Black Sabbath: cinquenta anos da primeira aparição e ainda assusta

Apropriadamente era uma sexta feira quando o disco foi lançado...
E uma sexta feira 13!
A imagem sinistra de uma casa aparentemente abandonada e uma mulher parada de forma enigmática à sua frente poderia ser o cartaz de um filme de terror daqueles que fizeram Toni Iommi e Geezer Butler se questionarem pelo fato de tanta gente pagar para tomar sustos no cinema: “-Se fazem isso com os filmes, será que não fariam com música? Discos? Shows?” –
E aquela imagem era a capa do disco que ajudaria a responder essas questões.
Gravado quase ao vivo, o disco amplifica e distorce o blues de forma quase maníaca.
O peso impresso nas gravações é quase insuportável e o clima sombrio das canções, se não é algo inédito na música, é elevado a enésima potência.

Quando a agulha baixa ao disco e sons de trovão e chuva são ouvidos até a luz ambiente muda... Uma figura negra persegue o personagem da letra da canção título que abre o disco: “Black Sabbath” surge como uma aparição assombrada e assombrosa.
O riff da canção é um trítono – intervalo entre alturas de duas notas musicais que possua exatamente três tons inteiros - também conhecido como “diabolous in musica” e que foi banido pela igreja durante a idade média, chega a ser angustiante.
A voz de Ozzy Osbourne gritando: “Oh no, no, please God help me!”  é o requinte de crueldade que faz com que você procure o interruptor e acenda qualquer luz que esteja apagada à sua volta.
Essa é a abertura de disco e cartão de visitas de uma banda mais perfeita que se pode querer.

E o que vem depois?
“The Wizard” abre com uma gaita medonha que anuncia a chegada do mago que nunca fala, só caminha espalhando sua magia.
O peso é mastodôntico e a sensação é de estar encurralado à sua passagem.
A maravilhosa “Behind the Wall of Sleep” e seu solo de baixo já perto do fim abre espaço e cria o clima para que “N.I.B”, canção pesada e sombria que muitos disseram tratar-se de “nativy in black” o significado de seu nome, mas a verdade é algo tão simples quanto genial: NIB era um dos apelidos dados pela banda ao baterista Bill Ward que tinha uma barba que lembrava a ponta de uma caneta de pena (pen nib em inglês).
A letra é sinistra e o verso:” Look into my eyes, you'll see who I am/ My name is Lucifer, please, take my hand” não deixa dúvidas de quem a banda está falando.
Só que isso foi benção e desgraça.
Ao mesmo tempo que criou uma identidade diferenciada, atraiu todo o tipo de maluco satanista possível ao longo da estrada.
Ozzy chegou a reclamar que nos shows do Depp Purple, do Led Zeppelin e outros, as primeiras filas tinhas muitas meninas bonitas, enquanto no deles, uns caras esquisitos vestidos de preto aparentando entrar em transe.

“Evil Woman” é um cover da banda Crow, mas tem tantas características do som do Sabbath que sem ler o selo do disco, ninguém diria que não é um original Iommi/Buttler.
Mesmo caso de "Warning", original de Aynsley Dunbar Retaliation que tem dez minutos de peso monolítico.

Hoje completa-se cinquenta anos do lançamento deste que pode ser considerado a pedra fundamental do heavy metal e ele continua tão atual, tão pesado, tão sinistro e relevante quanto nos dias de seu lançamento.

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