Chega ao streaming, finalmente, Ciranda de Ritmos, um dos mais bonitos e importantes discos de Lia de Itamaracá

Quem gosta de artistas vindos de Pernambuco como Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre SA, Mestre Ambrósio, Janete Saiu Para Beber, Lenine, Alceu Valença entre outros, já deve ter ao menos ouvido falar de Lia de Itamaracá.
Se não ouviu, melhor resolver isso logo.

foto: Ytallo Barreto
Rainha da ciranda e reconhecida como patrimônio vivo da cultura pernambucana (e do Brasil), nascida Maria Madalena Correia do Nascimento, Lia de Itamaracá é autora de um dos versos mais emblemáticos da ciranda já citado por autores que vão desde Lenine e Alceu até o pianista Amaro Freitas: “Oh cirandeiro, cirandeiro oh, a pedra do seu anel brilha mais do que sol...”.
Vinda de uma família com vinte e dois irmãos (!), foi a única a se enveredar pelos caminhos da música sendo descoberta por Teca Calazans, compositora e pesquisadora interessada em cultura popular nordestina com quem desenvolveu parceria em canções inéditas e resgates de músicas de domínio público.
Lia grava desde 1977, quando registrou seu primeiro disco chamado A Rainha da Ciranda, disco do qual recebeu apenas vinte cópias para distribuir e não lhe rendeu dinheiro algum.
Mas foi o bastante para faze-la conhecida e respeitada por estudiosos da música e cultura do nordeste.
A descoberta nacional se deu em 1988 quando o produtor Beto Hees a levou ao festival Abril Pro Rock, realizado em Recife e Olinda.
Em 2000 gravou o álbum Eu Sou Lia, lançado pela Ciranda Records e mais tarde reeditado pela Rob Digital que incluía cocos de roda, cirandas, loas e maracatus.
O disco chamou a atenção e teve uma boa recepção fazendo com que Lia fosse convidada para ministrar workshops e palestras em várias capitais brasileiras.
O trabalho também foi distribuído na França e a artista foi então convidada a fazer diversas apresentações vitoriosas em Paris, consolidando ainda mais seu nome. 
Lia também aparece em alguns curta e longa metragens do cinema nacional como o documental Formiga Come do Que Carrega (2013) do diretor Tide Gugliano e dois trabalhos do cineasta Kleber Mendonça Filho, o curta Recife Frio, de 2009 sobre uma estranha mudança climática na capital pernambucana onde aparece na praia de Itamaracá vestida com roupas para o frio e cantando "Eu Sou Lia, Minha Ciranda e Preta Cira", e do longa premiado Bacurau de 2019.
Lia foi elevada ao status de Patrimônio Vivo de Pernambuco pelo governo do estado e também é doutora Honoris Causa, recebendo a honraria da Universidade Federal de Pernambuco em 2019 pelos serviços prestados à cultura do estado e do país.
Agora, afim de dialogar com as gerações mais jovens, está sendo lançado pela primeira vez no formato digital (streaming) pela Boia Fria Produções, um de seus trabalhos mais importantes e que só existia até agora em formato físico (cd).
Trata-se do álbum Ciranda de Ritmos, lançado em 2008, dirigido pelo flautista e compositor Carlos Zens e inspirado no saxofonista de longa data Seu Bezerra, que tocou com Lia por quase quarenta anos e é autor de seis das quatorze faixas do disco.

A obra estará disponível nas plataformas a partir do dia 17/11 e vem se juntar ao já citado Eu Sou Lia e o maravilhoso Ciranda Sem Fim lançado em 2019, bem como a alguns singles como os dois mais recentes, “Odocyá” e “Janaína”.
A audição de todos os trabalhos é muito mais que uma recomendação.
E para quem quiser fazer o pré save de Ciranda Sem Fim, fica aqui o linktree.
Salve a cultura de Pernambuco, o estado mais musical da federação.
Salve Lia de Itamaracá, rainha da ciranda.

foto: Ytallo Barreto


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