Mas, isso é cover! - As Cafonas (#1)

"Cafona".

Também conhecido como: "brega", "chinfrim", "ridículo", "caipira", "tosco", "achavascado", "jeca", "kitsch", "desprovido de refinamento" ou, na linguagem dos 'xóvens' nas redes sociais, "cringe".

Esse é o tema da nossa postagem de hoje: vamos falar das músicas que podem ser consideradas cafonas, mas que a gente gosta, tem lá o seu valor artístico e também que alguém teve a brilhante ideia de fazer um cover delas e acabou tendo um resultado apreciável.

Com a "cafona de hoje" também, abrimos o novo quadro do Musique-se: 


Com essa seção, falaremos das canções originais e debateremos o seu impacto na cultura com a melhor versão, ou as várias disponíveis. 

Começamos hoje, com a primeira das Cafonas. Vamos?

***

O Morro dos Ventos Uivantes, o romance gótico de Emily Brontë do século XIX não é um tipo de leitura cafona. Você pode até não gostar; achar muito exagerado o relacionamento obsessivo de Heathcliff e Cathy, ou achar forçado a transformação do caráter humano para pior no conteúdo da narrativa, mas é um clássico da literatura e recheado de simbolismos morais entrecruzando e sobrepondo os vícios às virtudes humanas. 

E, que tal uma música, sobre esse casal tão apaixonado e mesmo assim tão vingativamente trágico? Seria interessante?

Kate Bush.
Cantora, dançarina, compositora, musicista e produtora musical inglesa, começou a carreira artística cedo. Aprendeu a tocar piano e a compor com 11 anos de idade. Chamou a atenção de David Gilmor assinando contrato com a EMI Records aos 16 e ficou uns anos sob contrato, sem lançar nada, apenas para terminar a escola e fazer aulas de dança mímica e música. Seu primeiro álbum: The Kick Inside chegou ao conhecimento do público em geral em 1978, com canções que Kate havia escrito nos anos anteriores.

Esse álbum continha a faixa Wuthering Heights, o primeiro single, e baseada no livro de Brontë que mencionamos. O timbre característico de Kate, estridente, a identifica como nenhuma outra cantora da época. O sucesso foi imediato: A música ficou quatro semanas nas paradas de sucesso britânicas. 

A letra da música, como já dissemos, gira em torno do casal de O Morro dos Ventos Uivantes. O contexto geral parte do ponto de vista da Catherine Earnshaw, Cathy, como o fantasma suplicando para que Heathcliff deixa-la entrar pela janela e juntar à ela, em sua morte. 

"Let me in! I'm so cold!"

Dois videoclipes foram criados para acompanhar Wuthering Heights. Num deles, Bush canta num quarto escuro com uma névoa branca e vestes brancas (ver aqui: YouTube). Essa versão que foi lançada no Reino Unido, mas certamente vocês estão lembrados de uma outra versão, o segundo videoclipe, gravado em campo aberto que ela canta e dança com um vestido vermelho. Esse foi lançado nos Estados Unidos e se tornou mais popular:

 

Performática, não?

Certamente não era a intenção, mas hoje em dia, essa música, acompanhada da performance em vídeo, se tornou uma peça brega para muita gente que sequer conhece a cantora. 

No entanto, não se enganem. A questão é que, assim como o livro (com algumas boas adaptações para cinema), a música de Kate Bush se tornou clássica e, apesar da suposta cafonice, foi "coverizada" por grandes nomes: a cantora italiana Elisa Toffoli já apresentou-se ao vivo cantando essa música (ver aqui: YouTube) e a americana Pat Benatar, numa versão mais rock (ver aqui: YouTube). 

A banda de Power Metal brasileira Angra fez seu debut em 1993, com o disco Angels Cry. Nele, a faixa 7 é justamente Andre Matos, o former-vocal da banda, cantando em falsete, um interessantíssimo cover da música de Kate Bush. Até onde se sabe, é a única versão da música cujo o intérprete é um homem. 

 

 Aos "enfermamente" jovens: sim, a música do primeiro álbum do Angra é cover! E deu, digamos, um “upgrade” na canção, pois não deve ter sido fácil para Andre atingir esse timbre, sem um ventre, digamos assim. (Salve Andresito, onde quer que esteja!)

Ficamos por aqui, como estreia. Voltamos, em breve, com outras "cafonices" (que a gente gosta) e que ficaram bem boas com os covers (também). 

Abraços afáveis e Musique-se!

Comentários

Postar um comentário

Seja o que você quiser ser, só não seja babaca.