Musique-se Recomenda: "Last Christmas" e "Blinded By The Light"

O Musique-se pede licença para dar duas dicas de filmes cuja música age como personagem na trama. Em um deles, são músicas bem populares e regem a narrativa como um suporte, como um acessório. No outro, a música é uma protagonista, é o fio condutor de toda a história.

Ambos ainda trabalham com as paixões - regidas pelas obras de dois músicos famosos - e tem como principal foco, as diversas dimensões da vida: os problemas, as frustrações, o relacionamento familiar, as escolhas que nos fazem felizes e sobretudo, as nossas aptidões e talentos. 

Vamos à eles?

O primeiro, Last Christmas - aqui no Brasil saiu com o título Uma Segunda Chance Para Amar - é um filme que ficou em cartaz aos cinemas próximo ao Natal de 2019 e como o nome original indica, ocorre nessa época do ano, em Londres, na Inglaterra. 

Dirigido por Paul Feig (que é mais conhecido pelo papel de Mr. Eugene Pool na série Sabrina) o também ator e roteirista tem alguns outros filmes como diretor, conhecido do público cinéfilo; entre eles Caça-Fantasmas de 2016 - um reboot daquele sucesso dos anos 80, mas com protagonistas femininas. Isso gerou algumas críticas e polêmicas, como não poderia deixar de ser, e terminou considerado um grande fracasso de bilheteria.

Porém, não dá para considerar esse fato como o todo da carreira de Feig. Uma Segunda Chance Para Amar é um filme simples, e a produção comandada pelo diretor tocou uma combinação de fatores, que acabou sendo, além de leve, também muito bacana: o clima natalino, um cativante elenco e músicas do George Michael. 

Agora vocês sacaram o porque do título em inglês ser Last Christmas, certo? Essa é uma das canções mais famosas do grupo que revelou o cantor, o Wham!. A música do álbum The Final de 1986 acaba sendo interpretada pela protagonista do filme, no fim, isto é, num dos ápices. Uma moça que canta e se interessa por buscar trabalhos no ramos do entretenimento, mas falha quase todo tempo, a não ser, nessa conclusão agridoce. 

Mas não vamos protelar as coisas. Primeiro, vamos apresentar a ideia inicial do filme: Kate - interpretada pela Emilia Clarke - é uma jovem cuja a vida parece monótona e frustrante: trabalha como elfa (atendente) numa loja de artigos de Natal o ano todo e nas relações pessoais, nada dá certo com ela.

Quando chega a data especial, a véspera de Natal, seu trabalho se torna movimentado, e Kate conhece Tom (Henry Golding) por quem começa a nutrir uma forte atração. Como diz a sinopse, o romance se torna um "presente de Natal". Tom tem todo um mistério, um jeito e uma visão de vida completamente diferente do que Kate está vivenciando. Ele aparece mesmo como gatilho de mudança (para melhor, é claro!) do que ela vinha fazendo de sua rotina, até conhecê-lo quase como se fosse uma "artimanha" do destino... 

Soa como um filme romântico comum, mas ele se recheia de outros aspectos para além da atração entre os personagens, e isso pode ser considerado por alguns críticos como excessivo ou que carrega o filme  de um peso desnecessário. Porém, para mim, esses outros temas são toques interessantes que não perturbam a história tanto assim (os críticos é que são chatos, rsrsrs...). 

Kate é de uma família iugoslava, o que propicia uma inserção de contexto político a tratar sobre a presença de estrangeiros no Reino Unido e os radicalismos que isso sempre provoca (seja contra ou a favor dos imigrantes). Outro caso da presença estrangeira, é Santa - de Santa Klaus - uma chinesa que é a chefe e a dona do estabelecimento em que Kate trabalha. 

O gancho sócio-político parece carregado, mas é bem tratado - sem beirar o dramalhão, mas também não está banalizado. Além disso, Tom (e depois Kate) trabalha como voluntário para alimentar sem-tetos e pobres, mostrando mais uma vez que Tom é o cara perfeito que Kate precisava que passasse por sua vida, para transformá-la de uma vez por todas.

Existem clichês ali, mas não há nada de errado neles. Enquanto você está interessado(a) com a história fluida, ocorre o famoso "plot-twist" - aquela reviravolta inesperada (ou não tanto, caso você seja esperto). Não vou dizer o que é, vocês precisarão conferir por si. 

Para todos os pequenos dramas que Kate passa alguma música do George Michael rege o trecho - seja no começo, quando criança cantando no coral infantil a ótima Heal The Pain:


Seja ouvindo música no celular ou passando um vídeo do cantor na TV. Faith, Waiting For The Day, One More Try, Fastlove, Wake Me Up Before You Go Go e Freedom! '90 entre outras boas peças do George Michael figuram ambas como a perfeita trilha para desajustada Kate interpretada pela carismática e fofa Emilia Clarke. 
A atriz rouba a cena e apesar de já ter emplacado outro romance-drama (a adaptação do livro homônimo de Jojo Moyes Como eu era antes de você de 2017) cativa tanto que não dá mais para negar: ela é mais do que apenas a Daenerys de Game of Thrones. E nas entrevistas, como essa moça aparenta ser simpática! 

Já Henry é um ator malaio que ficou conhecido mesmo pela comédia Podres de Ricos de 2018; filme aclamadíssimo pela crítica e chegou a ser indicado de Melhor Comédia ou Musical na edição de 2019 do Golden Globes... Eu, particularmente, não achei para tanto, no entanto o cara conquista o público com a sua interpretação tanto lá, e especialmente aqui em Uma Segunda Chance Para Amar. O personagem uma tem intervenção angélica na vida da personagem Kate que é crucial... 
... Ops, escrevi demais! Passou da hora de deixar o trailer para atiçar a curiosidade de vocês:


Onde assistir? Bom, para quem tem tv por assinatura, o canal Telecine está com Uma Segunda Chance Para Amar na grade, neste mês de agosto e ainda tem dois dias de transmissão do filme - no Telecine Pipoca nos dias 28, às 18:05, horário de Brasília, e 31 às 16:20. 
Para quem não tem esse canal dá para alugar pelo Google Play e/ou YouTube.

A segunda dica trata-se de Blinded By The Light, ou como saiu aqui, A Música da Minha Vida. Assim como o Last Christmas, se passa na Inglaterra e tem um eixo narrativo sobre racismo e questão dos imigrantes como pano de fundo. 
As diferenças entre eles? Esse não se passa em Londres, mas em Luton, uma cidade do sul do país, à 51 km da capital. O protagonista não é do leste europeu, mas de uma ex colônia: é filho de paquistaneses. O tempo também é diverso: não se trata de uma história na Inglaterra atual, mas sim na Inglaterra dos anos 80. E não é uma comédia romântica, é um drama (ainda que leve) musical, com toques de sutis de comédia.

Não se espera, talvez, que temas sociais sejam tratados com sutileza. Mas é aí que está o pulo do gato: sim, o longa acaba entregando tanto uma crítica sócio-política contundente (sem ser muito superficial) quanto um divertimento que proporcionaria contar uma história de alguém que viu nas músicas de Bruce Springsteen uma razão de luta e (sobre)vivência. 


Ah claro, essa era outra diferença entre os longas, que eu estava já me esquecendo de pontuar: enquanto lá em Uma Segunda Chance Para Amar George Michael rege a narrativa de "transformação" da Kate, aqui Bruce Springsteen muda a visão de mundo de Javed, um filho de uma rígida - e tradicional - família de paquistaneses. 
O personagem vivido pelo ator Viveik Kalra é inspirada na história do jornalista Sarfraz Manzoor e dirigido por Gurinder Chadha - diretora inglesa de origem indiana e mais conhecida pela filme, Driblando o Destino de 2002.
Javed sonha em ser escritor, escreve poemas e letras de música para a banda do seu amigo Matt - feito pelo bonitinho Dean-Charles Chapman. Logo isso fica claro quando ele é incentivado pela professora (interpretada pela atriz Hayley Atwell) a lhe mostrar o seu trabalho. 
No começo das aulas (no que parece ser uma nova escola) ele encontra outro paquistanês (Aaron Phagur) que lhe apresenta fitas cassete com músicas de Springsteen. 

Podemos - embora não devemos - colocar que a segunda dica de filme para um dia de curtição em casa, beira o brega. Todavia, isso não parece totalmente ruim, pelo contrário, pode ser um agrado da história para o público. Em meio a empolgação e contemplação das músicas de Bruce, Javed também deixa ver o incômodo em estar na Inglaterra regida pelo pulso firme de Margaret Tatcher. Eram tempos difíceis, a falta de emprego e demissões acaba afetando a família de Javed, especificamente, o seu rígido pai.

O filme tem essa mescla de assunto sério, com rompantes clássicos de musicais em que os protagonistas decidem ser felizes e saem dançando pelas ruas. A gente entende isso na primeira vez que Javed coloca as fitas em seu walkman (a geração de hoje, nem sabe o que é ter um aparelho destes, e rebobinar fitas com uma caneta bic...) e se enxerga, se identifica na letra de The Promised Land.


O timing e a escolha para abrir a relação Javed e Bruce no filme, é perfeito. A canção de 1978 e do álbum Darkness on The Edge of Town surge no ápice da frustração e começo da desistência dos sonhos do protagonista. Junto com a audição de Dancing In The Dark, Javed fica reflexivo e absorto nas músicas e retoma tudo, começando a criar a sua "casca" para enfrentar o que vier - mesmo que isso custe uma rivalidade com o seu pai. 

Outros momentos, com outras canções como cantando Thunder Road, ou na dançando na rua e na feira, Born To Run, a diretora presenteia a todos com algo que é comum dos musicais: o tom tosco do parar tudo para enaltecer uma música que se ama. Inclusive, quando Javed se relaciona afetivamente com uma garota politizada - Emily (Nell Williams) - ele decide "ficar" com ela a partir de uma música The Price You Pay de Bruce. Parece piegas, mas é meio que ele encontra para fazer o que deseja.

E no meio disso, você que talvez nem goste do "Chefe", acaba até se entusiasmando com as músicas dele, junto com Javed.


Nesse caso, não há plot twist, nem grandes surpresas com a conclusão do longa. No fim dele, fica o resquício de que o auto-conhecimento abre portas, que pedras no caminho são duras e pesadas, mas que cedo ou tarde o tempo se encarrega de fazê-las não ser mais a obstrução da estrada. 
Mais que isso, a mensagem - repetida à exaustão  por aí - é que em tempos sombrios, a música (e outras artes) podem ser o nosso remédio, a nossa primordial válvula de escape para manter a mente sã e seguir em frente, buscando sempre o melhor para nós e o que nos faz feliz.

Querem assistir esse também? Pois está fácil! No canal Max, hoje, dia 22 às 22:40, e segunda, dia 24, em dois horários: 12:15 e 23:45, horário de Brasília.
É possível alugar pelo YouTube e pelo Google Play, também. 

Dicas dadas, espero que aproveitem e gostem!
Abraços afáveis, fiquem bem e Musique-se!!!!

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