Depois de 15 anos, Terminal Guadalupe volta com Agora e Sempre desenhando fielmente o que sobrou do Brasil

Algumas obras te pegam pelo coração, outras te fazem pensar e te pegam pelo cérebro.
Ainda há aquelas que te pegam pelos quadris e te fazem dançar.
Mas algumas te acertam na boca do estomago como um soco.
Agora e Sempre (Loop Discos) o primeiro disco em quinze anos do Terminal Guadalupe é desta última classe descrita.
E que soco.

O quarto disco da banda foi gravado around the world com Allan Yokohama, guitarrista paulista em Lisboa escrevendo arranjos que contemplavam uma gama de estilos indo de variações de ritmos latinos, flamenco, kraut rock e música lo fi, trabalhando com violões e programação de bateria.
Na Alemanha, Fabiano Ferronato, baterista paranaense, fazia as bases. Enquanto no Brasil, Dary Esteves Jr., cantor/compositor sul-mato-grossense, polia as letras.
Com atividades intensas no grupo no whatsapp, faltava ainda um elemento que não demorou a chegar:
o baixista carioca Marcelo Caldas, que toca com os portugueses do The Invisible Age, se juntou trazendo consigo o produtor Iuri Freiberger, responsável por álbuns do Kassin, Frank Jorge e dos Selvagens à Procura de Lei.
Allan e Iuri dividiram então a produção trocando mensagens de áudio e indo algumas vezes até Lisboa para gravar os instrumentos de forma mais tradicional enquanto a voz continuava a ser gravada no Brasil.
Assim nasceu o disco.
Com letras que vão do português ao italiano passando pelo inglês e espanhol com a mesma desenvoltura, Agora e Sempre descreve fielmente o Brasil atual.
Denso e sombrio, o disco não poupa críticas ao ser humano mais burro sobre a face da terra a dirigir um país.
Basta dar uma ouvida em “¿Qué Pasa, Cabrón?” para entender: “ El teniente, bandolero/pueblo enfermo, sin dinero”.
Mais incisiva ainda, “A Flor de Drummond” repercute a infame frase “E daí?” dita pelo genocida a respeito dos mortos da pandemia e lembra: “Nos despedimos em ondas / É sempre devastador”.
A canção fecha o disco fazendo um pequeno aceno esperançoso ao país: “Você ainda vai nos redimir”.

fotomontagem: divulgação

Programado para ser liberado nas plataformas no dia cinco de setembro para coincidir com o aniversário do infame AI-13, que cassou direitos e garantias constitucionais, o disco abre com uma espécie de novo hino: “Ahora y Siempre”, parceria de Dary Esteves com Dany Lopez, cantor e compositor uruguaio traz incorporada em sua letra as falas do deputado Ulysses Guimarães em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da atual constituição.
Outros destaques são a balada “Exílio” em que Dary questiona como as coisas puderam chegar onde chegaram; “Privé”, um pop eletrônico escrito e interpretado pelo cantor italiano Franco Cava.
A preferencia da casa recaiu mesmo foi na “ensolarada” “Holidays in Amityville”, que apesar da melodia fofinha, descreve o fim de um relacionamento.
Mixado e masterizado por Iuri Freiberger o disco foi gravado nos estúdios Casa do Fundo e Arnica, em Curitiba; Leo Bracht Transcendental, em Porto Alegre; IO, em Montevidéu; e Hybrid 13 e Yokohome Studio, em Lisboa.
Além dos já citados Franco Cava e Dany López, Agora E Sempre também teve as participações de Rodrigo Lemos  tocando teclados em “A Flor de Drummond” e “¿Qué Pasa, Cabrón?” e Iuri Freiberger adicionando percussão digital e diversas intervenções sonoras.
A arte da capa é de Pietro Domiciano.
Mais que um disco, Agora e Sempre é um documento que merece e precisa ser ouvido/lido e assimilado.
Já nas plataformas, pode consumir sem moderação.

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