Vanguart volta às inéditas com Intervenção Lunar, disco em que o único pecado é a duração

São apenas sete canções.
A frase acima é para ser interpretada como uma pequena ponta de frustração.
Só sete...
Não é um número tão pequeno assim, todos sabem que fazer canção não é fazer piada, não é fazer vídeo do tiktok. É trabalho árduo (embora prazeroso) e depende de N coisas, além claro, do estado de espírito e inspiração.
Neste Intervenção Lunar (Deck, 2021), o Vanguart mostra que o estado de espírito era leve e a inspiração estava presente.


De instrumentação basicamente acústica, mas com elegantes intervenções de guitarra, o agora trio formado por Hélio Flanders (voz, violão, trompete, piano e gaita), Reginaldo Lincoln (voz, violão de 12 cordas, baixo, guitarra, bandolim, órgão e percussão) e Fernanda Kostchak (voz e violino) se juntam ao produtor Fábio Pinczowski e trazem à luz um dos álbuns mais bonitos do ano.

Com Hélio cantando bem como sempre e um tanto menos dramático nas interpretações, o disco tem um clima romântico muito necessário nestes dias tão feios.
As composições divididas entre Lincoln e Flanders transpiram delicadezas e sutilezas que saltam aos ouvidos e nos obrigam a prestar atenção.

E por falar em delicadeza, a faixa de abertura é um deleite.
“Vamos Viver” evoca tintas dos Traveling Wilburys e tem versos otimistas e um refrão que gruda na mente: “... Vamos viver sem saber o que nos espera amanhã / a gente fica mais bonito quando se quer bem”.
Delicada também é sequência com a faixa título.
De melodia apaixonante e alguns assobios fazendo par com o violino emocionante de Fernanda.
Aliás, é de Fernanda Kostchak - pela primeira vez compondo e cantando uma canção - uma das surpresas do álbum.
Com voz segura e marcante (embora delicada) faz de “Lá Está” outro dos pontos altos do álbum e lembra o clima dos temas cantados por Katharine Whalen nos Squirrel Nut Zippers.

O amor dá a tônica também na maravilhosa e “Sente” que além do contagiante refrão “Toda vez que você chegar eu vou estar de pé e vou debruçar a saudade do meu corpo no seu corpo” ainda comete a covardia de nos fisgar com alguns dos “pá pá pá” mais lindos da música brasileira contemporânea.
Tente não se emocionar, só tente.
E a canção ainda ganhou um clipe bem bacana dirigido por André Gustavo e Paulinho Caruso.


Os pouco menos de trinta minutos se encerram com “Vento do Metrô”, uma canção tipicamente Vanguart que nos deixa com aquela sensação de quero mais (e quero agora) que infelizmente só vai ser saciada em fevereiro de 2022 quando a banda promete o lançamento de Oceano Rubi, sequência que já está gravada.

Intervenção Lunar é produzido pelo próprio Vanguart e Fabio Pinczowski que também tocou algumas guitarras e conta com a bateria de Kenzo Nogueira, Pedro Pelotas nos teclados e piano e ainda há arranjos de cordas maravilhosos de João de Pierro Jr e Felipe Ventura.
A capa é da fotografa Nina Bruno.
O disco está disponível em todas as plataformas de streaming.

foto: Nina Bruno (site oficial Vanguart)

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