Gêmeos - Terno Rei e a difícil missão de superar Violeta

Há muitas coisas que se pode falar sobre o Terno Rei.
Uma delas é sem dúvida o grande talento para a construção de melodias envolventes e climas aconchegantes.
O cuidado com as letras e creia: isso é muito importante sim.
Letras bem resolvidas estética e poeticamente, claras e fáceis de decorar são importantes mesmo para uma banda que cria melodias envolventes e climas aconchegantes.
E também o bom gosto para influências que, até quando as escancaram, nunca soam como cópia.
Outra coisa boa sobre a banda é que chegaram ao seu quarto álbum de estúdio conseguindo o equilíbrio exato entre todos os ingredientes que a banda já apresentou em sua carreira.
E ó... Não se confunda, não há repetições. O disco soa evidentemente novo, com frescor, original e belo.
Muito belo.

Gêmeos (Balaclava Records) traz o melhor de Ale Sater (voz e baixo), Bruno Paschoal (guitarra), Greg Vinha (guitarra) e Luís Cardoso (bateria) enquanto instrumentistas, arranjadores e compositores.

Gêmeos: a difícil missão de superar Violeta (2019)

E isso era algo realmente necessário já que superar o elogiado Violeta de 2019 era – e sempre será - uma tarefa difícil.
Se superaram ou não, apenas o tempo e o coração dos fãs dirão, mas o produto final dessa tentativa é um disco sólido, bem acabado e coerente com a proposta da banda.
Outra virtude: estabelece uma conexão importante de diálogos e identificação com o ouvinte.
Era esta conexão que fazia com que os fãs dissessem, por exemplo, que Renato Russo escrevia sobre a vida deles.
O Terno Rei conseguiu, mesmo apresentando experiências próprias em relatos/poesias tão pessoais fazer com que o ouvinte pense em situações idênticas pelas quais já passou  e sinta o mesmo – como dizem que os gêmeos sentem -  quando Ale canta de forma até sofrida em “Aviões”: “Que bom ver você de novo / No ano mais triste de nossas vidas.”
Nos últimos dois ou três anos, quantos de nós já não dissemos, pensamos ou passamos pela situação do verso da canção?
foto: Fernando Mendes

O disco abre com uma das canções mais bonitas e necessárias dos últimos anos: “Esperando Você” é para ouvir naqueles momentos em que de tanto estar acostumado com rotinas estafantes, a gente se sente culpado por tirar um tempo para relaxar e descansar.
Vale a transcrição:

“Como os dias são pequenos eu prefiro ir devagar
Eles querem tudo, e tudo eu não posso dar.
Faz calor e é fim de ano. Essa chuva só faz bem.
Hoje vou ficar de casa, hoje nada além de esticar minhas pernas no sofá.
Você virá me lembrar como sorrir mais.
Melhor desligar, amor. Se der pra fazer depois, vou deixar”

Além do primeiro single “Dias de Juventude”  - que fala da delicada transição da adolescência para a vida adulta e da nostalgia precoce que isso provoca - ainda se destacam à primeira audição a bonita e delicada “Só eu Sei” com alguns “uh la lalá” colocados estrategicamente; os arranjos de voz na redentora “Internet”;  a dançante “Difícil”  em que se ouve ecos do New Order na levada comandada pelo baixo e bateria estendidos sobre uma cama de teclados.
Mas talvez a música do disco seja mesmo “Brutal” com sua letra extremamente sincera e instrumental refinado e elegante.

fonte: facebook
Aliás, elegância é o termo exato para definir Gêmeos, que foi gestado durante a pandemia e gravado em Curitiba no estúdio de Nico Braganholo sendo produzido por Amadeus De Marchi, Gustavo Schirmer e Janluska.
A banda se prepara para uma turnê de lançamento que deverá começar com um show no Lolapalloza em 28 de março.

Gêmeos está disponível em todas as plataformas e fica a torcida para que também lancem em formatos físicos.
O disco merece.

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