Influência da literatura de Tolkien na música - parte II - Led Zeppelin

Dando continuidade no nosso papo sobre a influência de Tolkien na cultura musical, nada mais justo irmos direto ao ponto e falarmos das bandas que usaram os temas, abordagens e cenários do professor de Oxford para nutrir a nossa alma com belas canções. 

J. R. R. Tolkien era um inglês médio convencional. Um tanto conservador, sim, não há mal em admitir. Muito disso, os biógrafos delegam à sua fé católica, herdado da mãe que se foi muito jovem, mas ensinou o gosto das belas artes para o filho mais velho, bem como uma relação de dedicação com a Deus que moldou o Tolkien adulto. 
Tolkien teve uma só amor na vida, Edith, com quem se casou ainda durante a Primeira Guerra, em 1916. O casal teve 4 filhos, John, Michael, Christopher e Priscilla. 
Quando se conheceram, Edith era uma das órfãs que vivia na mesma casa que John Tolkien e o irmão  mais novo Hilary passaram a morar depois que perderam a mãe, tutelados pelo Padre Francis. Ao contrário do futuro esposo, Edith amava música e era uma talentosíssima pianista. John não se interessava tanto por música, ainda que tivesse escrito versos musicais entoados pelos seus personagens e até mesmo "baladas", que hoje, conhecemos através de seus livros publicados.
Livros estes que transformaram  milhares de leitores, tocaram suas vidas, levaram encantamentos às mais diversas pessoas. 

No fim da década de 1960, mais precisamente em 1968, surgia nos palcos londrinos, o Led Zeppelin. Composto por quatro jovens: Jimmy Page nas guitarras, Robert Plant nos vocais, John Paul Jones no baixo e teclado, e John Bonham na bateria. A banda teria toda influência do blues, folk e o rock psicodélico completamente em voga naquele período.
Nem se imaginaria na ocasião que Led Zeppelin seria uma das bandas que moldaria o gênero rock e seria uma das principais influências de 90% das bandas que o sucederam.
Led tinha várias camadas. Era quatro gênios musicais que durante sua união (12 anos) dominaram o mundo do rock e transformaram vidas por onde passaram e, até hoje, são respeitados pelas suas contribuições. Além da sonoridade, era possível percebe-los por outros sentidos, em especial pela figura de Robert Plant. Um jovem louro, de cabelos longos e encaracolados, que se apresentava com calças jeans muito justas e camisas de seda ou bordadas, comumente desabotoadas e abertas, deixando o peito despretensiosamente a mostra. Seu visual e presença encantava e enebriava a platéia: um símbolo de arte e talento, mas também de poder e sexo. 

O segundo parágrafo não casa com o terceiro de nenhuma forma. Pareceria até impossível que um tivesse ligação com o outro. Mas é esse "acaso" que dá a perfeição de certas coisas. 
Led Zeppelin precisava  de inspiração. E parte responsável pelo ritmo da banda, John Paul Jones e Bonham traziam uma base vinda do jazz. Misturando o ritmo do jazz com a profunda influência do blues de Page e Plant, a base de músicas como Good Times, Bad Times, Communication Breakdown e How Many more Times deixava a receita pronta e os dava personalidade artística ao quarteto. 
Muito antes de seus dias com o Led Zeppelin, Robert Plant estudou blues intensamente. Viajando pela Inglaterra e trabalhando com muitos dos artistas de blues de lá, ele desenvolveu um estilo único e característico. Enquanto ainda estava no colegial, Jimmy Page começou sua longa jornada de estudos profundos sobre o blues do sul dos Estados Unidos. Havia outro lado que o atraía também: a música folk. 
Immigrant Song - uma das minhas canções favoritas da banda - captura a essência dos saqueadores vikings e da mitologia nórdica de forma mágica, e os sons hipnóticos de Kashmir levou-os a um outro nível enquanto músicos. A forma mais predominante de musica folk encontrada nas músicas advém da própria cultura deles, ou seja, uma influência de suas origens –  a música celta. 
Fascinado por misticismo e magia negra, Jimmy Page tornou-se conhecido como um guitarrista sombrio e misterioso. E Robert Plant encontrou sua própria fonte de inspiração mística e folk através de um autor que escreveu uma série de histórias muitos anos antes de Robert Plant começar suas composições. O autor era J. R. R. Tolkien.

No auge da contracultura, Led Zeppelin foi um dos influenciados na composição de letras à partir da obras maravilhosas do autor inglês. Minha ligação com Led Zeppelin se deu de forma mais atenuada no começo da adolescência, pois volta dos 13/14 anos, quando tomei contato com a literatura de Tolkien. Já conhecia a banda, mas procurei ouvir melhor as outras músicas não tão populares, que calharam de mencionar alguma passagem de O Senhor dos Anéis ou O Hobbit nas letras, já que essa literatura me fascinava muito nessa idade. 

O álbum de estréia, Led Zeppelin, lançado em janeiro de 1969 apresentou a banda ao mundo. No mesmo ano, só que em outubro, veio Led Zeppelin II, já com um público atento. Nele, a conhecidíssima e sexy Whole Lotta Love abre o lado A, assim como a também ótima Heartbreaker abre o lado B. Foi com o disco dois que o flerte com Tolkien deu os primeiros sinais, com Ramble On: 



A música começa com suaves notas de baixo, tocadas por Jones e acompanhadas por Bonham, com batuques simples, feitos com as mãos, criando o tom totalmente folk,. Plant começa a cantar uma história como um bardo: 
"Leaves are falling all around 
time I was on my way!” 
(As folhas estão caindo por toda parte / É hora de pegar o meu caminho)

Esse é o começo da saga do jovem Frodo Baggins, de O Senhor dos Anéis. Frodo, o jovem hobbit,  foi incumbido da sombria tarefa de carregar o Um Anel, artefato forjado por Sauron e que contém o poder de destruir toda a Terra-Média. Durante sua jornada até Mordor, Frodo passa por Valfenda, a cidade élfica, onde o Conselho de Elrond decide o que será feito com o Anel. Frodo, o melhor amigo Sam e os demais hobbits, Pippin e Mery aproveitam a estadia, pois sabem que precisam "perambular":

“Ramble on,
 And now's the time, the time is now
 To sing my song. 
 I'm goin' 'round the world, I got to find my girl on my way
I've been this way ten years to the day ramble on
Gotta find the queen of all my dreams”
(Perambular / E agora é a hora, a hora é essa / De cantar minha canção / Estou indo dar a volta ao
mundo / Preciso encontrar minha garota, pelo meu caminho / Eu ando desta maneira a exatos dez anos perambulando / Preciso encontrar a rainha de todos os meus sonhos)

A garota não é uma mulher e sim o Anel. Através da saga de Frodo, Sam, Aragorn e os demais, o Anel é referido como uma bela senhora, e chamado frequentemente de “precioso”. Nos livros de Tolkien, os personagens cantam canções enquanto viajam até Mordor. Frodo também procura pela “senhora de todos os seus sonhos”, e isso fica claro no fim do refrão. 
Galadriel, a Rainha élfica da floresta, poderia ser essa rainha que ele procura na letra. A parte da canção que faz referência direta ao livro é:

 “T'was in the darkest depth of Mordor
 I met a girl so fair, 
 But Gollum, the evil one crept up
 And slipped away with her" 
(Foi nas profundezas mais obscuras de Mordor/ Conheci uma garota tão atraente/ Mas Gollum, o maligno se aproximou sorrateiramente/ E fugiu com ela”)

A referência direta à Mordor e Gollum indica que trata-se da história, ou saga de Frodo, mesmo que parte dela não faça sentido: ora parece que estão falando do encontro com a justa e bela Galadriel, ora é o Anel que Gollum acaba tentando roubar, mais uma vez, para si.

Frodo não estava em Mordor quando foi-lhe dado o Anel, ele o recebe de herança de seu tio, Bilbo, ainda no Condado, sem saber o que era a tal jóia mágica. Depois de andar por muitos lugares, passar por Valfenda e Moria, Frodo se apresenta com a comitiva, em Lothlórien e é neste momento que conhece Galadriel, bem antes de se separar de todos e seguir caminho para Mordor na companhia de Sam.  
É neste momento, no meio do caminho que ele e Sam toma contato com Gollum, que os perseguia desde o começo. A criatura passa a arquitetar para evitar que Frodo destrua o Anel. Com isso, promete levá-lo à Mordor por um caminho mais escondido da vigilância - porém, tão perigoso quanto. 
Nas profundezas de Mordor, ele não encontra uma "garota atraente", mas Shelob, ou Laracna, uma aranha gigante cuja a intenção é devorá-lo. Gollum afasta Frodo de Sam e lança o herói no covil da aranha para reaver o Anel para si. O plano falha, graças a Sam, que salva Frodo antes de ser devorado pelo gigante aracnídeo.
De fato, é nas Montanhas da Perdição que Gollum toma o Um Anel de Frodo, numa luta pesada, e isso é o que resume o trecho acima de quatro frases da canção.

Ramble On não foi a única a retratar o amor pelo Anel, como uma alegoria de garota que atrai atenção. No quinto álbum do quarteto, Houses of the Holy de 1973, Plant inicia Over The Hills And Far Away com:


"Hey lady, you got the love I need
 oh maybe, more than enough
 oh Darling, Darling [darling] walk a while with me 
oh you've got so much." 
(Ei senhora, você tem o amor que eu preciso / talvez mais do que o necessário / oh Querida, Querida, ande um pouco comigo / você tem tanto) 

A referência nessa canção é de outro livro de Tolkien, O Hobbit. A primeira ligação óbvia começa pelo título - “Sobre as Colinas e Além” - e relaciona a saga de Bilbo Baggins, Gandalf e treze anões  que vão para as colinas reconquistarem Erebor, onde abriga o dragão Smaug e um tesouro perdido.
O início descreve quando Bilbo encontra o Anel do poder, e novamente a “lady” é o Um Anel, na canção. Ela “tem o amor” que Bilbo necessita, ou seja, o objeto tem o poder de torná-lo invisível e escapar das cavernas. Bilbo ama o Anel e quer “andar um pouco” com ele.


"Many dreams come true
 And some have silver linings I live for my dream
 And a pocketful of gold" 
(Muitos sonhos tornam-se realidade / e alguns são forrados de prata / eu vivo pelo meu sonho/ e o bolso cheio de ouro). 

Os bolsos cheios de ouro indica a parte final da história de Bilbo que, ao partir nessa jornada, recebe uma recompensa pelos "serviços prestados", e os anões reconquistam o seu lugar o ouro perdido, não sem algum sacrifício.


Os dois versos finais da música podem aplicar-se tanto ao Hobbit quanto ao Senhor dos Anéis: 


"Mellow is the man 
Who knows what he's been missing 
Many, many men 
Can't see the open road." 
(Calmo é o homem / que sabe quando está perdido / Muitos, muitos homens / não podem ver a estrada aberta.)

 "Many is a word
That only leaves you guessing
 Guessing 'bout a thing
You really ought to know
You really ought to know"
(Muito é a palavra / que só te deixa pensando / Pensando sobre algo / que você realmente precisa saber / Que você realmente precisa saber). 

No primeiro trecho, a referência é a passagem de Bilbo e Gollum jogando o “Jogo de Adivinhas”, uma parte muito interessante do livro. Para escapar ileso, a última "adivinha" que Bilbo faz é "O que eu tenho no bolso?" e Gollum falha nas respostas que dá. Bilbo já tinha encontrado o Um Anel antes  do encontro com a criatura e guardado no bolso. Percebendo a derrota, Gollum procura o Anel para desaparecer e capturar de vez Bilbo. É neste momento que ele percebe que perdera seu "precioso".

A outra referência faz alusão à Sociedade do Anel, quando o grupo que partiu de Valfenda para proteger Frodo precisa passar pelo Portão de Moria. Para entrar na fortaleza dos anões eles precisam resolver um enigma no portal. Essa também pode ser a questão nos trechos "guessing about the thing".

Over the Hills and Far Away é uma música com início acústico, mas é apenas um  dos aspectos místicos, por assim dizer, do álbum. No Quarter  trata da mitologia nórdica e The Song Remains the Same aborda o fato de que onde quer que haja folclore, “a canção lembra o mesmo”.

Como grande parte do Houses of the Holy, o quarto álbum da banda, cujo título oficial nunca foi definido, apresenta 4 runas e é chamado de Led Zeppelin IV,  mas também de "Sem título" ou "Zoso. Ainda assim é um disco muito bom e é a maior compilação de músicas folk dos 12 anos em que a banda esteve junta. É deste álbum lançado em 1971 que encontraremos as músicas mais usualmente associadas à Tolkien.

Misty Mountain Hop é uma espécie de alegoria. Ela fala do primeiro capítulo de O Hobbit, Uma festa inesperada, e a primeira experiência de um jovem com drogas. Se o título da canção Misty Mountain Hop  (algo como “Salto da Montanhas Nebulosa”) não prova que há uma conexão, explico:

Misty Mountains, ou as Montanhas Nebulosas são freqüentemente mencionadas nas histórias de Tolkien, como uma cadeia de montanhas que corta o continente da Terra-Média. A letra requer uma análise, mas vamos refrescar a memória com a canção, primeiramente:



"Lots of people sitting in the grass with flowers in their hair" 
(Um bando de gente sentado na grama com flores no cabelo) 

Se refere aos anões em O Hobbit, mas em sentido alegórico, indica como o primeiro encontro de um jovem com os hippies.


"Hey boy, d'you wanna score?"
(Ei garoto, tá a fim de descolar uma?)

Como uma pergunta dos hippies, "descolar uma", refere-se ao consumo de alucinógenos. Mas, ou indiretamente, encaixaria na história tolkieniana com Gandalf perguntando à Bilbo se ele gostaria de se juntar aos anões na jornada e “descolar” ouro, fama e aventura.
Quando todos anões chegam à casa de Bilbo, eles decidem passar a noite lá, ficam até tarde, bebendo e comendo e Bilbo “não sabia que horas eram”. A parte mencionada pode se referir à manhã em que Gandalf encontra Bilbo, com tudo pela casa, absolutamente desorganizado. Bilbo pede à Gandalf para “ficar para o chá e se divertir”.


"Just then a police man stepped up to me"
(Exatamente quando um policial se aproximou de mim)

O policial pode ser Gandalf quando pede aos anões para serem amigáveis e aceitarem a hospitalidade  do ainda relutante Bilbo, que está um tanto incomodado com toda aquela "invasão" em sua casa.


"Just then a policeman stepped up to me and asked us said
Please, hey, would we care to all get in line, get in line"
(Exatamente quando um policial se aproximou de mim E nos pediu dizendo: / "Por favor, queremos que tudo permaneça em ordem")


"Well, you know, they asked us to stay for tea and have some fun, woh-oh-oh
He said that his friends would all drop by
Why don't you take a good look at yourself and describe what you see"
(Bem você sabe, eles pediram para que ficássemos para o chá e para se divertir um pouco mais, Oh /
Ele disse que seus amigos iriam dar um pulo até lá / Por que você não dá uma boa olhada em si mesmo? E descreve o que você vê)

Gandalf diz que seus amigos, os anões, estão por perto, mas Bilbo "realmente não se importa se eles estão vindo". Gandalf ordena Bilbo a "olhar para si mesmo e descrever o que vê" para persuadi-lo a juntar-se na busca dos treze anões.
Bilbo vive no Bolsão, no Condado, "como um livro numa estante" ("There you sit, sitting spare like a book on a shelf / rusting..."). Como não se importa com quem vive aos arredores dele, não tem nenhum familiar muito próximo, ele arruma as malas e decide partir com o Mago e os anões.

A outra canção lida com um lado mais sério das obras de Tolkien: a guerra.

The Battle of Evermore assimila aspectos da Batalha dos Campos de Pellenor logo no fim de O Senhor dos Anéis, na terceira parte, O Retorno do Rei. Há também uma referência histórica à guerra escocesa. Ao redor de uma fogueira, Page pegou o mandolim de Jones e começou a tocá-lo. Tomando a paixão de Plant por Tolkien, compuseram a canção, cuja letra diz:


"The Queen of Light took her bow
 And then she turned to go,
The Prince of Peace embraced the gloom
 And walked the night alone"
 (A Rainha da Luz fez sua reverência / E em seguida virou-se para ir / O Príncipe da Paz abraçou a melancolia / E caminhou sozinho á noite)

A Rainha da Luz é Eowyn, que deu adeus a Aragorn e foi juntar-se ao exército de Rohan. O Príncipe da Paz é o próprio Aragorn, quando ele abraça a melancolia na Senda dos Mortos e convoca os "fantasmas" para lutar a favor dele nas mediações da Cidade Branca em Gondor onde o exército aliado de Rohan está combatendo os orcs de Sauron.


 "Oh, dance in the dark of night,  
Sing to the morning light.
The dark Lord rides in force tonight
 And time will tell us all". 
(Oh, dance na escuridão da noite / Cante à luz matutina / O Senhor do Escuro cavalga com força total esta noite / E o tempo nos contará tudo)



Nesse trecho, tanto Sauron quanto o líder dos Nazgûl, o Rei Bruxo podem ser o Senhor do Escuro mencionado. "O tempo nos contará tudo" é uma reflexão de como a jornada demandou tanto tempo e que o fim é permanece incerto. 


"Oh, throw down your plow and hoe,  
Rest not to lock your homes. 
Side by side we wait the might
Of the darkest of them all." 
(Oh, jogue ao chão seu arado e enxada /Não descuidem, tranquem suas casas /Lado a lado nós esperamos a força / Do mais obscuro de todos). 

No começo do cerco de Gondor, os homens do campo fogem para a Torre para proteger-se. Então os cidadãos não soldados esperam pela investida de Mordor chegar com medo. 


"I hear the horses' thunder  
Down in the valley below,  
I'm waiting for the angels of Avalon,  
Waiting for the eastern glow." 
(Eu ouço o troar dos cavalos / No vale abaixo / Estou esperando pelos anjos de Avalon / Esperando pelo brilho oriental.) 

O "trovão dos cavalos" referem-se aos Cavaleiros de Rohan. A menção à Avalon (que não faz parte da mitologia de Tolkien, embora, lendas arturianas fossem uma paixão do ator inglês, que academicamente, traduziu alguns destes escritos do inglês antigo) indica a referência aos britânicos. E as menções dos trecho seguintes à música, referem-se às famosas maçãs do vale ("The apples of the valley hold / The seeds of happiness").


 "Oh the war is common cry, 
Pick up you swords and fly. 
The sky is filled with good and bad
That mortals never know." 
(Oh a guerra é um grito comum / Apanhe suas espadas e voe /O céu está tomado pelo bem e o mal /Que os mortais desconhecem.)

Os Espectros do Anel (são nove, ao todo) estão sobrevoando em bestas em Gondor. A identidade destes "ex reis homens" é desconhecida. 


"Oh, well, the night is long
The beads of time pass slow, 
Tired eyes on the sunrise, 
Waiting for the eastern glow" 
(Oh bem, a noite é longa / As areias do tempo passam lentamente / Olhos cansados cravados no amanhecer / Esperando pelo brilho oriental”) 

Essa descrição é simples: os homens enquanto se protegiam e lutavam, esperavam por muito tempo a escuridão de Mordor passar. Esse brilho oriental está ligado ao mago Gandalf chegando como reforço. Ele e os Cavaleiros de Rohan vinham do oeste ao amanhecer para mudar a maré da batalha. 


"The pain of war cannot exceed 
The woe of aftermath, 
The drums will shake the castle wall, 
the Ringwraiths ride in black, 
Ride on" 
(A dor da guerra não pode exceder / A aflição da seqüela / Os tambores irão sacudir as muralhas do castelo /Os espectros do anel cavalgam de preto / Seguem cavalgando) 

Essa parte da música é bem semelhante à Ramble On e Misty Mountain Hop onde os termos diretos a Tolkien são usados. Os Espectros do Anel são mencionados, conectando um pouco mais de horror e tensão à letra.


"Sing as you raise your bow, 
Shoot straighter than before.
No comfort has the fire at night 
That lights the face so cold" 
(Cante enquanto levanta o teu arco / Atire com mais precisão Nenhum alívio tem o fogo à noite / Que ilumina a face tão gélida)

Eis uma parte desanimadora que remete aos aspectos mentais dos horrores de uma guerra. Aragorn, o outro herói da narrativa prepara os exércitos dos homens e elfos para a batalha final, lhes dizendo que eles não devem demonstrar misericórdia contra o inimigo, pois não receberão nenhuma do exército aliado à Sauron. 


"Oh dance in the dark of night,
Sing to the mornin' light. 
The magic runes are writ in gold
To bring the balance back. Bring it back" 
(Oh dance na escuridão da noite / Cante à luz matutina / As runas mágicas estão escritas em ouro / Para trazer o equilíbrio de volta / Trazê-lo de volta). 

Aqui, há o seguinte: o Anel que está com Frodo possui escritas mágicas, em élfico, o que na letra é indicada como "runas escritas em ouro". Quando o Anel cai no lava de fogo na Montanha da Perdição, onde foi forjado por Sauron, ele é destruído e o equilíbrio de poder no mundo é restaurado. 


"At last the sun is shining, 
The clouds of blue roll by, 
With flames from the dragon of darkness
The sunlight blinds his eyes" 
(Finalmente o sol está brilhando  As nuvens azuis passam rolando / Com as chamas do dragão das trevas / A luz do sol cega os seus olhos). 

As duas primeiras linhas falam sobre como tudo parece quando a batalha final batalha é vencida:  o céu fica limpo novamente, enquanto a escuridão de Mordor desaparece. As frases seguintes  são metáforas: quando o Anel é destruído, a Montanha da Perdição começa a ruir, espalhando o fogo de seu interior, pode ser a referência de "chamas do dragão das trevas". Com o recuo do exército de Sauron o céu clareia e o sol "nasce novamente", cegando-os como uma representação da derrota do sombrio e a vitória da luz pacífica.

Ouçam e leiam as letras. Além de ser grandes peças musicais (assim como os discos da banda de uma forma geral) podem encontrar outras referências que podem ter passado batido aqui no texto (que convenhamos, já está bem grande, quase um dissertação rsrsrsrs...)

Conta-se que as conexões da banda com Tolkien vão muito mais a fundo do que simplesmente nas letras. Por exemplo, um cachorro de Robert Plant se chamava Strider - Passolargo - um dos nomes pelas quais Aragorn é conhecido pela Terra-Média. 
Um tema comum dos livros é a batalha entre a natureza e a sociedade. Tolkien era um defensor ambiental antes de isso ser mainstream, acreditem. E a capa do Led Zeppelin IV apresenta um muro com um quadro de um homem carregando fardos nas costas, simbolizando uma vida campestre e simples, conectada à natureza. Page certa vez comentou sobre a arte da capa, seria um homem pegando da natureza e devolvendo à ela, num ciclo natural. O quadro pendurado na parede, foi inspirado numa pintura a óleo que Jimmy comprou num antiquário da cidade de Reading, na Inglaterra e evoca a ideia de necessidade das pessoas plantarem e cuidarem melhor do planeta Terra, ao invés usufruir de seus recursos em excesso e, com isso, destruí-lo.

Além disso, para quem possui o álbum pode conferir a figura dentro do álbum. É o desenho de um homem velho com um cajado e uma luminária, parado em cima de um morro enquanto observa a pequena vila abaixo. 




Logo vem à mente que esta seja uma representação de Gandalf, o Cinzento. Mas pode ser apenas uma ideia. 
O aspecto geral do álbum, com canções como Going to Califórnia, Four Sticks, as duas canções já mencionadas inspiradas em Tolkien, The Battle of Evermore e Misty Mountain Hop, e claro, Stairway to Heaven, dá ao álbum características de misticismo e fantasia identitários. Não só as canções e álbuns do Led Zeppelin são as únicas peças que possuem uma conexão direta com Tolkien ou com o mundo da fantasia e mitologia com as quais o autor sempre foi encantado.

Como já dito no começo do texto, o impacto do Led Zeppelin no mundo da música é enorme. Suas músicas continuam extremamente populares hoje em dia, mesmo tendo surgido a mais de trinta anos atrás. Muitas bandas tomaram Led Zeppelin como influência, como exemplo, tiveram as suas músicas reproduzindo como covers ou realmente, tomaram a banda como uma direta e clara referência para serem músicos, como é o caso do Greta Van Fleet (que muito boa, por sinal). 
E Tolkien, depois de sua primeira publicação em 1937, com a primeira edição de O Hobbit, ganhou o mundo da literatura. Influenciou Neil Gaiman, J. K. Rowling e George R. R. Martn entre outros tantos. 
Parecia improvável, mas a combinação da banda mais o autor foi incrivelmente perfeita e estamos perfeitamente gratos por essa "mistura" ter dado tão certo!

Nos próximos, o Musique-se apresentará outras bandas que tiveram em Tolkien rompantes de inspiração em suas músicas!

Abraços afáveis!

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