Alerta de assunto em voga: literatura de Fantasia e J.R.R. Tolkien!
E como tudo que fica em muita evidência, salta também muita discussão infundada e falas desmedidas de palpiteiros tresloucados.
Em 1960 mesmo, os Beatles cogitaram fazer uma versão de O Senhor dos Anéis – o livro mais famoso de Tolkien, por assim dizer, e que estava "bombando" na década em questão, como uma obra recentemente publicada. O roteiro seria, provavelmente bizarro. Sabe-se poucos detalhes, mas o quarteto encarnaria os seguintes personagens: Paul McCartney seria Frodo e Ringo Starr, Sam. George Harrison como o Mago Gandalf parece o mais encaixado, enquanto John Lennon, não surpreendentemente, estava à postos para interpretar o personagem mais ambíguo e estranho de Tolkien: a criatura Gollum.
O que sabemos é que o autor é ainda relevante, ainda que nichado (bem menos do que já foi, como dissemos no começo dessa postagem), e muito importante para a "maior banda de rock do mundo" (como alguns consideram), e por muito tempo, mesmo com a negativa da adaptação da obra.
Para demosntrar isso, nessa postagem, trazemos um artigo da tolkienista Drª Dimitra Fimi fazendo uma análise sobre The Fool on the Hill de Paul McCartney, bem interessante. Confiram!
***
"The Fool on the Hill" de Paul McCartney, os primeiros desenhos de Tolkien e o Tarô Rider-Waite
Estávamos tendo uma manhã preguiçosa ontem, no ensolarado e quente jardim de inverno, e Andrew estava ouvindo The Beatles 1967-70 em seu toca-discos, quando “The Fool on the Hill” começou a tocar.
Eu amo essa música. Eu entendo porque as pessoas tendem a idolatrar John Lennon, com sua experimentação, ideias controversas e claro, o dom para a originalidade, mas eu insisto que McCartney é o mais melódico dos dois, e suas canções envelheceram muito melhor e são muito mais memoráveis. como melodias. “The Fool on the Hill” é um exemplo claro de seu talento, assim como “Blackbird”.
Mas ouvindo “The Fool on the Hill” em uma manhã preguiçosa de fim de semana, minha mente fez uma ligação que é tão injustificável quanto intrigante e sedutora. Pensei no desenho inicial de Tolkien, de um caderno de esboços que ele batizou de “O Livro de Ishness”, chamado “Fim do Mundo”. Este desenho retrata um homem-palito alegremente dando um belo e largo passo, sem (aparentemente) perceber que está pisando em um enorme penhasco. E, como uma reação em cadeia, mais uma imagem veio e colidiu com a de Tolkien e com a letra da música de McCartney: a carta “0” dos Arcanos Maiores do baralho de tarô Rider-Waite, “The Fool” [*NT].
Fonte das imagens: “Fim do Mundo” de J.R.R. Tolkien (em JRR Tolkien: Artista e Ilustrador, de Wayne G. Hammond e Christina Scull) e “O Louco” do baralho de Tarô Rider-Waite. |
Agora, o desenho de Tolkien é provavelmente uma representação bastante alegre de sua concepção inicial de Arda (o mundo maior do qual a Terra-média é apenas uma parte) como um mundo plano, cercado pelo Mar Exterior. Alguém poderia caminhar até o fim e literalmente cair de sua borda. Tolkien mudou de ideia mais tarde com a história da queda de Númenor levando à noção do mundo redondo. Mas Nárnia [**NT], por exemplo, que também foi inspirada em representações medievais do mundo, permaneceu plana.
No entanto, o andar despreocupado e completamente alheio do homem-palito (não consigo tirar da minha mente a ideia de que ele está exibindo um “sorriso tolo”) me faz pensar sempre em “O Louco da Colina”, que “ vê o sol se pondo/ e os olhos na cabeça/ vê o mundo girando”. O desenho de Tolkien ainda apresenta um céu rodopiante e giratório (em um estilo que foi comparado ao de Van Gogh) com a luz do sol se fundindo com o céu noturno, completo com lua e estrelas.
Quanto ao Louco dos Arcanos Maiores, ele está olhando para cima e não consegue ver o precipício à sua frente, muito mais interessado nas coisas espirituais do que nas terrenas. Ele mergulhará no abismo, vítima de uma abordagem ingênua da vida, ou voará e desafiará a força da gravidade? Posicionado nesta posição, cheio de desgraça ou potencial (dependendo do ponto de vista), ele é um símbolo de Everyman no início da jornada da vida. Ou é no final? Se não me falha a memória, o Louco é a carta 0, antes mesmo do início da numeração, ou a carta 22, a última. E assim voltamos ao círculo completo à ideia de Tolkien sobre o “fim do mundo”.
Três “bobos na colina”, três viajantes na vida (ou um mundo secundário), três símbolos/metáforas? Certamente não estou reivindicando nenhuma ligação direta entre os três (embora o baralho de Tarot Rider-Waite data de 1910, se eu entendi direito, e o desenho de Tolkien foi feito na década de 1910 também, enquanto não se pode imaginar que os Beatles não estar familiarizado com as cartas de tarô, dado o seu meio cultural). Não, não estou reivindicando links diretos (por isso tenho resistido a “pesquisar” essas reflexões e adicionar referências, como costumo fazer), nem mesmo indiretos, na verdade! Por favor, aceite esta postagem do blog como reflexões aleatórias por associação livre em uma manhã preguiçosa de fim de semana.
[*NT - Nota da Tradução: A tradução aceita para essa carta é "O Tolo" ou, a mais comum, "O Louco".] [**NT - Nota da Tradução: Referência à "As Cônicas de Nárnia", os livros de fantasia de C.S. Lewis – por muito tempo, amigo de Tolkien.]
***
Publicação original: dimitrafimi.com, disponível no link - Paul McCartney’s “The Fool on the Hill”, Tolkien’s early drawings, and the Rider-Waite Tarot
Escrito por Dimitra Fimi
Data da publicação: 29 de agosto de 2016
Tradução de Emanuelle G. Gomes
Comentários
Postar um comentário
Seja o que você quiser ser, só não seja babaca.