Meu Próprio Clube da Luta - consciência social, diversão e otimismo em primeiro disco cheio do Médicos Cubanos

Existe um abismo de diferença entre ser uma banda “engraçadinha” e uma banda divertida.
Uma banda divertida pode tanto de emocionar e te fazer pensar sobre os assuntos propostos nas letras quanto te fazer gargalhar.
E isso não vai colocar em sua obra uma data de validade.
Já uma banda “engraçadinha” tende a perder esta característica em pouco tempo.
Piada contada muitas vezes, além de perder a graça, tende a irritar.
Os Médicos Cubanos estão na categoria divertida.
E muito.
Um garage rock descompromissado, mas muito bem produzido, bem composto e tocado. Com letras irônicas e acrescidas de um ingrediente bem raro nos dias de hoje: otimismo.

Na ativa desde 2019 a banda já havia lançado três ep´s.
Agora, Duh Bellotto, (vocais, guitarra e sintetizador) Tati Carmelo (baixo) e Victor Reis (bateria) chegam ao primeiro álbum completo e entregam tudo o que os singles que precederam o disco já prometia.


arte da capa: Duh Bellotto

Meu Próprio Clube Da Luta é repleto de melodias agradáveis, riffs ganchudos e letras bem cuidadas que vão do quase nonsense (“Bar e Lanches”) até a crítica social em seu estado bruto (“A Dinamarca não é Aqui”).
Em “Eu Não Falo Emoji Fluente”, a ironia fica por conta da falta de comunicação que existe na troca de mensagens repleta de figurinhas das redes sociais. Com instrumental animado e pontuado por uma dobra vocal muito interessante. Em certos momentos a melodia remete à surf music, o que não deixa de ser irônico já que a banda se formou no bairro de Pinheiros em São Paulo, que não tem praia e fica longe pacas do litoral.
Até aí, os Beach Boys só tinham um (e bem ruim) surfista na formação...
Em “Namastreta” o alvo é o seletivismo destes tempos polarizados, mas prega a reconciliação.
Sem relativismo ou concessões: perdoar sim, mudar para esquecer, não.
A frase de abertura é genial: “Quando for presidente vou indexar a Heineken ao dólar para não disparar”.
Outro grande destaque da canção é a bateria, se bem que Victor Reis manda bem em todo o álbum.
Mais séria é “A Dinamarca Não é Aqui” que já chega metendo os dois pés na porta: “Não sei cadê o Queiroz e nem quem matou Marielle”.
Ok, já sabemos onde está e o que pretende o tal Queiroz; quem matou Marielle (só não sabemos ainda a mando de quem), mas o recado final é na lata: só não pode acabar em pizza.
“Para Ir Além” é romântica
Mas é romântica dentro do aspecto geral do álbum, tem uma pegada forte e a letra é clara: “no final, a vida não é pra sofrer”.
Uma das prediletas aqui da casa acabou sendo a faixa “Bom Dia”.
Com o contrabaixo de Tati Carmelo conduzindo, tem letra sobre autoconhecimento e aceitação. Tem também um dos melhores refrãos do disco dando até para visualizar o público cantando junto e batendo cabeça durante a explosão sonora na ponte da música.

foto: Mário Ladeira

Produzido por Carlos Eduardo Freitas no Estúdio Aurora, Meu Próprio Clube da Luta é muito mais do que bem vindo, é um lançamento necessário para se enfrentar estes tempos bicudos.
Divertido e consciente, é para quem sente saudades do Zé Gotinha e também para quem, diferente do Duh Belloto, não sente falta do horário de verão.
Ouve o disco aí pra entender.
Disponível em todas as plataformas.

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