Críticas: Oscar 2022 - Ator e atriz coadjuvantes (#2)

Dando continuidade aos indicados às principais categorias do Oscar, para hoje temos os indicados à Melhor Ator e Atriz Coadjuvantes. Somente como critério de comentário rápido sobre cada um, faremos um panorama geral, afinal de contas, especificamente sobre os filmes, falaremos nas duas últimas postagens.

Indicados à Melhor Ator Coadjuvante:

Ciarán Hinds em Belfast
No filme irlandês, dirigido por Kenneth Branagh, o papel de Ciarán é o padrão da categoria de atores "suporte". Ele faz o papel de vô do Buddy, o garoto cujo trecho da infância é retratado em Belfast.  Há vários dramas acontecendo com o menino e uma, em específico envolve o vô, e tal cena dá um tom a mais de dramaticidade no longa. A cena em questão é a da foto ao lado.

Ciarán concorre pela primeira vez ao Oscar, mas é muito conhecido nos palcos e por papéis de personagens durões.

Se você está olhando para o seu rosto e pensando que o conhece de algum lugar, tenho duas dicas: ele interpretou Mance Rayder, um desertor da Patrulha da Noite e Rei Além da Muralha, na série Game of Thrones e também Aberforth Dumbledore, irmão de Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts e que ajuda o trio Harry, Rony e Hermione em Harry Potter e as Relíquias da Morte Part. 2.

Nota 10/10  ☼ Onde assistir? Nos cinemas  ☼ Trailer

Troy Kotsur em CODA
Troy Kotsur também é novidade nos Oscars. Ele concorre pelo filme CODA - No Ritmo do Coração, uma adaptação praticamente na íntegra de um filme francês, chamado La Famille Bélier de 2014. 
Interpretando o pai da protagonista Ruby Rossi (Emilia Jones), Frank Rossi é um um pescador surdo que sustenta a família através desse ofício. Sua filha mais nova, é a única na família que ouve e trabalha com eles como intérprete, desde criança. 

Troy de fato, nasceu surdo e tem uma carreira também como diretor.
Dados todos esses fatores, ele entrega bem o papel, mas não é desafiante, digamos assim, é representativo. A falta de ineditismo, para quem já viu o filme francês, depõe contra todo o conteúdo e trabalho dos atores, mesmo que tenham se esforçado pra caramba.
Por isso, a nota é um pouco baixa, mas tais fatos não impediu que Troy levasse, no dia 13 de março, os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante no Critics Choice Awards e no Bafta.
Assim, passou a vir forte candidato para o Oscar. 

O filme mais conhecido que ele fez é O Número 23, um suspense estrelado pelo Jim Carrey e dirigido por Joel Schumacher. Recomendo, inclusive. 

Nota: 8/10  ☼ Onde assistir? Amazon Prime Video  ☼ Trailer

J. K. Simmons em Apresentando os Ricardos
Bom, já que falamos de falta de ineditismo em Hollywood, por Apresentando os Ricardos sacamos que ou a galera anda com falta de história para contar, ou sem criatividade para transformar algumas narrativas atrativas. 

J. K. Simmons é William Frawley, um ator americano que era conhecido por ser o senhorio Fred Mertz, na sitcom I Love Lucy, sucesso da TV na década de 1950. E sobre isso (eu acho) que o filme quer contar: bastidores de I Love Lucy, centrado em Lucille Ball (Nicole Kidman) e seu marido, Dezi Arnaz (Javier Bardem).

Um trabalho que os críticos devem ter feito é comparar Simmons a Frawley para entenderem se ele fez bem o personagem, com trejeitos e posturas. No entanto, isso a gente conscientemente ignorou, visto que o filme é totalmente despropositado, com Simmons entregando um papel impaciente - como nós espectadores ficamos em todo o longa.

Falaremos mais sobre Apresentando os Ricardos quando fomos comentar sobre a categoria de Melhor Ator e Atriz. No mais, é, possivelmente um papel das quais Simmons não pareceu ter precisado se esforçar muito, mas mesmo assim, chamou atenção da academia. Por ele, tudo certo... É bom ator. Mas pelo filme, e o contexto para sua indicação, preciso dar nota baixa. Eu teria indicado Willem Dafoe pelo seu papel em O Beco do Pesadelo, que soou muito mais desafiador. 

Ah claro, J. K. dispensa apresentações: ele é o irritante professor de música, Terence Fletcher de Whiplash (2014), papel da qual levou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2015. Ele também é o incrivelmente bem caracterizado J. Jonah Jameson, chefe do Clarim Diário, na trilogia do Homem-Aranha dirigidos por Sam Raimi e estrelado pelo Tobey Maguire, quando a Marvel iniciava o seu domínio nos cinemas. 
(PS: não, eu não vou chamar de "Miranha" porque eu acho coisa de gente que baba de lado. Depois esses mesmos engraçadinhos vem criticar os "nerdolas" por conservadorismos e mudanças em personagens canônicos, como se ninguém pudesse gostar de tradições... Dica: Chamar de "Miranha" e ser chato com caracterização contemporânea de personagens antigos, é a mesma tipo medíocre, valeu? Tá no mesmo nível!)

Nota: 6/10  ☼ Onde assistir? Amazon Prime Video  ☼ Trailer

Jesse Plemons em Ataque dos Cães
Jesse Plemons é George Burbank, um rico proprietário de terras em Montana e divide esse "ofício" com o irmão Phil Burbank. A diferença entre eles é latente: Phil é o cowboy autêntico, o cara que lida com animais e não liga em ficar imundo com o trabalho de fazenda. Já George, como na foto, é mais pacato e está sempre limpo e engomado. 

Esse é o plot inicial de Ataque dos Cães, um filme que cada personagem, tem seu lugar muito bem certinho no longa. O de Plemons começa como um cara sério e culto, como o oposto de seu irmão, bruto e um tanto bronco. 
George se apaixona por Rose, uma pianista de cinema, que tem um filho, e eles se casam. (Rose é Kirsten Dunst e na vida real, é casada com Plemons.) Como intermediário, ele tenta, na melhor das boas intenções, adequar a vida de casado à realidade da nova esposa agora na fazenda, e a do irmão, que vive uma outra história, paralelamente, mas que interfere no relacionamento com a cunhada e o enteado do irmão. 

O plot geral se dá, então, entre Phil (Benedict Cumberbatch), Rose e o filho dela, Peter Gordon (interpretado por Kodi Smit-McPhee). O personagem de Plemons é o fio que liga os três, então a sacada da indicação é justificada e valorizada. 

Conhecido como o exterminador Todd Alquist nos anos finais da série Breaking Bad e o personagem Ed Bluquist na série Fargo, Jesse está bem encaixado em Ataque dos Cães e sem dúvida é um dos melhores atores da atualidade, não sendo muito badalado. 

Nota: 10/10  ☼ Onde assistir? Netflix  ☼ Trailer

Kodi Smit-McPhee em Ataque dos Cães
Não é mais novidade que atores coadjuvantes de um mesmo filme concorram juntos à categoria. Isso mostra certa consistência do elenco, e surpreende quando os filmes não são premiados, afinal, boa parte do sustento de um roteiro é dado pelos atores.
Explico: Há filmes excelentes que, os atores podem ser bem ruins, mas não comprometem e acabam até sendo premiados. Em outros casos, os filmes são uma bomba, e nem os atores gabaritados conseguem segurar as pontas do roteiro. Creiam: isso tem acontecido muito. Aqui mesmo, nos indicados à Oscar, teremos casos desse tipo. 

Não é o caso de Ataque dos Cães, onde os quatro atores centrais na trama estão indicados e todos fazem excelentes trabalhos. E o filme - falaremos depois - também é bom, talvez muito por conta deles, ou pela forma como é conduzido. 
Kodi estreia nas indicações a Oscar. Jovem, com apenas 25 anos, nós não sabemos exatamente quem ele é durante todo o filme e esse enigma é muito bem executado por ele.
E esse é o pulo do gato para a conclusão da narrativa, portanto, é uma indicação certeira, e na minha opinião, o favorito. Seu trabalho é de ator experiente.

Kodi já fez aparições em filmes da Marvel (e pensar que de fato, o estúdio está dominando a geral). Sabem qual? Sim, a nova geração dos X-Men, com o papel de jovem Kurt Wagner/ Nightcrawler especificamente em X-Men: Apocalipse (2016) e Fênix Negra (2019) 

Nota: 10/10  ☼ Onde assistir? Netflix  ☼ Trailer

Indicadas à Melhor Atriz Coadjuvante:

Jessie Buckley em A Filha Perdida
 Jessie encarna Leda, a personagem de Olivia Colman (que também está indicada, mas na categoria de Melhor Atriz) em A Filha Perdida, quando mais nova. 
Seu papel consiste em mostrar os dilemas da vida de mãe de duas meninas pequenas enquanto é uma acadêmica. Isso se dá por meio de flashbacks detalhados.

Leda está de férias em uma praia-resort quando ela observa uma família que chega fazendo muita algazarra no local. Ela então, fica obsessiva por Nina (Dakota Johnson) que tem uma filha pequena, que de repente, desaparece na praia. 

Assim como Colman, Buckley entrega uma interpretação que sustenta o filme. Não que o enredo seja ruim, mas pessoalmente, filmes que retratam os dilemas femininos com uma pegada feminista, tende a ter alguns problemas que me incomodam muito.
Se A Filha Perdida levanta a bandeira do movimento, não me espanta que tanta gente abomine as feministas. As mulheres que querem ser independentes tem rompantes de loucura e a falta de moral dessas personagens me deixa muito incomodada.  

Porém, e nesse sentido, se era para ter raiva da jovem Leda pelas coisas que ela fez quando queria ser independente e descompromissada com o ofício de mãe... Jessie acertou em cheio na entrega.

Nota 10/10  ☼  Onde assistir? Netflix  ☼ Trailer

Ariana DeBose em Amor, Sublime Amor
Primeiro longa que Ariana e já levou Critics Choice Awards, Bafta... Tornando-se assim, a favorita da categoria com aquilo que faz seu currículo: atriz de teatro, cantora e dançarina. 

Estrelando o remake de Amor, Sublime Amor, o defeito não está nela, mas na produção. O filme é, como criticaremos depois, idêntico ao de 1961 e não traz nada de novo, a não ser a marca de Steven Spielberg.
Além disso, musicais são tradicionais em Hollywood, é verdade,  no entanto, o mundo mudou, a mentalidade é outra, mas eles permanecem intactos, incólumes à todas as transformações? Que caso curioso!!

Escalada para o filme depois do sucesso da peça Hamilton, seu papel é de fato, forte. Anita é uma porto riquenha que vive nos EUA e enfrenta a xenofobia dos nova-iorquinos da gangue Jets, rival dos Sharks no controle das mediações do West Side de NY nos anos 1950. Ela busca viver o sonho americano, que se torna um verdadeiro pesadelo. 

Eu não consigo achar graça de dramas como grandes peças da Brodway. Coisas sérias acontecendo e um grupo de pessoas cantando aos berros e balançando as anáguas... Em uma palavra: chato. Mas sempre há exceções. Tudo que precisa ser é menor circense e mais bonito. Depois darei um exemplo de terem acertado em cheio em um musical e Academia simplesmente ignorou...

DeBose deve levar o Oscar, que está na vibe de premiar as minorias, no entanto, Ariana nasceu nos EUA, sendo filha de pai porto-riquenho, com ancestrais africanos e italianos (nesse último caso, por parte de mãe). 

Nota 9/10  ☼  Onde assistir? Disney+  ☼ Trailer

Judi Dench em Belfast
Uma das melhores atrizes britânicas que existem, Dame Judi Dench tem um experiência vasta e pode contar  vantagem de algo que pouquíssimas possuem: o fato de nunca ter feito nenhum trabalho "mais ou menos". 

Seu tempo de tela em Belfast deve ser tão curta quanto o companheiro de cena, Ciarán Hinds. Mas não se enganem: ela não faz pouco caso. Sua naturalidade em interpretar faz parecer fácil.

No longa, Judi é a avó de Buddy, o garotinho protagonista - inspirado na infância de Kenneth Branagh, o diretor de Belfast. E é encantadora. Mas, não é a favorita, apesar de toda a experiência e toda a destreza em entregar papéis tocantes com naturalidade. Pena. 

Nota 10/10  ☼ Onde assistir? Nos cinemas  ☼ Trailer


Kirsten Dunst em Ataque dos Cães
Kirsten Dunst está na vida de atriz desde a infância. Ela ganhou notoriedade no papel de Claudia na adaptação do livro de Anne Rice para os cinemas, Entrevista com o Vampiro (1994), dirigida por Neil Jordan. No ano seguinte, ela foi indicada à Melhor Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro pelo papel e desde então, acumula diversos prêmios e indicações, sobretudo em circuitos de cinema independente. 

Sua personagem, Rose Gordon, é o catalizador da trama de Ataque dos Cães. Falar mais do que isso, é dar spoiler. Na cena da foto, uma das três impactantes da personagem, vemos a aflição de Rose num ambiente ainda difícil de se acostumar.

Particularmente, Dunst seria a minha favorita à levar a estatueta para casa. Mas, salvo alguma surpresa (boa), não será assim no dia 27.

Nota: 10/10  ☼ Onde assistir? Netflix  ☼ Trailer

Aunjanue Ellis em King Richard
Aunjanue Ellis é a outra estreante nas indicadas à Oscar e conhecida por integrar o elenco da série Lovecraf Country (2020).

Seu papel é real: ela é dona Brandi Williams, mãe das tenistas Serena e Venus Williams. 
Ela que sustenta o papel de matriarca e segura as pontas com as irmãs das duas, enquanto o pai delas, Richard traça o caminho de sucesso no esporte de raquete, bola e rede para elas. 

O plano do pai da dupla deu certo, como bem sabemos, então o filme King Richard: Criando Campeãs se propõe a mostrar como o sonho do velho pai (interpretado por Will Smith) se deu. 

Falaremos sobre o filme depois, mas a opinião é que ele é muito fraco para estar no Oscar e muito pouco atrativo, sobretudo para quem não acompanha ou é fã de tênis. Dito isso, nada contra Ellis, que faz um trabalho agradável, com o aval das irmãs Williams... Mas eu não a teria indicado, por conta do despropósito do filme, (por isso a nota baixa). A substituiria por Caitriona Balfe, de Belfast, afinal, se era para ter uma indicada que era uma mãe forte, essa seguramente Balfe teria sido uma melhor opção. 

Nota: 6/10  ☼ Onde assistir? HBO+  ☼ Trailer

Finalizamos por aqui, com a promessa de amanhã comentarmos sobre a categoria de Melhor Ator e Atriz e mais ao fim da tarde, se tudo der certo, trarei uma matéria sobre os indicados à Trilha Sonora e Canção Original
Na sexta, ficamos com os Filmes Estrangeiros e no sábado, as duas últimas matérias: os indicados à Melhor Filme

Abraços afáveis e até lá!

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