Em Rurais, a Magüerbes traz um metal moderno com memórias afetivas, alto astral e otimismo

O disco começa com o canto do galo... Literalmente.
Logo um ruído de alguém tentando sintonizar um rádio entra e causa estranheza.
O galo não?
Não..., mas alguém tentando sintonizar um rádio em 2023 com certeza...
O ouvinte vai girando o botão de sintonia e passando por sons como a introdução de “Estrada da Vida” dos seminais Milionário e José Rico; uma mensagem de alguém convidando para um casamento; um locutor falando sobre “a melhor banda de todos os tempos”, um riff em forma de cavalgada e volta ao locutor que está terminando de apresentar a tal banda: “(...) os meninos do Magüerbes!”.
Agora o disco começa!
Não de novo...
Agora entra a voz de Thiago DJ que anuncia o disco Rurais (2023, Repetente Records) dando uma pequena palhinha introdutória do que vem por aí nos próximos 29 minutos...
É... 29.
Essa introdução toda leva embora um minuto do disco, mas creia: ela é super importante e termina com o início – de fato – da primeira canção do disco: “Capial”
Uma bateria tocada por Ricardo Franciscangelis vai preenchendo o ar e fazendo cama para que as guitarras melódicas e pesadas de Fabrizio Martinelli e Fábio Capelo explodam de vez junto com a voz de Haroldo Paranhos e o baixo pulsante de Júlio Ramos.
A faixa, assim como todo o disco, é alto astral e vai versando sobre memórias afetivas - daí o som do rádio sendo sintonizado já que quem gosta de música e não tem essa referência ouviu música de forma errada - angústias e uma enorme carga de otimismo: “Se não fossem os meu amigos e a coragem pra lutar/Sabe, é foda viver em guerra. O tempo cobra...(...) O tempo vence tudo e você é tudo pra mim.” – diz a letra.
A música termina com uma rima muito bem mandada pelo convidado Thiago DJ.
Não poderia ser um cartão de visitas e uma introdução melhor.

arte: SHN ( @ssshhhnnn )

Mas o disco continua e as pedradas vão se sucedendo.
Após outra pequena fala introdutória – desta vez com uma criança pedindo ao Tio Haroldo músicas novas – o tempo fecha novamente e o peso retoma o que até a bem poucos instantes já era dele.
Um riffão pesado e grudento inicia “Coreto”, um metal moderno que apesar do peso, flutua.
Mais uma vez são as guitarras roubando a cena com frases que mais parecem composições à parte e ainda assim totalmente integradas ao conjunto da canção.
“Vou dizer que te quero bem”, termina a letra. E ó... Conseguiu.
O massacre sonoro segue com “Pé Vermeio” que tem um coda sabathico que Tony Iommi aprovaria; “Sem Gelo”, candidata a hit de rádio, se rádios ainda existissem é das poucas que não tem um uma fala ou dialogo na introdução e que onde o baterista Ricardo brilha; “Boia Fria” de andamento quase punk rock; A quase balada – tá bom, passa longe, mas é a que mais se assemelha a uma – “Melhor Dia”.
“Nós Por Nós” fecha o disco com chave de ouro, ou de algum outro metal pesado e dá uma resumida na vibe do álbum.

foto: Júlia Magalhães
O disco teve sua pré produção feita durante a pandemia e as reuniões para resolver assuntos relacionados ao trabalho eram tratados como verdadeiras terapias ao que a banda credita a energia positiva que permeia o trabalho.
Não por acaso, as últimas frases que se ouvem são: “Viver é da hora demais, mano.... Recomendo. E aê? Vamo pá rua?”
Caso aceite o convite, salve o disco em sua playlist e vá ouvindo. O rolê vai ganhar novas cores.
O disco que foi financiado por fãs e apoiadores da banda foi gravado na cidade de Piracaia, estado de São Paulo com a produção feita por conta de Guto Gonzales.
A capa é obra do estúdio SHN e o disco já está disponível em todos os streamings.


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