Resenha: Silicon Fortress do Insane Driver

Começar uma resenha colocando rótulos numa banda, talvez não seja nem muito inteligente muito menos prudente. Agora, tentar pensar nas influências de um projeto musical, não é só possível como também pode contemplar um pouco mais do que realmente se trata o caso.

Muito bem, então, com quais referências a banda paulistana Insane Driver “conversa”, em termos musicais? Composta por Eder Franco (vocal), Dan Bigal e Dave Martins (guitarras e backing vocals), Wagner Neute (bateria e teclado) e Cesar Castro (baixo e backing vocals), mensurar isso não parece ser muito simples, mas poderia arriscar palpites: o som dos caras transita entre heavy metal e hardcore, e juntando ambos, temos o subgênero metalcore, estilo musical que ganhou força em meados dos anos 2000, com a fusão de metal extremo e hardcore punk.

Isso é “perfumaria” para dar introdução aos "não tão novatos" do Insane Driver. A banda proveniente de São Paulo capital iniciou os trabalhos em 2013, ganhou notoriedade na cena metal brasileira em 2016 com o primeiro álbum, e construiu uma trajetória de ascensão.  Prepararam a divulgação de um novo trabalho, obviamente mais maduro e experiente que, desde dezembro de 2020 - através das plataformas digitais - tem circulado singles mensais de seu novo álbum intitulado Silicon Fortress.

Recebemos o press kit dos caras e ouvimos aqui no Musique-se para contar para vocês o que achamos. Trata-se de um disco honesto, acessível, com arranjos elaborados, peso na medida e sem firulas, e letras reflexivas. Sim, pois, a banda aborda um assunto pertinente recentemente, sobretudo em tempos pandêmicos, como temática das músicas: o papel da tecnologia na nossa vida cotidiana – o que transpõe uma ideia de debate que é, ao mesmo tempo atual e atemporal. 

A tecnologia é uma faceta que tem diversos benefícios, mas muitos “poréns”. O principal deles, é que, como ferramenta, afeta as relações entre as pessoas nesse chamado “mundo real” de forma quase catártica. Nisso, a sacada da capa do disco com uma moça com óculos de realidade virtual, vislumbrando um “mundo melhor” em meio à uma paisagem caótica, acinzentada e “poluída” é (salvo algum exagero), filosófica. 

Atualmente, poderíamos até brincar com o meme “fora os stories, como você está?” sobre essa questão de viver de aparências virtuais, observadas nas redes cotidianamente. Postar “status” dando conta de uma felicidade extremada, é o mal do mundo. Por trás disso, as pessoas se encontram, muita vezes, sozinhas, frustradas, tristes, ansiosas e sem o apoio adequado para enfrentarem esses dilemas humanos (anteriores aos tempos de internet, inclusive, mas advindas da sociedade pós Revolução Industrial) com maior propriedade. 

É sobre isso que trata a segunda faixa do disco – Faceless Demons, numa metáfora (talvez) desses "monstros ocultos" que agem silenciosamente em nosso inconsciente e, em todos nós. Age of Lies também dialoga com esses tempos falsos de alegrias compartilhadas nas redes sociais, e os esvaziamentos das relações. Enquanto uma se destaca pelos riffs alinhados com vocais harmonicamente, a outra atrai pelo belo trabalho executado pelo baixista Cesar Castro. 

Além destas, outras faixas bacanas orbitam sobre a temática crítica ao apego à tecnologia. São elas: Imagine Realities, cujas linhas de guitarras são bem cativantes, Invisible Chains, que tem uma pegada pesada que foge do óbvio e Distant Hearts, um pouco mais melódica, fechando o disco de forma bem contundente.
O disco ainda tem uma faixa introdutória instrumental - Back to 1994 - curta, mas abre bem o disco, Keep Away, a faixa título do disco Silicon Fortress, Insane Driver - que dá nome à banda - Desperate Prayer - a mais longa do álbum, e Ghosts.

A banda já era promissora, com o seu debut Insane Driver (2016), mas, pelo segundo álbum, dá para considerar que estão trilhando um caminho de importância na cena musical no nosso país de forma real (e não "virtual", se me permitem o trocadilho...).
E hoje, dia 27 de agosto, vocês poderão tirar as próprias conclusões sobre o trabalho dos paulistanos com o lançamento oficial do Silicon Fortress nas mídias socias e também (coisa rara ultimamente) com a mídia física do disco. 

Segue abaixo os contatos da banda:

Abraços afáveis e Musique-se!

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