Carne De Caju é o Mombojó trazendo Alceu Valença para novas gerações

A proposta era resgatar lados B de um dos maiores artistas vivos do Brasil e – modernizando seus arranjos – mostrar as raízes de seu próprio trabalho, parte de onde veio a inspiração para seus mais de vinte anos de carreira autoral e, é importante frisar isso aqui, original.
Estamos falando da banda pernambucana Mombojó que lançou seu sétimo disco: Carne de Caju (2024, independente).


Na ativa desde 2001, a formação conta com os vocalistas e guitarristas Felipe S. e Marcelo Machado junto com Chiquinho Moreira nos teclados, Vicente Machado na bateria e Missionário José que se divide entre o baixo e o sintetizador, o Mombojó é do tipo de grupo que consegue transformar a paixão pela cultura natal em um trabalho de linguagem universal fazendo uso das influências regionais misturadas ao som das guitarras e teclados.

Se parar para pensar, é – guardando as devidas proporções – o mesmo que faz desde os anos 70 o homenageado desse disco: “A pitada de estrangeiro eu boto pra lhe envenenar” – disse Alceu em “Que Grilo Dá (Rock de Repente” gravada em seu disco Mágico de 1984, que não... Não no disco.
São oito faixas que incluem aí dois mega hits: “Estação da Luz” do disco de mesmo nome de 1985 e “Como Dois Animais” do arrasa quarteirão Cavalo de Pau lançado em 1982.
A primeira surge refrescada como uma lufada de brisa marinha e a segunda com o arranjo um pouco mais conservador.
Outra que aparece renovada é “O Romance da Bela Inês”, originalmente do disco Leque Moleque (1987) em que o canto falado de Alceu ganha ares de rap antes da entrada do lindo refrão. A canção ganhou também um belo vídeo clipe.

A originalmente acústica “Tomara” do disco Sete Desejos de 1991 vem elétrica com arranjo de guitarra leve flutuando por trás do novo arranjo que sugere um reggae sem na verdade ser um.
Já “Olinda” uma das diversas declarações de amor à cidade feita por Alceu e registrada também no Estação da Luz tem seu clima etéreo original emoldurada por um instrumental baseado em baixo, bateria e sintetizador mostrando a assinatura altamente reconhecível do Mombojó.
Chuva de Caju é por fim, um disco solar, como é a obra de Alceu.
Criativo, agradável, honesto, respeitoso, muito bem executado, acaba despertando no ouvinte de uma nova geração a vontade de ir atrás dos originais bem como do restante da obra de Alceu para complementar a audição.
E talvez esse seja um dos maiores êxitos do trabalho, sem demérito algum.

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