A música brasileira tem a característica pegar elementos externos e utilizar a seu favor criando sempre algo instigante e novo desde a Tropicália de Gil e Caetano em relação aos sons dos anos 60, Beatles e afins.
Gil foi mais fundo com a música africana no celebrado Refavela (1977); os Paralamas amalgamando influências latino-americanas com reggae, rock e MPB nos anos 80/90.
Chico Science e toda a turma do manguebeat elevando a enésima potência o que faziam mestres como Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho com a música regional pernambucana (e nordestina no geral) mesclando com rock e indo além com a cultura hip hop.
Nesse novo milênio, The Baggios jogaram na brasilidade tintas psicodélicas e blues rock de alta octanagem criando clássicos contemporâneos como a trinca Brutown (2016), Vulcão (2018) e Tupã-Ra (2021) e indo além com o fantástico disco solo de seu cantor e guitarrista Julico (Onirikun, 2021) que adicionou soul à equação.
Agora é a vez do debut de uma banda paulistana que começa as misturas já no visual.
Olhando as fotos não se sabe bem se são hippies do fim dos anos 60 ou uma banda indie dos dias atuais.
Nem um e nem outro... o som tem psicodelia, funk (aquele dos anos 70 como o Funkadelic), soul music de pesos pesados como Cassiano, Hyldon e claro, Tim Maia.
Tá pensando aí que não tem novidades né? Pois é... Tem sim.
A banda ainda mostra influências de coisas tão impares quanto Allman Brothers Band e Pink Floyd fase Syd Barret, porém, não jogadas na cara... Tem que ouvir atento pra sacar.
Talvez pareça mistura demais, mas a forma com que a
Camélia, (@soul.camelia ) banda formada por Tavasso (Vocal), Bruno Petcov (Piano e Teclado),
Guilherme Almeida (Bateria), Rafael Diniz (Guitarra), Lucca Scocca (Guitarra) e
Gustavo Scaranello (Baixo) apresenta seu trabalho e formata suas canções é tão
bem feita que, acredite, soa muito natural.
Soul Brasil (2024, Canil Records) é um cartão de visitas/carta
de apresentação tão poderoso que atiça imediatamente a curiosidade de saber
onde podem chegar com seu som.
Desde a batida groovada e hipnótica da abertura com “Amuleto” onde a banda apresenta suas armas e intenções ao falar sobre racismo, orgulho, liberdade e futuro com guitarras suingadas, percussão pesada que vai do soul ao baião e passa pelo rock em quase cinco minutos.
Aliás, a temática do disco é essa: o fortalecimento da representatividade e da identidade cultural preta que, queiram ou não certos setores, é a face mais representativa e forte da cultura brasileira.
Já na canção seguinte, “Navegantes Pelo Mundo”, uma guitarra percussiva forte sobre outra bem suingada dão base para que a voz de Travasso dê um show de intepretação: “Eu quero paz!” canta chegando ao fim da música quando os pés já estão batendo no chão e a cabeça balançando.
Logo depois é a vez de “Abra Os Olhos”, balada que conta com um puta solo de guitarra (pensou em “Margot Brain”? eu também...) que vai nos conduzindo até a quebradeira da canção seguinte que tem o mesmo nome da banda, onde a tecladeira interage com as guitarras e a cozinha da banda de forma simbiótica.
O final é com “Soul Brasil”, um pouco mais rígida, mas não menos balançada.
foto: Jorge A. B. Miguel (@jorgeaugustobm) |
Com produção de Rodrigo Cunha e Rafael Diniz Seget, Soul Brasil é um discaço que merece – e muito – ser escutado e espalhado por aí.
Comentários
Postar um comentário
Seja o que você quiser ser, só não seja babaca.