Carnaval da Vingança - Chinaina te põe pra dançar (ou bater cabeça) e pensar.

Quem já tem intimidade com o gênero sabe que o frevo é o hardcore brasileiro.
E sabe que Nelson Ferreira e J. Michiles são mais fodas que Jello Biafra.
E por muito!
O que Chinaina, natural de Olinda (a capital universal do frevo) cantor, compositor e ex integrante da banda Sheik Tosado fez ao lançar o EP Carnaval da Vingança (2022/Pedra Onze) foi só atestar com muita propriedade a afirmação falando pelo viés do próprio hardcore, um dos estilos musicais preferidos do artista.
Frequentador da popular festa de rua olindense, Chinaina cometeu um dos EP´s carnavalescos mais empolgantes desde sempre.
Nervoso, pesado e contestador, é ao lado de Escória (2020 – Saravá Discos/One RPM) de Zeca Baleiro, um tapa na orelha de quem ainda acha que música de carnaval tem que ser vazia de significados e passiva em relação as coisas que acontecem no país.

O projeto gráfico da capa é de Neilton Carvalho (integrante dos Devotos, uma das bandas seminais do punk pernambucano) e é profético: mostra uma cena que vai acontecer assim que a gente se livrar do vírus e da besta.
Nossa vingança contra estas duas pragas será subindo e descendo as ladeiras de Olinda, andar pelo Recife antigo atrás de uma banda de frevo e, porque não, chutar a bunda de nazifascistas e outros idiotas que tiverem coragem de dar as caras.

capa: Neilton Carvalho

São só quatro canções, o que é uma pena porque quando a gente já está se soltando pra dançar, o disco acaba.
Ok, dá pra por no repeat, mas o gosto de quero mais fica forte no ouvido.
O EP é plural como o próprio carnaval e isso fica evidente logo na primeira faixa, um samba reggae viciante: “Carnaval Infinito” é parceria com Michelle Abu, que deve tocar todos os instrumentos do mundo. E bem.


“Deixe-se acreditar” é uma releitura de uma canção dos também pernambucanos do Mombojó.
Os metais da canção conduzem o ouvinte ao passo do frevo, que acreditem, é muito difícil de fazer e assim mesmo a gente tenta. (obrigado dorflex!). Aqui os vocais são divididos com o Felipe S.
Já as duas faixas finais fazem jus à afirmação que abre o texto: “Hardcore Brasileiro” também é uma releitura, mas desta vez do Sheik Tosado, banda à qual o – ainda – China pertenceu e a última, “Virando Papangu”, tem as guitarras velozes do hardcore e a voz de Canibal, cantor e baixista dos Devotos sem deixar a pegada do frevo de lado com percussão acelerada até 180bpms. Aí a gente já não sabe se quer traçar os passos do frevo ou bater cabeça...
Capiba aplaudiria.


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