EmbarUlhado: a aventura solo e só de Xico Mendes

-Groo, posso te mostrar um negócio aqui? Mas por favor, guarda pra você.
-Ok, manda.


Ao colocar os fones de ouvido e dar o play um riff de guitarra nervoso toma conta de tudo junto com uma percussão pesada.

“Ali observam seus erros/Aqui avaliam seus vícios
Mas siga em paz e sossego/Se lembre de não dar ouvidos
Mal dizer, neles são seus princípios
Mal dizer, o futuro de um velho início”.
-Caralho! Que isso? Como se chama? Quem toca contigo?

fonte: facebook
Uma coisa de cada vez...
Esse papo se deu em julho de 2022 com o multi instrumentista e compositor Xico Mendes, guitarrista da banda Pedra Letícia que então estava trabalhando em seu estúdio caseiro nas demos e ideias para um futuro disco solo onde tocaria todos os instrumentos.
A música se chamava “Benzido”, e era um rock faiscante com letra transitando entre o poético e o místico com um coda final de riffs acompanhando uma oração feita em Umbundo por Ermi Panzo direto de Angola pedindo proteção.
Desde aqueles dias Xico já dizia que seria essa a canção que abriria o álbum, mas a ideia original tinha pequenas diferenças: até então o disco se chamaria apenas Mendes em referência ao primeiro trabalho solo de Paul McCartney que também foi gravado de forma solitária, apenas o beatle tocando todos os instrumentos.
Xico que é um ultra fã do quarteto de Liverpool ainda tinha a ideia de fazer uma capa também em referência àquele trabalho do beatle, mas com limões cravo espalhados em cima de uma mesa e alguns ester eggs.
Ele conta: “-São treze faixas, então são treze limões... 13 que é pra gente se livrar dessa zica toda que está aí e por mais que eu tenha toque com números impares, 1+3=4 e quatro são os Beatles que pra mim aí resolve bem...”


Da ideia original sobraram apenas as treze canções e o fato dele ter feito - quase - tudo sozinho da criação até a finalização
Com capa totalmente diferente e com o título EmbarUlhado (2023, Zé Telo) que é a junção de embaralhar com barulho, o disco que finalmente chega às plataformas mostra o talento e a versatilidade do artista.

capa: Fabrini Arts

O álbum mescla power balads com algum experimentalismo que, sim, remete ao fab four, mas com toque todo original como atesta a bela e estranha “Tomando Linha” que difere totalmente do restante apontando para outros caminhos; a quase vinheta “Kron” que mostra um espirito mais, digamos, sertanejo/violeiro (lembrando que Xico é goiano e a música de Goiás é muito rica para além das duplas que tomam conta do mainstream) ou o samba que encerra o disco com “Já Tava Avisado”.
“Há Quem” que tem as participações de Leo Guto Costa na bateria, Tuta Sax e Simei Fumaça nos sopros e “Não Queime Essa Carta” trazem Xico mostrando o quanto domina seu instrumento principal (guitarra/violão) tirando deles sons aparentemente simples, mas carregados de emoção.
E se é uma guitarra mais distorcida e barulhenta que cê curte, não tem problema: “Bem Por Aí” traz esse som e tem a maior cara de hit do disco, daqueles que grudam nas paradas de rádio.
Uma pena que não existam mais paradas e quase que nem rádio.
A preferida aqui da casa ficou sendo “Despeço-me”, um blues não ortodoxo com um solo de guitarra lindíssimo e letra sobre relacionamento (“E eu nem de longe poderia dizer que o destino que assombrava você bate à porta e agora pede por mim/sim era claro que iria chegar o seu tempo espaço pude afirmar e só me resta conviver com memória”) com participação de Renato Rigon tocando o orgão hammond.
Ótimas melodias, muita inspiração, letras bonitas, enfim... Um disco para se curtir do começo ao fim.
E se calhar, de novo e de novo.

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