Cidade Mórbida traz o Fibonattis mais maduro, consciente e igualmente divertido

O primeiro disco dos caras foi lançado em 2016, o que depois de tudo que vivemos com a pandemia de COVID-19, parece ter sido há um século.
Desde então, com um EP e uma série de singles, o Fibonattis, banda de punk rock, street punk e bubblegum da cidade de Francisco Morato (aqui do lado, meus vizinhos...) não só evoluiu musicalmente como também amadureceu.
Não que isso tenha feito com que seu som, sempre enérgico e pra cima tenha ficado mais suave ou coisa parecida, mas sim mais sólido, mais seguro.
A banda está entrosada e tocando muito, fazendo parecer fácil. Como se fosse fácil tocar...
É dessa forma que Junior e Marlon ( guitarras e vozes principais), Flávio (baixo) e Gilson (bateria) chegam ao seu segundo álbum completo: Cidade Mórbida (Repetente Records).



O título do disco faz citação direta ao período da pandemia em que – quase – tudo fechou pelas questões sanitárias e deu até à cidade de São Paulo, conhecida pelo mote de “cidade que nunca dorme” o aspecto sonolento e mórbido do abandono.
Embora a letra da faixa de mesmo nome soe como um relato e uma homenagem à vida na cidade Francisco Morato: “Carros luxuosos cruzam o simples cidadão (...) Do amor ao ódio, do ranço ao se orgulhar (...) Garoa renova o asfalto da cidade mórbida.”.
Aliás, a faixa título é uma das melhores do trabalho e cita até o vendedor de churrasco grego da estação que eu já consumi muito, é bom...
São onze faixas com refrãos altamente assobiáveis e versos que vão desfiando histórias sobre relacionamentos, rotina, paixões e apontando preconceitos e problemas sociais graves e que estão longe de ter solução.
As letras, todas em português, são bem escritas e fogem do tradicional dedo apontado que o punk nacional costuma ter.
Poeticamente, são bem construídas encaixando nas melodias como luvas.
As vozes sempre limpas e bem colocadas dos vocalistas Junior e Marlon ajudam muito o entendimento e os backing vocals criam climas épicos que empolgam o ouvinte à cantar junto.
Canções como “Velha Seleção” (que abre com um trecho em MIDI lembrando trilhas sonoras de videogames 8 bits) e “Não Se Rompe” são sobre futebol, mas não o jogo e sim a torcida.
Enquanto a primeira pede que se devolva a seleção ao povo (“Seu manto hoje é uniforme de babacas”), a segunda fala do peso e da paixão por um time e até da violência que envolve a parada (“Autoridades do Estado torcem pra que os rivais não se trombem.”)
Outro ótimo momento é “Johnny e Joana”.
Mais descontraída, a canção sobre relacionamento vai listando coisas comuns a quem decide viver junto e a voz da “Joana” fica por conta de Judyxxx, vocalista e guitarrista da banda Judy and The Outsiders.
O lado pesado fica com as sérias “Tarde Demais” e sua letra sobre as enchentes e deslizamentos que levaram a vida de dezenas de moradores da cidade natal da banda e “Distintos Jamais” que obriga o ouvinte a pensar em igualdade.
A faixa de abertura, “Vidas” é uma reflexão muito atual sobre rotinas e o sentimento de ansiedade que isso gera. Sua letra termina levantando a questão: “Será que eu posso falar que eu vivo?”
Gravado entre fevereiro de 2020 e maio de 2021, Cidade Mórbida teve a produção de Windi Ribeiro em parceria com a banda.
foto: Uílian Hércules

As composições são todas próprias e contam com parcerias pontuais de Christian Targa, ex Blind Pigs (na faixa “Singelos Votos”) e Alberto Rinaldi na faixa título.
E o mais legal é que, além do streaming distribuído às plataformas pela Ditto Music, o disco vai ganhar uma edição física em vinil, parceria dos selos Neves Records e Detona Records.
Ultra indicado para fãs do punk do fim dos anos setenta e dos Ramones, mas não só.
Divertido, nem se sente os pouco mais de trinta e cinco minutos de duração passar.
Ideal pra pôr no repeat e deixar tocar até decorar inteirinho.

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