O homem de preto

“Hello, I´m Johnny Cash…”
Assim se apresentou - como se fosse necessário - a maior expressão do country quando subiu ao palco para dar início ao show na prisão de Folson, California.
Johnny Cash, que em sua vida já havia conhecido as agruras de estar preso ainda que apenas por uma noite, sempre cantou sobre o lado torto ou decadente da vida.
Mulheres, bebidas, drogas, vida errante... Tudo isso já fazia parte do cancioneiro de Cash e ele não julgava, apenas fazia crônica de forma verdadeira e por vezes brutal.
“But I shot a man in Reno/Just to watch him die…” cantava em “Folson Prision Blues”, canção que abre o disco gravado no tal show na prisão ,e a audiência composta por presos de alta periculosidade (Folson era uma prisão de segurança máxima) se reconheceu e urrou.

Antes de subir ao palco, o diretor da prisão pediu que Cash não cantasse nada que pudesse agitar os detentos.
Cash sorriu e enfileirou canções como “Still Miss Someone”, sobre a carência afetiva dos encarcerados, opressão do sistema carcerário (“The Wall”), pena de morte (“25 Minutes to Go”), e drogas (“Cocaine Blues”).
Naquela noite, se Cash quisesse, teria liderado uma rebelião.

Durante muito tempo, Cash se vestiu apenas de preto e dizia que era para se solidarizar com o homem comum, com o homem que passava necessidades, os excluídos do “sonho americano”.
Gravou uma canção sobre o tema que acabou lhe servindo de alcunha.
Fez dezenas de discos, apresentou um show de TV, viajou o país todo levando sua música, denunciando injustiças do sistema carcerário americano e sobre essa última afirmação, uma história bacana.
Na noite anterior ao show em Folson, Cash recebeu pelas mãos de um reverendo que servia em Folson e era grande amigo de Johnny uma canção escrita por um dos detentos.
 Preso por assalto a mão armada, Glen Sherley estava na primeira fila do show e antes de cantar “Greystone Chapel”, Johnny estendeu a mão e o cumprimentou.
A faixa encerrou as duas apresentações feitas naquele dia, uma pela manhã, outra a tarde.
Um tempo depois, Jonnhy pediu pela liberdade de Glen e o levou em sua turnê... Infelizmente, Glen se suicidou em 1978 por não conseguir se recolocar na sociedade.

Ainda sobre Folson, a famosa foto de Cash irado mostrando o dedo do meio para a câmera feita por Jim Mashall retrata o exato momento em que Johnny se refere ao diretor da prisão após dizer que aquele presidio tinha a agua mais “suja e amarela” que ele jamais havia visto um homem beber e emendar uma versão quase raivosa de “Cocaine Blues”.

Por essas e outras, amamos Johnny Cash e o reverenciamos neste dia em que faria 88 anos.

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