The Baggios ainda mais afiados em seu quinto disco: Tupã Rá.

 

Foto: Marcelinho Hora

O blues rock do The Baggios sempre teve um tempero regional, fosse na voz personalíssima de Júlio Andrade, fosse no acento nordestino de algumas melodias.
Quem duvidar que ouça “Salomé Me Disse”, “Esturra Leão”, “Limaia”, “Vulcão” e afins...
Mas nesse novo trabalho, Tupã-Rá (2021, Toca Discos) a coisa vai além: o Nordeste vem acompanhado – e bem de perto - pela África.
Não que esse casamento seja algo novo ou inusitado: Alceu Valença e Zé Ramalho já falaram das raízes africanas na música nordestina. E sim, se ouvem os ecos da influência deles na música dos sergipanos.

Mas só influência.
A obra é original e instigante desde a levada de baixo espacial da faixa de abertura (“A Chegança”) até o blues que fecha o disco (“Sun Rá”)

E o que faz dessa nova cartada dos Baggios algo tão especial?
Pode ser a aura solar que permeia o disco como o próprio sol nordestino que ilumina e abençoa as capitais daquela região, mas que é inclemente nos sertões.
O disco é assim também: ilumina e embeleza, mas quando pega pesado...
Assim, caminham juntas a quase vinheta sensível e percussiva “Avia, menino!” e a áspera “Barra Pesada”.
Talvez seja a guitarra incendiária, quase hendrixiana de Júlio que dá as cartas em “Clareia Trevas”, por exemplo.
Talvez sejam as letras mais profundas como em “Baggios encontra Siba” de uma poesia arretada como só o pernambucano Siba faz desde os tempos do Mestre Ambrósio.
Ah sim!  A rabeca assinatura do mestre Siba também entra na alquimia.
Ou quem sabe a percussão que aqui neste disco se destaca ainda mais que nos anteriores pelas mãos de Rodrigo Pacato.
Até o samba se faz presente na faixa “Espelho Negro”, fique parado ao ouvir... Se conseguir.

The Baggios: Rafael, Gabriel e Júlio - foto Marcelinho Hora.

 Ao todo são doze faixas solares e com mensagens positivas, afinal, até o nome do disco é pensado para fazer referência à luz.
Não entendeu? Procura aí quem é Tupã e Rá, cada qual na sua mitologia.
O disco traz, além do talentoso trio formado pelo já citado guitar hero Júlio Andrade que também responde por alguns baixos e programações; Gabriel Perninha na bateria e os teclados hora viajantes, hora explosivos de Rafael Ramos.
Os sopros, espalhados por todo o disco ficam à cargo de André Lima no trompete, Mario Augusto no saxofone e flauta e Jeovane Lima no trombone.
Também há as participações especiais de Chico César e Kátia de França na combativa “Barra Pesada” e – óbvio – Siba Veloso na faixa que também foi single do álbum, a já citada “Baggios encontra Siba”.

 A produção ficou por conta do próprio Júlio Andrade, assim como a capa que traz fotografias de Marcelinho Hora das esculturas de Marlon Delano.

Capa: Julio Andrade com esculturas de Marlon Delano e foto de Marcelinho Hora


O disco está disponível em todas as operadoras de streaming e espera agora fica por conta das mídias físicas.
Um trabalho tão bonito e bem feito não pode ficar sem um registro idem em CD e LP.
Aliás, merece.


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