas) estava eu lá assistindo seus filmes.

Como diretor, revolucionou o estilo de filmagens – sem entrar em detalhes, por não soar especialista – criou um sistema ("video assist system"), na qual ele tinha mais visibilidade como ator e diretor, durante a gravação de um filme.

Jerry ganhou fama atuando ao lado de seu parceiro, por quase 10 anos, Dean Martin - ótimo ator e cantor. 

Era quase uma versão de "O Gordo e o Magro" (Laurel & Hardy, em inglês): um bom mocinho - Dean e o "palhaço" - Lewis. 

Essa comparação não trago por acaso. O ídolo de Jerry era o ator Stan Laurel (o Magro) e há várias referencias ao comediante nos filmes de Lewis - tanto como inspiração em suas atuações como homenageando com o mesmo nome os seu personagens. Exemplo: "Stanley" em O Mensageiro Trapalhão (1960) e "Stanley Belt" em O Otário (1964), onde em ambos, Lewis assina o roteiro e é o diretor, também.

(Cena de O Mensageiro Trapalhão – homenagem ao Stan Laurel)

Dean e Jerry protagonizaram, em media, 20 filmes juntos, atuando, cantando e dançando. Há vários sucessos da dupla, como O Rei do Circo (1954), O Meninão (1955), A Barbada do Biruta (1953) e Morrendo de Medo (1953), entre outros. 

(Trecho da cena icônica de Morrendo de Medo – 1953)

Nos fim dos anos 50, cada um decidiu dedicar à sua carreira solo e não se sabe ao certo o motivo da separação. Reconciliaram-se (se houve algum rompimento sério mesmo) na década de 80 e Dean Martin faleceu em 1995.

Após a separação, Jerry produziu/atuou em mais de 40 filmes, com vários sucessos. 
Quem não viu ou conhece alguma cena de O Professor Aloprado, de 1963 (que conta até com uma refilmagem com Eddie Murphy de 1996), ou de Bancando a Ama-seca (1958), O Bagunceiro Arrumadinho (1964), O Terror das Mulheres (1961), Uma Família Fuleira (1965) e Errado pra Cachorro (1963)? 
Eu não conseguiria eleger as melhores cenas ou até mesmo os melhores filmes, por motivos óbvios!


Peço desculpas com antecedência, mas não há como fugir do sentimentalismo! Talvez seja coincidência... Talvez não... Mas costumo dizer que o longa de maior sucesso de Jerry, pelo menos no Brasil, O Professor Aloprado tenha uma parcela de influencia em minha carreira profissional: sou formada em química! Mas não, eu não danço assim: (risos)


Além de tudo, Jerry era filantropo. Ele liderava um programa beneficente anual, O Jerry Lewis MDA Telethon, na qual ajudava crianças com distrofia muscular. O evento contava com a participação de várias personalidades e ocorreu de 1966 a 2010. Ele decidiu fazer o primeiro show, em 1952, após um apelo de um membro da equipe que trabalhou com ele no "The Colgate Comedy" e ele terminava as apresentações com a frase "Você nunca andará sozinho". Tocante!

Entre uma produção e outra, Jerry seguia com seus shows de comédia em Las Vegas.

Porém, ele não era um "tão bom moço" como parece! Como todos na vida, tinha seus problemas e defeitos. Fez declarações polêmicas sobre homossexualismo e mulheres! Em certas entrevistas aparentava sem vontade de responder e não era nada divertido com os repórteres. Oras! Jerry era humano, com defeitos e qualidades como todo mundo! Isso não desmerece o seu talento como artista, apesar das pessoas insistirem no contrário. Esse foco nos erros das pessoas diz muitomais sobre quem julga e condena, do que imaginam... 
Há quem não admire ou goste de seu trabalho, mas é inegável sua importância no meio de entretenimento! Negar isso, é um tanto absurdo.

Depois de quase 40 anos, ao assistir um filme, fico "hipnotizada" da mesma maneira que ficava quando uma criança bem pequenininha e mergulho em gargalhadas, num "mundo-fantasia" criado por Jerry Lewis, toda vez! Nada mudou para mim com o passar dos anos. Só o fato de saber que ele não está  mais entre nós. Vale dizer que como fã, repetidas vezes disse que ele tinha que ser eterno e jamais poderia morrer! 
Infelizmente, Jerry nos deixou em 20 de agosto de 2017, devido a vários problemas de saúde ao longo da vida... E faz muita falta... Ah se faz!

Termino esse texto com a minha foto preferida de Jerry Lewis:


* Michelle Garcia Gomes é fã do Jerry Lewis há pelo menos 40 anos. E há pelo menos 30, eu escutava ela dizer se ele morresse, ela "morria junto".

Comentários