Estranho, novo disco do Molho Negro mantém o sarrafo lá no alto

Não se engane com a aparente limpeza do som ou a melodia da voz e nem com o cuidado com o timbre dos instrumentos. Contra todas as aparências, este é um disco de hard rock.
O Molho Negro pegou pesado.
A banda foi formada em 2012 em Belém do Pará e tem em sua discografia quatro álbuns cheios, dois registros ao vivo alguns ep´s e já tocaram nos mais importantes festivais que rolam no país como Oxigênio Fest, Lolapalooza, Abril Pro Rock e a Virada Cultural em São Paulo.
O lançamento da vez é Estranho que chega quatro anos após o elogiado Normal e mantém o sarrafo bem alto mostrando o power trio em um momento especial, mais maduros e tocando muito bem e com bastante entrosamento.


As linhas de baixo de Raony Pinheiro saltam das caixas de som (ou nos fones, depende de você) e conferem um peso profundo junto com estação de força que é a bateria de Augusto Oliveira enquanto a guitarra de João Lemos dispara riffs e solos.
João, responsável pelas letras, deixou de lado um pouco a veia do humor e escreveu temas mais maduros e até um tanto complicados e, embora o disco não seja bem uma obra conceitual, algumas de suas letras discute o “ser artista” nesses tempos de redes sociais.

foto: Lucca Miranda

Está tudo lá: as dúvidas, a ansiedade e o contraste entre o que se posta e a vida real por trás.
Logo na faixa de abertura, João mostra que o papo vai ser reto: “Intro”, que com seus um minuto e treze segundos de introspecção pede palmas para o artista que afogou as esperanças e avisa: “Às vezes é preciso olhar pra dentro”.
O assobio que encerra a faixa logo é substituído pelo esporro do single “Berrini” que dá sequência ao tema: “Artistas de final de semana vão pra Berrini” – canta João em alusão à chique avenida da capital de paulistana e questiona: “...a gente tá virando a caricatura da caricatura da caricatura”.
A letra ainda tem um dos melhores versos do disco: “Se Jesus voltasse hoje quem iria cancelar? Jesus Cristo hoje seria ateu”.
Sacou o destinatário da mensagem?
Em “Deixa Seu Coração Pra Lá”, o foco é público: “Ninguém perde mais tempo que eu calculando o que dizer” pra depois jogar a toalha sobre o assunto e admitir que ainda assim, vão entender o que quiserem.
A pausa no assunto (ou não) vem com “Campo Em Branco”, canção que retrata um assunto sério e muito triste, mas também muito comum na vida de uma penca de brasileiros e brasileiras: a falta de presença do pai.
Também seria é a alusão aos males causados pelos algoritmos em “Não Nasceu Pra Brilhar”.
A canção lembra da busca por views ou likes como mostra de aprovação de pessoas que na maioria das vezes o usuário de rede social sequer conhece o que vem a causar sérios problemas de auto estima podendo (e muitas vezes levando mesmo) até a depressão.
Completam o disco ainda as faixas “Ceia” e a bela “Passar no Crédito”.
O disco foi gravado entre o fim de 2020 e 2022 no estúdio Costella, em São Paulo com produção de Gabriel Zander que conseguiu um som claro, límpido com os instrumentos muito bem definidos.
O lançamento é da Flecha Discos e embora já esteja disponível, o lançamento oficial será no dia 23 de setembro em um show no Centro Cultural Santa Cecília em São Paulo.

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