Criticas: Oscar 2022 - Melhor filme (parte 2) #7

Depois da parte 1 com seis dos dez filmes que concorrem à categoria principal do Oscar, agora, os quatro últimos, fechando a sequencia de críticas cinematográficas, aqui no Musique-se.

A primeira tentativa de adaptar para os cinemas, o livro Duna de Frank Herbert, aconteceu em 1984. Para alguns, o filme falhou miseravelmente. Para outros, se tornou cult, por ser uma das ficções científicas que acabaram sendo exaltadíssimas durante o século XX e foi imortalizada na sétima arte nos anos 80, quando ficção científica era um gênero bem popular.

A questão é que o enredo de Duna é um tanto complexo e a tentativa de Dennis Villeneuve em trazer a história à tona na década de 2020, novamente e em duas partes, não parece ter sido uma boa ideia. 

Tecnicamente, a escolha do elenco ficou aquém: a opção por atores populares em detrimento daqueles que entregaram uma boa e criteriosa audição para os papéis sempre tem sido ponto falho de muitas grandes produções. Timothée Chalamet tem o mesmo semblante para todo filme que faz. Sequer mudam o cabelo do garoto. É difícil traduzir se ele sente fome ou dor em boa parte de Duna

Pensando que o personagem Paul Atreides é assim mesmo no livro (que não li, não posso opinar com certeza), afinal, no filme de David Lynch, Kyle MacLachlan encarnava o mesmo estereótipo de pouca expressividade, podemos deixar a interpretação de Chalamet como boa ou ruim, em suspenso. Sobre isso, ainda, tenho outro assunto: falta de expressão deve ser a tônica dos jovens atores que estão no longa. Zendaya é a queridinha de muitos, mas parece estar, sempre, em dívida com sono. Ou seja, ter expressão não é mais fator para ser ator ou atriz mais?

O problema (talvez) do longa de 1984 é que Lynch quis condensar em 2 horas e 17 minutos mais de 600 páginas de história não muito fácil de ser digerida. Além disso, Ficção Científica, assim como Fantasia, tende a ser particularmente melhor no escrito do que no audiovisual – pois aquilo que se imagina do texto é mais diversificado que a visão restrita de um diretor/roteirista da narrativa no papel, pois tem um tempo de aprofundamento que um filme, não alcançará. 
A visão de Villeneuve para a adaptação consiste em uma primeira parte, de 2 horas e 35 minutos. É lento e quase sem tanta explicação quanto a tentativa de Lynch. Mas ainda temos um segundo filme para ter uma visão mais certeira sobre o sucesso do projeto. Algumas coisas podem ficar mais claras na segunda etapa, prevista para ser lançada em 2023.

Dennis Villeneuve é um bom diretor. Tem mesmo essa faceta de filmes longos e de ritmo mais cadenciado. Em Duna especificamente pode ser um caso que depõe contra, mas é questão de gosto. Em outros casos, como A Chegada (2016) e Blade Runner 2049 (2017), isso não foi problema.  E por ser uma adaptação difícil, também precisamos esperar um pouco mais. Nesse sentido, não indicá-lo à Oscar parece ok, visto que é uma obra inacabada. 

É possível também que a Academia aguarde a segunda parte para dar maiores créditos. 
Se terão que dar duas estatuetas, uma agora e outra quando sair o segundo filme, ficarei pessoalmente chateada, já que há 20 anos atrás, a primeira parte de O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel não ganhou Oscar justamente por essa desculpa que alguns críticos montaram: ser a primeira parte de outros filmes (no caso, de uma trilogia) e não saberem se o nível permaneceria o mesmo. 

Pessoalmente não gostei muito do filme. Até acho que o de David Lynch foi mais interessante. Mas não me incomodou a indicação e acho ok que esteja na lista. 

Nota 7/10  ☼  Onde assistir? HBO+  ☼ Trailer

Baseado no romance de William Lindsay Gresham (1946) e também, remake de O Beco das Almas Perdidas (1947) dirigido por Edmund Goulding, O Beco do Pesadelo tem o retorno das indicações de Guilhermo Del Toro (que foi premiado pela A Forma da Água em 2018).

Com uma bela fotografia, um jeitão sombrio e requintado ao mesmo tempo (marcas de Del Toro), um elenco bom e encaixado e um ritmo nem muito acelerado, nem muito lento, é um dos melhores filmes da lista, mas não chega a ser o melhor para todo sempre, se é que me entendem.

Infelizmente pode não ser a pedida do Oscar uma vez que não tem nenhuma outra indicação para a categoria de atores ou de direção, talvez venha enfraquecido na corrida.

Mais que isso, é um remake, então, não teria sentido premiar longas miméticos de histórias "conhecidas". Ainda assim, é melhor que outras adaptações, como aqueles que tem livro ou outros filmes como bases narrativas. 

Eu teria indicado Del Toro à direção, Willem Dafoe como Ator Coadjuvante e Bradley Cooper como Ator principal. Cate Blanchett não me convence mais, e então, não teve problema em ficar de fora da categoria de Atriz coadjuvante. Rooney Mara e Toni Collette estão ótimas e poderiam também ter sido indicadas. 

O Beco do Pesadelo é redondinho demais para os tempos atuais, que querem temas completamente diferentes do que pessoas perturbadas tentando sobreviver aos seus próprios traumas. Mesmo assim, isso pode não ser regra e se vencer, será bacana. Realmente não há nada de tão chocante que deponha contra o filme a não ser o fato de que não é "original".

Nota 9/10  ☼  Onde assistir? Deve chegar em breve ao Star+  ☼ Trailer

Não sei o que deu na cabeça de Steven Spielberg em fazer esse filme. Basta perguntar a qualquer um sobre filmes, quadrinhos... Experimente dizer: "não gosto da adaptação x" e ouça os protestos de muitos com o argumento: "os tempos mudaram". 

Eu concordo que a arte deve acompanhar o tempo presente, pois é o que nós temos, é o que nos pertence. Então porque musicais ainda fazem sucesso?

A peça Hamilton, os desenhos da Disney, a pegada Brodway ainda tem alcance? Sim! E não, não faz NENHUM sentido nos dias de hoje, porque denota um tradicional que, conservadores é que adorariam perpetuar, não a nova geração. 

Amor, Sunblime Amor – além de tudo – é um remake. Alguns lembrarão do filme de 1961 cuja história é exatamente a mesma, e a crítica não poupou elogios, mesmo assim. Dado como atemporal, consideraram um dos melhores trabalhos de Spielberg dos últimos anos... E ainda atribuíram à ele, a boa nova: a chance de revisitar clássicos. 

Bem, eu não sei vocês, mas se vai ser um remake cuja mudança na estrutura é mínima ou nula, não há necessidade de refazer, mas sim de remasterizar. Esse mimetismo do passado, para trazer à toda discursos de não pertencimento à uma sociedade, vai contra o que a nova geração prega: se os tempos mudaram, porque existem filmes antigos que falam as mesmas coisas que estamos discutindo, agora?

Nem tudo é péssimo, claro. O filme é muito bem ensaiado e esteticamente bonito. As canções tornam tudo muito feliz, mesmo que, na verdade, a história seja um drama, uma tragédia. E de tragédia, Shakespeare* entendia... Por sinal, entendia tanto que escreveu Romeu e Julieta, uma referência clara para o plot de Amor, Sublime Amor

Poxa, Spileberg! Você já foi mais criativo! Será que não chegou às suas mãos nenhum roteiro bacana por esses tempos?
Posso continuar criticando, mas ele é Spileberg. E ele foi indicado à diretor também. 
E aí criançada, é o seguinte: faltou opção? Com Ridley Scott (não pela Casa Gucci, pelo amor!), Joe Wright, Joel Coen, o próprio Gulhermo Del Toro, e até Pedro Almodóvar para ser indicao? Está bem... Spielberg é Spilberg. E apesar de tudo, ele não faz feio, obviamente. O filme é bem feito e tem a sua assinatura. 
Mas escolher fazer um musical?

A minha birra com musicais vai longe. Nessa edição do Oscar, e especificamente para a categoria de Melhor Ator, a indicação de Andrew Garfield colocou luz no filme Tick, Tick...Boom! Não assisti direito, tamanha a minha impaciência com as músicas. 
Detesto filme cantado? Sim. E quão não é a minha surpresa em assistir outra história já conhecida e encenada em forma de musical? 

Cyrano, dirigido por Joe Wright foi essa surpresa. Nessa tentativa, Cyrano não é um homem com um nariz muito grande e feio. Cyrano é um anão, interpretado por Peter Dinklage. 
E o filme é belíssimo! As músicas são envolventes, e não ficamos incomodados com danças e roupas esvoaçantes, falsetes e duetos... Você se emociona com toda a história. A cada cena, os seus olhos brilham e se enchem de lágrimas. 
E o Oscar fez o quê? 

Indicou Cyrano apenas à Melhor Figurino. E nem é favorito... 
Parabéns Academia, vocês sabem fazer a gente se sentir bem idiota! 

*PS: Já que comentei sobre Shakespeare e sobre a categoria de ator, há Macbeth no Oscar. A Tragédia de Macbeth é interpretado por Denzel Washington. Lady Macbeth é encarnado pela Frances Mcdormand, a queridona dos últimos Oscars. E as feiticeiras são a melhor representação que já vi, e a adaptação bem fiel e tetral. O Oscar só indicou Denzel à melhor ator e ele deve perder para o Will Smith! 
É. Parece que os tempos mudaram, só não sei dizer se a qualidade do que restou, presta. 

Nota 6/10  ☼  Onde assistir? Disney+  ☼ Trailer

Favorito do Oscar, com 10 indicações, incluindo de elenco e direção, é também o favorito dessa que voz escreve. 

É um bom roteiro que, apesar do ritmo mais cadenciado, é preciso prestar bem a atenção em todo o conteúdo, nas falas e comportamento dos personagens para compreender o final. É baseado em um livro homônimo de Thomas Savage publicado em 1967.
Você encontra as principais respostas no diálogo e nas ações dos protagonistas.
 
Se cochilar, assista de novo. Muita coisa que orbita a conclusão está explicada em cada detalhe. Isso mostra que a diretora Jane Campion fez um excelente trabalho de roteiro e a produção, com a edição. Jane também merece muito o Oscar de direção, inclusive e talvez, seja a primeira vez que premiar uma mulher fará muito sentido na era #Me Too. 
Ela já ganhou Bafta, Critics Choice Awards e o filme ganhou Globo de Ouro. Toma essa Sam Elliot!!!

A trama é um suspense de faroeste que aprofunda a narrativa num imaginário masculino e de algum modo, erótico, sem ser apelativo ou estereotipado. As atuações são primorosas e numa medida tão eficaz que, por exemplo, se Benedict Cumberbatch, Kristen Dunst e Kodi-Smith McPhee não recebendo os Oscars de ator, atriz coadjuvante e ator coadjuvante, é fato que estamos diante de uma das maiores injustiças dos últimos anos. Ninguém até agora, bate o elenco em atuações que estes três e mais Jesse Plemons (que faz o irmão de Benedict no longa), e a forma como conduzem as suas atuações são cruciais para o entendimento de toda a narrativa. 

Não deveríamos nem ter dúvidas. É Ataque dos Cães para direção e melhor filme. Girl Power outra vez e finalmente, com justiça!

Nota 10/10  ☼  Onde assistir? Netflix  ☼ Trailer

E é isso. Agradeço a companhia nessas postagens e peço que compartilhem conosco a opinião de cada filme, seja aqui na página, seja em nossas redes sociais. 

Abraços afáveis e Musique-se!

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