Renato Medeiros lança A Curva dos Dias, uma declaração de esperança e otimismo

O processo de gravação foi quase artesanal - como me contou o próprio Renato Medeiros - embora o resultado tenha ficado profissionalíssimo.
Composto, arranjado e gravado em casa com a produção de Lucas Gonçalves da Maglore, A Curva dos Dias (2023, independente + distr Tratore) é um disco coeso e mesmo sendo de um artista solo, soa como trabalho de uma banda enxuta, entrosada e criativa.


O som que transita entre o rock and roll dos anos sessenta e setenta tem momentos de pura inspiração folk como nos melhores momentos de calmaria da Crazy Horse tocando com Neil Young.
Precedido por três singles – todos presentes no álbum – A Curva dos Dias tem muito mais a oferecer e surpreender o ouvinte.
Desde passagens flamencas com os violões arrebentando tudo em “James”, segunda faixa do álbum que Renato disse ser inspirada em Paul McCartney (que logo imaginei encontrando Paco de Lucía) a delicadeza de “Perto” que fala sobre um tema dolorido e difícil com leveza e esperança.
A faixa trata dos sentimentos do autor logo após a passagem de sua avó e tem no verso final - “... eu sou feliz porque vivi com você”  - não só uma redenção gloriosa, mas também mais bela homenagem possível de se fazer à alguém querido que se vai.
É bom deixar claro que o disco é em seu todo, uma grande declaração de otimismo, de esperança e fé na vida.
A ideia central é dizer que sim, a vida é difícil, mas pode e deve ser bonita com as coisas que fazemos no período de tempo em que estamos nela.
Esse otimismo é transmitido não só nas letras como também nas melodias alegres e solares mesmo nas faixas mais... Densas, por assim dizer.
A instrumentação é enxuta, sem exageros ou virtuosismo vazio com solos de guitarras econômicos e bem construídos como nas faixas “Pássaros” e “Madre de Dios” e nas texturas leves e arejadas de “Honesto”, canção dona de um dos versos mais bonitos e verdadeiros do disco: (...)”As coisas podem mudar pra melhor se eu for honesto com você.”.
Destaque ainda pra belíssima faixa final “Eu Vou Continuar” que além de resumir o espirito do disco, ainda ponta – literalmente – para o futuro.
Coisa fina.

Renato divide a produção e todos os instrumentos com Lucas e as gravações contaram também com participações de Giovana Airoldi (celo em “Livre” e “Um Lugar”), Igor Bollos (debulhando o violão de cordas de nylon em “James”), Gabriel Stern (sax em “Madre de Dios”), Matheus Marques (percussão em “Vinheta Toxica” e “James”) e Dennis Guedes (sinths em “Madre de Dios” e “Um Lugar”).
Na masterização Renato teve a companhia de Mauricio Gargel.
Enfim, ouvir este disco com atenção aos detalhes e suas mensagens é uma das melhores coisas que você pode fazer por si mesmo nestes dias carregados que vivemos.
O coração e a alma com certeza agradecerão.

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