Rock In Rio 35 anos - Scorpions: pauleira em uma noite de verão

No dia 15 de janeiro em 1985, o Rock in Rio conheceu aquela que seria a sua primeira “noite do metal”.
A nomenclatura, que mais parece título de baile escolar de filme americano, não tinha muita razão de ser.
Nas noites anteriores já havia se apresentado expoentes do rock “pauleira” como o Iron Maiden, Whitesnake, mas com Scorpions e AC/DC na sequência, a afluência de camisas pretas, pulseiras com tachinhas, sinais de chifres com os dedos aumentou.
Não estavam tão agressivos quanto na noite de abertura.

Ninguém foi “expulso” do palco como tinha acontecido com Erasmo, e olha que estavam escalados os doces Kid Abelha e os Aboboras Selvagens e o inclassificável Eduardo Dusek.
A banda de Paula Toller tinha um único disco, Seu Espião, de 1984 e foram bem mal recebidos.
Copos plásticos cheios de areia foram jogados na banda e nos técnicos que tentavam passar o som na ridícula meia hora que tiveram.
Para piorar, segundo a própria Paula, tinham que sair do palco afirmando que tudo tinha sido ótimo.
Eduardo Dusek pareceu se incomodar menos, mas barraqueou mais.
Soltava de vez em quando frases como: “Quem joga coisas no palco tem que ser linchado” ou a melhor: “Quem joga areia no palco é Malufista.” Em alusão ao candidato derrotado no colégio eleitoral na corrida para a primeira presidência civil da república em vinte anos.
Depois o Barão Vermelho entrou no palco e com seu rock direto com solos de guitarra encharcados de blues de Frejat, ganhou o respeito dos “metaleiros.
Um parêntese: a imprensa apelidou os camisas pretas de “partido dos trabalhadores” por serem poucos, mas barulhentos. Fim do parêntese.
Cazuza pintou e bordou com frases do tipo: “Nos heavy metals: Zé Luiz”, ao apresentar o saxofonista convidado.
Também saudou a chegada da democracia no começo do show com seu sotaque carioca carregado.
Tudo isso pode ser ouvido no disco lançado anos depois com o show quase completo.
Mas a noite era mesmo do AC/DC e do objeto deste texto: Os Scorpions.

Os Alemães vinham rodando o mundo com sua turnê de divulgação de Love At The First Sting (1984).
Um tour longa como pode ser ver no encarte do disco ao vivo lançado em 1985 que contém quase o mesmo show que aportou no Rio.
A fúria apresentada no palco contrastava diretamente com a simpatia dos integrantes que chegaram a cantar “Cidade Maravilhosa” junto com os repórteres na coletiva de imprensa.
Passearam pelo Rio, fizeram compras e gritaram “Viva Trancrido!” durante o show.
Aliás, assim como Bruce Dickinson, Rudolph Schenker também se acidentou com a guitarra no palco abrindo o supercílio, região bem sensível e que sangra bastante quando afetada.
Esgotados devido a intensidade do show e o forte calor, o vocalista Klaus Maine por pouco não sai carregado do palco.

Depois do festival, voltaram para a Europa onde lançaram o disco ao vivo World Wide Live (1985) contendo enxertos da turnê.
Em 1990 lançam Crazy World, puxado pela balada “Wind of Change” associada à queda do muro de Berlin.
O disco é um sucesso monstruoso (inclusive no Brasil), mas marcou o fim do período realmente relevante da banda.
Entre discos acústicos ou com participação de sinfônica, a banda se manteve na ativa, mas mais como peça nostálgica do que realmente relevante para a música, que convenhamos, agora já não era tão pesada. Apesar de ser executada de forma magnifica.
Os Scorpions voltaram ao palco do Rock in Rio na última edição (2019) e fizeram questão de tocar com a mesma guitarra estilizada com que havia presenteado Roberto Medina lá em 1985.
foto: O Globo

O show, como sempre, memorável, teve todos os hits, energia e simpatia que são marca dos alemães em cima do palco.
Só não deu para notar nos closes da TV se - assim como Francis Buchholz em 1985 – o baixista Pawel Maciwoda tocou “Still Loving You” com as cordas soltas.

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